O câmbio seguiu pressionado, com a cotação perto de R$ 5,47 na máxima desta quinta-feira, 20, pós-Copom, e não encontrou forças para estender a recuperação além dos 120 mil pontos, mesmo com a decisão unânime do Comitê de Política Monetária pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano, sem dissidência da reunião anterior.
A retomada das críticas do presidente Lula ao nível dos juros não saiu do roteiro esperado depois que os quatro diretores indicados pelo governo se alinharam, na noite de quarta-feira, à ala majoritária do Copom, dos cinco mais antigos.
Nem a ventilação de um novo nome “maduro” e “endurecido” para substituir Roberto Campos Neto no comando do BC em 2025, como o do economista André Lara Resende – que agradaria à ala petista desde que começou a abraçar ideias inovadoras, menos fiscalistas, num debate público que o separou de parte do grupo Real original – é uma surpresa.
Assim, com a expectativa de juros altos por mais tempo no Brasil, e dúvidas sobre a condução da política fiscal em um ambiente de Selic ainda elevada e expectativas de inflação desancoradas, o Ibovespa mais uma vez mostrou hesitação, escorregando para o campo negativo no nível mais baixo nível. do dia, em 120.156,30 pontos, tendo avançado moderadamente nos dois dias anteriores.
Ao final, apresentou leve ganho de 0,15%, a 120.445,91 pontos, conseguindo testar a marca de 121 mil na máxima desta quinta, em 121.606,64 – patamar que não era visto intradiário desde quarta-feira, 12. O faturamento desta quinta foi de R$ 21,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa subiu 0,65%, ainda perdendo 1,35% no mês e 10,24% no ano.
“A decisão de ontem do Copom foi muito importante para o mercado. A decisão foi boa, conservadora e unânime, o que ajuda o BC a recuperar um pouco de sua credibilidade, após a dissidência na reunião de maio”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “A desancoragem das expectativas de inflação justifica a manutenção da Selic. Hoje, os vértices mais curtos da curva doméstica cederam, enquanto os mais longos não, refletindo a retomada dos negócios com os Treasuries em Nova York após o feriado lá, ontem”, acrescenta o analista.
No Brasil, observa Spiess, “o ruído fiscal é um dos aspectos fundamentais para enfrentar esta desancoragem” das expectativas de inflação, que resulta em prémios na curva de juros interna, especialmente nos picos mais longos. “A decisão de ontem ajuda a evitar o agravamento, mas temos que ver a reação do governo e acompanhar quem será o sucessor de Campos Neto no BC – o que será uma batalha”.
Em entrevista a uma rádio cearense, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que o Banco Central, ao manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, optou por “investir no sistema financeiro”. “Quem está perdendo é o Brasil, é o povo brasileiro”, acrescentou. Lula associou o atual nível dos juros à redução dos investimentos internos e defendeu os “gastos necessários” com saúde, educação e salário mínimo como políticas para o atual mandato.
“A decisão unânime do Copom é positiva – mostrou independência das ‘vontades do poder’ -, mas declarações do presidente Lula ainda levantam cautela”, limitando a recuperação do Ibovespa nesta quinta, observa Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos . Neste contexto, “o mercado continua muito atento aos movimentos do governo e às suas ações”, acrescenta.
Assim, mesmo com os ativos “esmagados” pela saída de recursos externos da B3 (BVMF:) desde o início do ano – até o dia 18, terça-feira, essa conta atingiu R$ 43,287 bilhões -, a perspectiva de recuperação sustentada para Os preços das ações permanecem nebulosos, mesmo com um cenário externo ligeiramente mais favorável, uma vez que a Reserva Federal manteve a porta aberta para um ou dois cortes nas taxas de juro dos EUA ainda este ano.
“A relação Preço/Lucro do Ibovespa está em 7 vezes. Os múltiplos são baixos, mas não se comparam ao auge da aversão ao risco do governo Dilma, quando estavam em 6 vezes. hoje está mais favorável, a começar pelo balanço de pagamentos. Mas temos que torcer para que o Haddad consiga convencer seu chefe, o presidente Lula, de que o ajuste é necessário”, afirma Cesar Mikail, gerente de renda variável da Western Asset.
“Todo governo começa fazendo o ajuste fiscal ‘ruim’ para depois distribuir o ‘bom’. E o ajuste ainda não veio: quando de fato vier alguma indicação de corte de gastos, poderá ser o início de uma melhoria para o Brasil. Devolução patrimonial da MP do PIS/Cofins pelo Senado, a pressão que se viu do lado das empresas, deixa claro que não dá para fazer mais do lado da receita, é preciso cortar”, acrescenta o gestor. , observando que, sem ajuste, a ponta do lado longo da curva de taxas de juros continuará a incorporar mais prêmio e a taxa de câmbio continuará sob pressão.
“O investidor estrangeiro faz as contas e se pergunta: por que comprar o Brasil se não há uma boa história, e se os juros continuam altos lá fora também, com os ‘títulos’ de crédito privado pagando 7%, 8% ao ano. os juros ainda estão altos, mas o mercado de ações bate recordes”, diz Mikail.
Em Nova York, após o feriado de quarta-feira, os rendimentos do Tesouro avançaram com a retomada dos negócios, e os índices de ações – com exceção do , que subiu 0,77% no fechamento – se estabilizaram após sucessivas renovações de máximos históricos para (nesta quinta-feira – 0,25%) e (-0,79%).
Na B3, o dia foi negativo para ações cíclicas e empresas sensíveis a juros, como varejo (Magazine Luiza (BVMF:) -3,70%) e construção (MRV (BVMF:) -4,23%, na ponta perdedora do Ibovespa em sessão), após o Copom sinalizar interrupção ou mesmo, na opinião de alguns observadores, fim do ciclo de corte da Selic. Além de MRV e Magazine Luiza, os destaques são Azul (BVMF:) (-4,09%), Embraer (BVMF:) (-2,31%) e Hypera (BVMF:) (-2,11%). No lado oposto, PetroReconcavo (BVMF:) (+4,85%), Usiminas (BVMF:) (+3,68%), São Martinho (BVMF:) (+3,53%) e CCR (BVMF:) (+2,49%).
Entre as ações com maior peso no índice, o desempenho refletiu a composição entre os ganhos das grandes ações de commodities – Petrobras (BVMF:) (ON +2,02%, PN +1,59%) e Vale (BVMF:) (ON +0,90%) – e perdas, ainda que moderadas, para as maiores instituições financeiras, com exceção do Banco do Brasil (BVMF:) (ON +0,46%) e Bradesco (BVMF:) ON (+0,27%).
“A declaração do BC não alterou o equilíbrio de riscos e apresentou um cenário alternativo, com a taxa de juros mantida no patamar atual para o horizonte relevante da política monetária e inflação próxima da meta em 2025. Mesmo assim, não houve sinais de que poderíamos vemos um movimento de alta, que não corrobora o mercado de DI embutido – e que pode desencadear redução do prêmio e alívio na curva”, observou a Guide Investimentos esta manhã, em nota.
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