Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar deu continuidade ao seu mais recente movimento de alta em relação ao real, fechando quinta-feira na maior cotação desde dezembro de 2021, acima de 5,70 reais, em um dia de aversão a ativos de risco em todo o mundo e de reação do mercado interno aos sinais dados na véspera pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,7364 reais na venda, alta de 1,43%. Este é o maior preço de fechamento desde 21 de dezembro de 2021, terceiro ano do governo de Jair Bolsonaro, quando fechou a 5,7394 reais. Em 2024, o dólar terá valorização de 18,24%.
Às 17h20, na B3 (BVMF:) o contrato de primeiro vencimento subia 1,42%, a 5,7545 reais na venda.
A quinta-feira foi marcada pela aversão dos investidores a ativos de maior risco, como , e ações listadas em bolsa, entre outros.
O dólar sustentou ganhos firmes face à maioria das outras moedas, no meio de receios de que a guerra entre Israel e o Hamas se alastre ao Médio Oriente, depois do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, ter sido assassinado no dia anterior em Teerão, a capital do Irão.
Os militares de Israel disseram mais tarde que o chefe do braço militar do Hamas, Mohammed Deif, foi morto num ataque aéreo em Gaza no mês passado.
No Brasil, o dólar até enfraqueceu durante a manhã em alguns momentos, mas a pressão de alta do exterior acabou tomando conta. A partir das 11h o dólar começou a subir em relação ao real, colocando os preços acima de 5,70 reais durante a tarde.
“Depois do ataque no Irã, os investidores passaram a buscar ativos de menor risco e mercados mais seguros que os nossos”, comentou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. “Isso deu força ao dólar.”
Outro fator externo que deu sustentação ao dólar, na visão do diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik, foram os dados decepcionantes do setor industrial chinês, um dos maiores compradores de commodities no Brasil.
“O PMI industrial da China veio com uma contracção. Portanto, há preocupação com a saúde da economia chinesa”, disse Rugik.
O Índice Global de Gerentes de Compras (PMI) Caixin/S&P para o setor industrial caiu para 49,8 em julho – abaixo da marca de 50 que separa o crescimento da contração – de 51,8 no mês anterior. Foi a leitura mais baixa desde outubro do ano passado e ficou abaixo da previsão dos analistas de 51,5.
Apesar da aversão ao risco ser global, o real foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar em todo o mundo. Isso porque o dólar também reagiu ao comunicado do Copom na noite de quarta, quando a taxa básica de juros foi mantida em 10,50%. O colegiado pediu cautela “ainda maior” na política monetária, avaliando também que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal impactou os preços dos ativos e as expectativas do mercado, mas não deu sinais claros sobre seus próximos passos.
“O movimento do dólar no Brasil está alinhado com o mercado externo, mas aqui é um pouco mais forte por vários fatores”, comentou durante a tarde o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
Segundo ele, mesmo que o Copom tenha indicado estar preocupado com os efeitos do câmbio e das expectativas sobre a inflação, o colegiado não demonstrou intenção de elevar a taxa básica Selic nos próximos meses –mesmo em 2024 ou início de 2025 – como era esperado pelo mercado. “Isso é negativo para o real no curto prazo”, disse Machado.
A curva de juros brasileira também refletiu essa percepção nesta quinta-feira, com a queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo.
Nesse cenário, após atingir a mínima de 5,6330 reais (-0,40%) às 11h12, o dólar à vista atingiu a máxima de 5,7453 reais (+1,58%) às 15h59. A moeda fechou o dia muito próxima deste pico.
Às 17h19, o índice – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis moedas – subia 0,33%, para 104,390.
Pela manhã, o Banco Central vendeu em leilão todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional com o objetivo de rolar o vencimento em 1º de outubro de 2024.
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