Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) – Os cerca de 25 bilhões de reais necessários para concluir a construção da usina nuclear Angra 3 poderiam ser financiados por um “pool” de agentes, incluindo bancos públicos nacionais, uma agência de desenvolvimento internacional e outras opções, como debêntures incentivadas. , disseram à Reuters o presidente da Eletronuclear e outras pessoas que acompanham o processo.
A ideia é que esse financiamento inclua os atuais credores do projeto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal, mas também novas alternativas de financiamento, como debêntures incentivadas, disse uma das fontes.
“Os estudos indicam que parte dos recursos deve ser captada com risco junto ao Tesouro Nacional, via ENBPar (estatal que controla as usinas nucleares e Itaipu), e o restante, via Eletrobras (BVMF:)”, disse um das fontes em condições de sigilo.
A Eletrobras não controla mais as usinas nucleares no processo de privatização, mas ainda mantém compromissos relacionados a elas – a empresa está negociando com a União a sua saída desses ativos no âmbito da conciliação sobre o poder de voto do governo na Eletrobras.
Procurada, a Eletrobras não comentou o assunto de imediato.
A expectativa é que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) discuta a retomada dos trabalhos em setembro.
Segundo Raul Lycurgo, presidente da Eletronuclear, hoje controlada pela ENBPar, o banco francês de desenvolvimento BPI também poderia fazer parte do financiamento de Angra 3.
“O BNDES da França já disse que tem recursos disponíveis… e há outros bancos dispostos. A Caixa e o BNDES já financiaram, o que a gente também pode fazer é pagar antecipadamente esse investimento… Pagando antecipadamente, podemos refinanciar em juros e melhores condições”, disse Lycurgo à Reuters.
Ainda serão necessários cerca de 25 bilhões de reais para concluir a terceira usina nuclear do Brasil, projeto que começou na década de 1980 e teve suas obras interrompidas e reiniciadas algumas vezes ao longo dos anos.
Projetada com 1,4 gigawatt (GW) de potência, Angra 3 conta com aproximadamente 67% das obras civis já realizadas. Os estudos de modelagem para conclusão do projeto estão sendo realizados pelo BNDES e devem ser entregues até a próxima semana.
Estimativas anteriores indicavam que o projeto Angra 3 consumiria pelo menos mais 20 bilhões de reais, mas os cálculos foram atualizados devido ao aumento dos preços de itens dolarizados ou cotados em euros.
O presidente da Eletronuclear lembrou ainda que o preço do urânio, insumo do reator nuclear, também subiu significativamente, encarecendo o custo de conclusão da obra.
“Com a Covid, com alguns equipamentos, com a subida do euro, isso afeta os preços. Fora isso, não tínhamos comprado toda a primeira recarga de combustível nuclear, e o preço do urânio subiu 100% nos últimos anos “, disse ele.
O presidente da Eletronuclear destacou ainda que diversos cálculos e exercícios têm sido feitos para amortecer o valor da tarifa que os consumidores pagarão pela energia da usina Angra 3, atualmente estimada entre 650 e 660 reais por megawatt-hora (MWh).
Equipamentos e combustíveis adquiridos no passado para Angra 3, mas que acabaram sendo utilizados por Angra 2, serão baixados, em valores que chegam a aproximadamente 1,4 bilhão de reais, destacou o executivo. A aprovação de projetos com incentivos fiscais para o setor também pode ajudar a melhorar a tarifa da usina.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
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