O presidente russo, Vladimir Putin, alertou o Ocidente na quarta-feira que seu país poderia usar armas nucleares se fosse atacado com mísseis convencionais, e que Moscou consideraria qualquer agressão apoiada por uma potência nuclear como um ataque conjunto.
A decisão do presidente russo de alterar a doutrina nuclear oficial do país foi tomada no momento em que os Estados Unidos e o Reino Unido consideram permitir que a Ucrânia utilize armas ocidentais para atacar a Rússia, um pedido que tem sido feito há meses pelo líder ucraniano Volodymyr Zelensky.
Abrindo uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin disse que as mudanças são uma resposta ao cenário global em rápida mudança, que gerou novas ameaças e riscos para o país.
O presidente disse que Moscovo também se reserva o direito de usar armas nucleares se o seu aliado, a Bielorrússia, for alvo de agressão, inclusive através de armas convencionais.
As observações de quarta-feira seguem-se ao aviso de Putin aos Estados Unidos e a outros aliados da NATO de que permitir que a Ucrânia utilize armas ocidentais de longo alcance para ataques em território russo significaria que a Rússia e a aliança militar estariam em guerra.
— Consideraremos essa possibilidade se recebermos informações confiáveis sobre um lançamento massivo de meios de ataque aeroespacial — declarou o presidente.
As negociações sobre o assunto ganharam força no início do mês, quando os EUA anunciaram novas sanções contra o Irão e acusaram a República Islâmica de fornecer mísseis à Rússia para uso na Ucrânia. Sanções também foram adotadas pelos governos francês, alemão e britânico.
Em maio, a administração Biden deu à Ucrânia permissão para usar armas dos EUA em ataques transfronteiriços mais curtos contra locais russos usados numa ofensiva contra a cidade ucraniana de Kharkiv.
Desde então, as autoridades norte-americanas permitiram que os militares ucranianos realizassem este tipo de ataque mais curto noutros locais ao longo da fronteira. Na Sky News, Blinken disse no início deste mês que a Casa Branca leva em conta factores complexos ao tomar estas decisões, mas que está aberta a possibilidade de dar mais liberdade à Ucrânia.
— Nós nos adaptamos e ajustamos cada passo do caminho e continuaremos [fazendo isso]portanto, não descartamos isso neste momento”, disse ele, acrescentando que Washington está empenhado em fornecer à Ucrânia “tudo o que ela precisa e quando precisa” para confrontar a Rússia de forma mais eficaz.
A versão revisada do documento detalha com maior profundidade as condições para o uso de armas nucleares, observando que elas poderiam ser utilizadas no caso de um ataque aéreo em massa envolvendo aeronaves, mísseis de cruzeiro ou drones, disse ele.
Segundo estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), os Estados Unidos teriam cerca de 3.700 ogivas, e a Rússia, quase 4.500.
Na altura, Teerão negou envolvimento e disse considerar “a prestação de assistência militar às partes envolvidas no conflito — que leva ao aumento de vítimas humanas, à destruição de infraestruturas e ao distanciamento das negociações — como desumana”.
Há pouco mais de dois anos, em Janeiro de 2022, os EUA, a França, o Reino Unido, a Rússia e a China concordaram que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”, como expressaram numa declaração conjunta.
Um mês depois, o Exército Russo invadiu a Ucrânia e quebrou qualquer consenso sobre o uso deste tipo de armas. Em março, às vésperas das eleições na Rússia, Putin afirmou que as armas nucleares do país são mais modernas e avançadas que as dos EUA, destacando que o seu arsenal está sempre “preparado” para a guerra.
— Tivemos um tabu sobre armas nucleares durante 75 anos [após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki]mas agora estão tão normalizadas no debate que, numa crise, os líderes podem sentir-se obrigados a recorrer a elas — alertou Matt Korda, investigador de armas atómicas do Sipri, ao El País.
Em Fevereiro de 2023, a Rússia suspendeu unilateralmente o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (New Start), criado em 2010 para trocar dados com os EUA sobre as suas forças nucleares duas vezes por ano.
Washington cumpriu a sua parte no acordo ao revelar os números no primeiro semestre de 2023, mas desde então não o fez.
O mesmo fez Londres, um dos maiores aliados dos americanos. Segundo a Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares (Ican, na sigla em inglês), os gastos com armas nucleares em todo o mundo aumentaram em US$ 10,8 bilhões em 2023 (R$ 59 bilhões) em comparação ao ano anterior. (Com AFP, New York Times e El País)
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