Rússia ameaça EUA com ‘consequências’ após ataque ucraniano na Crimeia

Nesta segunda-feira (24), a Rússia ameaçou os Estados Unidos com represálias e os acusou de “matar crianças russas”, um dia depois de um bombardeio ucraniano na Crimeia realizado, segundo Moscou, com mísseis americanos.

A Rússia considera que os Estados Unidos se tornaram parte do conflito na Ucrânia quando autorizaram Kiev a usar mísseis de longo alcance contra regiões russas e contra a Crimeia, península ucraniana que Moscovo anexou em 2014 e que serve de base de retaguarda do Exército. Os russos atacam seu vizinho.

“É claro que a participação dos Estados Unidos nos combates, a sua participação direta, que leva à morte de cidadãos russos, deve ter consequências”, declarou o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov.

O porta-voz instou os jornalistas a perguntarem na Europa e nos Estados Unidos “porque é que os seus governos matam crianças russas”.

Segundo Moscovo, a Ucrânia não pode realizar ataques apenas com mísseis ATACMS de longo alcance, como o de domingo na Crimeia, pois são necessários especialistas, tecnologia e dados da inteligência americana.

Washington e os países europeus começaram a autorizar Kiev a empregar armas ocidentais para atacar alvos militares em territórios russos usados ​​para bombardear a Ucrânia.

Moscovo considera a Crimeia como seu território desde a sua anexação em 2014, denunciada pela grande maioria da comunidade internacional, e não reconhecida por alguns dos aliados da Rússia, como a China.

– Embaixador convocado –
O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou no início deste mês entregar armas equivalentes aos inimigos das potências ocidentais para prosseguirem os seus interesses noutras regiões do mundo.

De acordo com o Exército Russo, as forças ucranianas dispararam cinco mísseis ATACMS no domingo e quatro deles foram abatidos perto de Sebastopol, cidade portuária que abriga o quartel-general da Frota Russa do Mar Negro.

Pelo menos quatro pessoas morreram, incluindo duas crianças, e mais de 150 ficaram feridas, segundo autoridades locais estabelecidas pela Rússia.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, por sua vez, anunciou que convocou Lynne Tracy, embaixadora dos EUA em Moscou, para informá-la sobre “medidas retaliatórias”.

“O embaixador foi informado de que tais ações de Washington (…) autorizando ataques dentro do território russo não ficariam impunes”, acrescentou.

A Rússia, que iniciou a sua ofensiva na Ucrânia em Fevereiro de 2022, prometeu uma resposta a este ataque.

Para a Ucrânia, os alvos militares na Crimeia e dentro da Rússia são legítimos, especialmente porque as forças ucranianas estão sob pressão na frente devido à escassez de homens e armas que Kiev está a sofrer.

– Pelo menos oito civis mortos –
A Ucrânia sofre diariamente bombardeamentos russos que atingiram a sua infra-estrutura energética, forçando cortes de electricidade em todo o país para enfrentar a escassez de electricidade.

Um míssil russo também atingiu um armazém em Odessa, um porto estratégico no Mar Negro, no sul da Ucrânia, na manhã de segunda-feira, deixando três feridos.

E pelo menos quatro pessoas morreram e 34 ficaram feridas num bombardeamento russo na cidade de Pokvrovsk, na região oriental de Donetsk, disseram as autoridades locais.

Em Toretsk, outra localidade oriental sob controlo ucraniano, uma mulher morreu e outro civil perdeu a vida durante um bombardeamento de Stepanivka, na região sul de Kherson.

Um homem morreu num outro ataque russo em Stepanivka, na região sul de Kherson, e na região nordeste de Kharkiv, duas pessoas morreram depois de um veículo ter ativado uma mina antitanque, disseram as autoridades ucranianas.

Por sua vez, o Estado-Maior Ucraniano acusou a Rússia de intensificar os seus ataques com gás lacrimogéneo, normalmente utilizado pelas forças de segurança durante distúrbios e proibido em conflitos pela Convenção sobre Armas Químicas (CAQ).