O movimento libanês Hezbollah, cujo líder, Hassan Nasrallah, foi eliminado pelo Exército israelense em um bombardeio ao sul de Beirute na sexta-feira (27), é um dos principais inimigos de Israel.
O grupo político e militar, criado, armado e financiado pelo Irão, travou um conflito mortal com Israel em 2006, que traumatizou a sociedade libanesa e serviu para consolidar o poder da formação.
Após o ataque do movimento islâmico Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, o Hezbollah reativou a frente norte de Israel em “apoio” ao seu aliado palestino.
Os confrontos fronteiriços transformaram-se num conflito quase geral no início desta semana, com Israel a realizar uma campanha de bombardeamentos em grande escala contra redutos do Hezbollah no sul e leste do Líbano, bem como na periferia sul de Beirute.
Durante meses, Israel tem vindo a enfraquecer consideravelmente o movimento, eliminando um a um os seus principais comandantes, incluindo o seu chefe militar, Fuad Shukr, que morreu em Julho num atentado bombista num subúrbio a sul de Beirute.
A morte de Hassan Nasrallah é um golpe para o movimento.
Guerra de 33 dias
O “Partido de Deus” foi criado em 1982, após a invasão israelita do Líbano, por iniciativa dos Guardas Revolucionários, o exército ideológico da República Islâmica do Irão.
O movimento tornou-se a ponta de lança da luta contra Israel, que se retirou progressivamente do Líbano até que, em 2000, deixou o sul do Líbano após 22 anos de ocupação.
Desde então, o grupo libanês e Israel entraram em confronto por vezes, levando à guerra em 2006, na sequência do rapto de dois soldados israelitas na fronteira entre os dois países.
Israel então iniciou uma grande ofensiva. A guerra de 33 dias matou 1.200 libaneses, a maioria civis, e 160 israelenses, a maioria militares.
A Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que pôs fim à guerra, estipula que apenas o Exército Libanês e as forças de manutenção da paz da ONU devem ser destacados para o sul do Líbano.
Mas o Hezbollah manteve a sua presença na região, onde, segundo analistas, cavou uma rede de túneis.
O grupo reforçou o seu arsenal, que inclui mísseis teleguiados, e afirma ter mais de 100 mil combatentes.
As principais instituições do movimento estão nos subúrbios ao sul de Beirute desde que Israel matou o antecessor de Nasrallah, Abbas Masawi, em 1992.
Expansão regional
O Hezbollah é o mais influente dos grupos que compõem o “eixo de resistência”, promovido pelo Irão contra Israel, que reúne o Hamas palestiniano, os rebeldes Huthi do Iémen e grupos iraquianos.
O partido também prestou apoio militar ao regime de Bashar al-Assad na Síria, onde uma revolta popular em 2011 se transformou numa insurreição armada.
Mas desde que as linhas de frente foram congeladas, a formação reduziu o seu contingente no país.
Importante no Líbano
No final da guerra civil libanesa (1975-1990), o Hezbollah foi a única facção que manteve as suas armas em nome da “resistência” contra Israel.
O grupo consolidou-se como uma força política inevitável e os seus críticos acusam-no de constituir um “estado dentro do estado”. Nasrallah era considerado o homem mais poderoso do país.
O movimento faz parte do governo e do Parlamento, onde nem o seu lado nem os seus adversários têm maioria absoluta, o que significa que nos últimos dois anos o país não conseguiu definir um presidente da república.
A sua popularidade e influência crescente na comunidade xiita são apoiadas por uma ampla rede de escolas, hospitais e associações que servem os seus apoiantes.
Em 1997, o governo dos Estados Unidos adicionou o Hezbollah à sua lista de organizações “terroristas” e sujeitou o grupo a sanções económicas e bancárias.
Washington o acusa de dois atentados simultâneos em 23 de outubro de 1983 em Beirute, que mataram 241 fuzileiros navais americanos e 58 pára-quedistas franceses. Também o acusa de fazer reféns ocidentais durante a guerra no Líbano.
Desde 2013, a UE também considera o braço armado do movimento uma organização “terrorista”.
O partido foi acusado de envolvimento no assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, pelo qual dois dos seus membros foram condenados à revelia à prisão perpétua em 2022.
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