(Corrige informação do parágrafo 13 para esclarecer que a Unigel está em recuperação extrajudicial e não em recuperação judicial)
Por Marta Nogueira e Fábio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) – A química Unigel está exigindo indenização da Petrobras (BVMF:) por prejuízos com duas fábricas de fertilizantes arrendadas da estatal, mostrou carta vista pela Reuters, marcando mais um revés nas negociações que visam reativar as unidades .
As duas fábricas, que são parte fundamental do plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aliviar a dependência do Brasil de fertilizantes importados, tiveram suas operações interrompidas desde o segundo semestre do ano passado.
Em dezembro, as duas empresas assinaram um “Contrato de Pedágio” no qual a Petrobras forneceria fertilizantes em troca, permitindo à Unigel reiniciar a produção sem se preocupar com o preço do gás. O acordo terminou em junho, sem entrar em vigor, após o Tribunal de Contas da União (TCU) afirmar que poderia causar prejuízo de 487 milhões de reais à Petrobras.
Na carta dos advogados da Unigel, datada de 20 de junho, a empresa química reclama que o acordo tornou a situação financeira da empresa ainda mais crítica.
“O atraso na entrada em vigor do Acordo de Pedágio resulta em perdas significativas” para a Unigel, disseram advogados à Petrobras uma semana antes de a estatal encerrar o acordo.
Os advogados acrescentaram que a Unigel deverá ser ressarcida “na totalidade” pela Petrobras pelos prejuízos ocorridos desde a assinatura do “Contrato de Ferramental”.
Em resposta a perguntas da Reuters, a Unigel disse que as perdas totais chegam a “centenas de milhões de reais”.
A Petrobras não respondeu aos questionamentos sobre a cobrança de reembolso da Unigel. Ambas as empresas continuam a trabalhar numa solução para retomar a produção, disseram as duas empresas à Reuters em respostas separadas.
No entanto, a carta mostra que no mês passado as empresas – atualmente em arbitragem – estavam longe de um acordo e as relações estavam tensas, com a Unigel chamando a conduta da Petrobras de “abusiva”.
Aumentar a produção de fertilizantes é prioridade do governo Lula. Desde que assumiu o cargo, em 2023, a Petrobras reverteu o rumo do desinvestimento em fertilizantes, anunciando em junho passado que retomaria as operações em uma de suas fábricas.
Como potência agrícola, o Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de fertilizantes, dos quais importa mais de 80%. De acordo com um plano anunciado em 2022, o Brasil planeja reduzir as importações de fertilizantes para 45% até 2050.
Mesmo assim, as duas fábricas em Sergipe e na Bahia que a Unigel aluga da Petrobras desde 2019 permaneceram ociosas este ano. Quando em operação, as usinas tornaram a Unigel a maior produtora brasileira de fertilizantes nitrogenados.
A Unigel gasta cerca de 13 milhões de reais por mês nas unidades, disseram os advogados, piorando a situação financeira da empresa, que está em recuperação extrajudicial e tenta reestruturar 4,1 bilhões de reais em dívidas com detentores de títulos.
Até março, quando demitiu funcionários da fábrica, a Unigel gastava 35 milhões de reais por mês, disseram seus advogados, acrescentando que a empresa os manteve empregados a pedido da Petrobras.
Mesmo assim, a Unigel não quer desistir dos activos, disse à Reuters por e-mail, pois pretende retomar as operações quando estas se tornarem economicamente viáveis.
Sem acordo, Petrobras e Unigel estão em processo de arbitragem confidencial desde dezembro em relação a cláusulas do contrato de fornecimento de gás.
Os processos de arbitragem geralmente levam cerca de dois anos para serem concluídos, mas alguns podem durar até cinco anos, disse Marcelo Godke, especialista em direito empresarial do Godke Advogados.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)
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