Quatorze pessoas morreram e cerca de 450 ficaram feridas em uma nova onda de explosões de dispositivos de comunicação do Hezbollah no Líbano, um dia depois das explosões atribuídas pela organização pró-iraniana a Israel, que alimentaram temores de uma guerra total na região.
Uma fonte próxima do movimento islâmico indicou que vários dispositivos “explodiram nos subúrbios do sul de Beirute”, um dos seus redutos, e os meios de comunicação estatais relataram explosões no sul e no leste do país.
Imagens da AFPTV mostraram pessoas correndo para se proteger após uma explosão durante o funeral de quatro militantes do Hezbollah mortos nas explosões de terça-feira em um subúrbio de Beirute.
Depois de um relatório anterior que apontava nove mortes, o Ministério da Saúde libanês afirmou que a “onda de explosões de walkie-talkies inimigos (…) matou 14 pessoas e feriu mais de 450”.
Na terça-feira, a explosão de centenas de pagers usados pelo Hezbollah matou 12 pessoas, incluindo dois menores, e feriu 2.800, centenas delas membros do grupo, que culpou Israel pelo ataque e prometeu “punição justa”.
A guerra “move-se para norte”
Israel absteve-se de comentar esta primeira vaga de explosões, que ocorreu horas depois de anunciar a extensão dos seus objectivos na guerra iniciada em Outubro contra o movimento islâmico palestiniano Hamas na Faixa de Gaza até à sua fronteira com o Líbano.
O Hezbollah, um aliado do Hamas, disse que “a resistência islâmica no Líbano continuará (…) as suas operações para apoiar Gaza” e prometeu um “acerto de contas severo” contra Israel.
No hospital Hôtel-Dieu de Beirute, a paramédica Joelle Khadra relatou que a maioria dos feridos apresentava lesões nos olhos e nas mãos, com amputações de dedos, e que alguns tinham perdido a visão.
Um médico de outro hospital na capital libanesa, que falou sob condição de anonimato, disse que trabalhou a noite toda e “nunca viu nada parecido”.
O Ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, alertou que o “ataque flagrante à soberania e segurança do Líbano” poderia “indicar uma guerra mais ampla”.
Segundo o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, “o centro de gravidade” da guerra está a deslocar-se para o norte.
“Programado para explodir”
Um oficial de segurança libanês, que pediu anonimato, disse que uma investigação preliminar mostrou que os pagers “foram programados para explodir e continham materiais explosivos colocados perto da bateria”.
Esses dispositivos, também chamados de localizadores, são pequenos dispositivos de mensagens e localização que não requerem cartão SIM ou conexão com a Internet.
O jornal americano The New York Times indicou que os pagers vieram de Taiwan e receberam a carga explosiva antes de chegarem ao Líbano.
No entanto, a empresa taiwanesa Gold Apollo, apontada pelo jornal como fabricante, garantiu que os aparelhos foram produzidos pelo seu parceiro húngaro BAC e que são da sua “responsabilidade”.
Um porta-voz do governo húngaro afirmou, no entanto, que a referida empresa não possui fábricas na Hungria.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, condenou o ataque e disse que o incidente deveria trazer “vergonha” aos países ocidentais aliados de Israel.
O ataque foi um golpe para o grupo militante, já preocupado com a segurança das suas comunicações depois de perder vários comandantes importantes em ataques aéreos nos últimos meses.
O “maior golpe” contra o Hezbollah
Segundo uma fonte próxima ao Hezbollah, este é “o maior golpe já desferido contra a formação” por Israel.
O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fará uma declaração pública na quinta-feira, às 17h, horário local (11h, horário de Brasília).
Desde o início da guerra em Gaza, a fronteira com o Líbano tornou-se palco de confrontos de artilharia quase diários entre o exército israelita e o Hezbollah, o que provocou a deslocação de dezenas de milhares de civis em ambos os países.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o ataque de terça-feira ocorreu num “momento extremamente instável” e classificou o seu impacto sobre a população civil como “inaceitável”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “objetos civis” não deveriam ser transformados em armas.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve esta quarta-feira no Cairo para tentar relançar as negociações sobre um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
“Todos sabemos que um cessar-fogo é a melhor oportunidade para lidar com a crise humanitária em Gaza e os riscos para a estabilidade regional”, declarou o diplomata, cujo país negou ter conhecimento prévio dos ataques de pagers no Líbano.
O conflito em Gaza foi desencadeado pela incursão letal de comandos do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que matou 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo um inquérito da AFP baseado em dados oficiais israelitas.
Dos 251 raptados durante a incursão, 97 permanecem detidos em Gaza, dos quais 33 foram declarados mortos pelo exército israelita.
Os bombardeamentos e operações terrestres israelitas destruíram o território palestiniano e causaram a morte de pelo menos 41.272 palestinianos, segundo dados do Ministério da Saúde no território governado pelo Hamas, que a ONU considera fiáveis.
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