A G4 Educação, que oferece cursos para empreendedores, anunciou na noite deste sábado, 21, que o executivo Tallis Gomes renunciou aos cargos de CEO e presidente do conselho da empresa. Ele foi um dos fundadores do G4. O anúncio surge após a repercussão negativa nos últimos dias, no mundo empresarial, de um discurso machista de Gomes, nas suas redes sociais.
O G4 também anunciou que uma mulher assumirá o cargo de CEO. O cargo será ocupado por Maria Isabel Antonini, sócia e atual diretora financeira da empresa.
“A G4 reafirma seu compromisso com a educação executiva impactante, na qual a liderança feminina sempre esteve presente com destaque”, diz o comunicado da empresa. O G4 informou ainda que Antonini tem mais de 20 anos de experiência em liderança e gestão empresarial e que é ex-CEO da Singu, empresa também fundada por Gomes.
Gomes também publicou sua demissão em sua conta no Instagram e disse ter ouvido com atenção os comentários e críticas recebidos nos últimos dias. “A empresa é maior que qualquer um de nós e continuará na sua grande missão de ajudar a criar empregos no nosso país através do empreendedorismo”, escreveu Gomes. “Muito obrigado por todo apoio que recebi e também pelas críticas. Só cheguei onde estou por causa dos erros que cometi na vida, com os quais aprendi. Esse será mais um desses aprendizados”, ele disse.
Ele também escreveu que se expressou de “maneira inaceitável sobre o papel das mulheres”. “Injustificável”, disse ele no sábado à noite.
Expulsão de Hope
Anteriormente, a marca de moda feminina Hope anunciou que havia decidido expulsá-lo do conselho consultivo da empresa. A decisão ocorreu após a herdeira e sócia-diretora da empresa, Sandra Chayo, sair em defesa do empresário em suas redes sociais, o que gerou repercussão negativa. “Acreditamos que este é um momento em que ele precisa refletir sobre a importância das lideranças femininas e como essa evolução traz ganhos e benefícios para toda a sociedade, que não irá retroceder”, disse Chayo no novo posicionamento deste sábado.
Discurso sexista
O comentário publicado no Instagram por Gomes, em que diz “Deus me salve de uma mulher CEO”, provocou uma série de publicações nas redes sociais, especialmente no LinkedIn, feitas por executivos que criticaram o discurso e reforçaram o orgulho de serem mulheres líderes .
Após a primeira postagem, quando o tema repercutiu em grupos de WhatsApp que incluem advogadas e mulheres do setor empresarial, Gomes fez uma nova postagem, na qual se desculpou pelo “erro” e disse ter “infelizmente em dizer que tipo de mulher Eu gostaria para minha vida.” Antes da retratação, ele também recebeu comentários nas redes sociais de ex-alunos do G4 que diziam se arrepender de ter pago pelos cursos da empresa.
As críticas a Gomes nos últimos dias têm sido feitas por nomes como a presidente do Banco do Brasil (BVMF), Tarciana Medeiros, a empresária Luiza Helena Trajano, do Magalu, Gabriela Onofre, do grupo Publicis, a influenciadora Nathália Rodrigues, do Nath canal Finance, Carol Paiffer, do grupo Atom, entre outras mulheres que lideram grandes empresas.
Na quarta-feira, 18, ao responder perguntas de seguidores nas redes sociais, Gomes disse que as mulheres que são CEOs de empresas não fazem “melhor uso da energia feminina”. Ele havia escrito que “salvo raras exceções, esta mulher (CEO) passará por um processo de masculinização que colocará minha casa em quarto plano, eu em terceiro plano e meus filhos em segundo plano”. Ele também disse que cargos como o dele exigem que o CEO seja “estúpido demais para suportar” e que “o mundo começou a desmoronar exatamente quando o movimento feminista começou a forçar as mulheres a desempenharem o papel de homem” e que as mulheres devem usar “ energia feminina nos lugares certos, no lar e na família.”
No dia seguinte, quando o tema já repercutia negativamente, ele disse: “Em nenhum momento do meu texto quis questionar a capacidade de uma mulher ser CEO, disse única e exclusivamente, com as palavras erradas e com as palavras erradas. tom, que eu gostaria do meu lado como minha esposa”, disse ele, na retratação. Ele continua, na publicação após a repercussão: “Minhas palavras não representam o que a G4 é como empresa. Temos orgulho de merecer a confiança de tantas mulheres executivas de sucesso. O lugar das mulheres é onde elas quiserem estar.”
A retração, porém, não foi suficiente para conter a repercussão negativa.
Comentários
A presidente do conselho de administração do Magazine Luiza (BVMF:), Luiza Helena Trajano, se posicionou nas redes ao cobrar uma parceria feita recentemente entre Magalu e G4. Luiza explicou na publicação que o relacionamento com a empresa de Gomes era “pontual” para um evento, e não um contrato de longo prazo. “Não concordo em nada com a posição de um dos sócios da empresa em relação às mulheres”, escreveu ela na publicação. “Criei três filhos trabalhando muito, inclusive como CEO do Magalu. Sabia cuidar deles e dos idosos da família”, completa.
Presidente de Grupo Publicis (EPA:) no Brasil, Gabriela Onofre usou o Linkedin para destacar o papel das mulheres que lideram negócios. A executiva disse que comemorou não ser a única mulher no mercado, mas uma entre várias gestoras que ocupam o mais alto nível das empresas. “Sou CEO. Sou Mulher. Sou Mãe. Sou Esposa. Gero milhões em Ebitda. E que felicidade saber que sou apenas uma entre milhares”, publicou no Facebook. a plataforma.
A advogada tributária Glaucia Lauletta, sócia do escritório Mattos Filho, publicou em sua rede social que a ausência de mulheres em cargos de liderança se deve principalmente ao “reforço de estereótipos equivocados e à disseminação de crenças limitantes”. “Tudo isso alimenta o inconsciente e o consciente coletivo, que ainda tende a reduzir a mulher a um único papel, geralmente de subserviência. Negar às mulheres a simetria de oportunidades é injusto, vergonhoso e indigno. este O mundo falho em que vivemos é predominantemente ocupado por um único padrão. A diversidade, em todos os seus aspectos, é a única forma de corrigir o que foi feito. A indignação é muito pequena.
Quem é Tallis Gomes?
Tallis Gomes ganhou destaque no mundo dos negócios em 2011. Aos 25 anos, quando o transporte por aplicativos era uma novidade no país, criou o Easy Taxi. Em 2016, criou a plataforma Singu, definida como o “Uber (NYSE:) da beleza”, oferecendo serviços de cabeleireiro, depilação e manicure em domicílio.
A Easy Taxi se fundiu com o aplicativo de transporte espanhol Cabify, que posteriormente fechou suas portas no Brasil. Singu recebeu investimento da Natura (BVMF:). Gomes até apareceu na lista Under 30 da Forbes. Gomes se autodenomina um “especialista em gestão”. Ao lado de outros nomes da área, fundou em 2019 a G4, escola de negócios que diz oferecer mentoria em vendas, gestão, marketing e inteligência artificial para empreendedores, fundadores, gestores.
Esta não é a primeira vez que suas declarações repercutem. Este ano, em podcast, ele já afirmou que não contrata “esquerdistas” e que seus funcionários trabalham “80 horas semanais”.
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