O dólar à vista subiu fortemente nesta quarta-feira, 17, e voltou a superar o patamar de R$ 5,48 no fechamento pela primeira vez em duas semanas. Embora a cautela fiscal interna ainda oriente os negócios e leve à manutenção dos prêmios de risco na taxa de câmbio, a queda do real hoje deveu-se principalmente ao ambiente externo adverso.
Analistas afirmam que a retirada da moeda norte-americana, em meio a sinais de nova intervenção do Banco do Japão (BoJ) no mercado cambial, levou a uma liquidação de posições em moedas emergentes de países com juros elevados, particularmente da América Latina. Americanos.
Nas chamadas operações de “carry trade”, os investidores contraem empréstimos em moedas de países com taxas de juro baixas, especialmente o iene, para investir em moedas de países com taxas de juro elevadas. Com a valorização do iene, ocorre uma reversão parcial dessas operações, o que provoca a desvalorização de moedas como o real e os pesos mexicano e colombiano.
Já em alta pela manhã, o dólar acelerou os ganhos ao longo da tarde, em linha com o mundo exterior, e chegou perto de R$ 5,49, com máxima de R$ 5,4880. Ao final do dia, foi negociado a R$ 5,4838, alta de 1,00%. Com isso, a moeda passa a valorizar 0,97% na semana. No mês, ainda apresenta perdas (1,87%).
O real teve hoje o segundo pior desempenho entre as principais moedas emergentes e exportadoras, atrás apenas do peso colombiano. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice caiu 0,50% no final da tarde, na casa dos 103,7 mil pontos, principalmente por conta da queda de mais de 1,30% da moeda americana em relação ao iene .
O sócio e diretor-superintendente da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que em poucos dias houve um conjunto de fatores que levaram à valorização do iene frente ao dólar: sinais de novas intervenções do BoJ, comentários de políticos japoneses contra a desvalorização cambial e até uma declaração do ex-presidente Donald Trump, favorito na corrida presidencial americana, de que o maior problema cambial dos EUA é um dólar forte em relação às moedas japonesa e chinesa.
“Tudo isso em um mercado que apresenta um posicionamento técnico muito esticado vendido principalmente em iene. Esse movimento de alta ocorre devido a uma redução maior dessas posições vendidas em iene e que são utilizadas para financiar posições compradas em moedas de países emergentes com carry , como o real”, diz Monoli, lembrando que, no dia 31 de julho, haverá uma decisão de política monetária do Banco do Japão, que poderá trazer aumento nas taxas de juros.
Embora o quadro externo seja hoje predominante na formação da taxa de câmbio, há desconforto com a questão fiscal que ainda permeia os negócios. Apesar da divulgação truncada e, até certo ponto, descontextualizada das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, em entrevista à TV Record, sobre metas fiscais, permanece a sensação de que o presidente continua refratário à agenda de corte de gastos.
Lula disse ontem que ainda precisa se convencer de que “há necessidade ou não de cortar (gastos)”, embora em outro trecho da entrevista tenha afirmado que fará “o que for necessário para cumprir o marco fiscal”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, veio a público minimizar as declarações de Lula e reforçar o compromisso do governo com o controle das contas públicas.
O ruído político ocorre num momento em que os investidores aguardam a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas, no dia 22, com o anúncio de bloqueio ou contingência para cumprir a meta deste ano. Além disso, há expectativa de medidas de redução de despesas de R$ 25,6 bilhões no Orçamento de 2025.
Embora veja o desmantelamento das operações de carry trade em moedas emergentes como um “fator primário” para a desvalorização do real hoje, Monoli, da Azimut, enfatiza que a taxa de câmbio carrega prêmios de risco associados ao quadro fiscal doméstico e flutua com a vazante e fluxo de declarações do Ministro das Finanças e do Presidente. “Um lado defende gastos contingenciais e corte de despesas para cumprir as regras do marco, e o outro diz que não é obrigado a cumprir metas”, diz Monoli.
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