Os argentinos estão a tirar as suas poupanças em dólares debaixo do colchão e a depositá-las em bancos, num voto de confiança no presidente Javier Milei, bem como no seu programa de anistia fiscal.
Num sinal de otimismo para Milei, os depósitos em dólares aumentaram 40%, para 19,8 mil milhões de dólares, desde que assumiu o cargo, em 10 de dezembro, marcando os níveis mais elevados desde o final de 2019, segundo dados do Banco Central.
Enquanto os argentinos são pagos em pesos, as contas de poupança nos bancos geralmente são em dólares americanos.
O retorno do fluxo de dólares ao sistema financeiro é bem-vindo num país que sofreu crises cambiais ao longo dos anos devido à falta de reservas cambiais no sistema financeiro.
O fato também aproxima Milei de uma de suas principais promessas de campanha: a dolarização da economia, realidade que, por enquanto, ainda parece distante na segunda maior economia da América do Sul.
— A anistia vai acelerar o processo de livre concorrência ou coexistência de moedas — disse o ministro da Economia, Luis Caputo, durante podcast transmitido no dia 30 de agosto. — Isso não é feito para fins de arrecadação de impostos.
Os depósitos aumentaram em US$ 5,7 bilhões desde que Milei assumiu o cargo – dos quais cerca de US$ 1,4 bilhão foram coletados após o programa de anistia fiscal do governo que entrou em vigor em 17 de julho. Os bancos já abriram cerca de 100.000 contas para fins de anistia fiscal e estimam um piso de pelo menos US$ 2 bilhões para isso, segundo fontes com conhecimento direto do assunto.
A lei, aprovada pelo Congresso como um pacote mais amplo de reformas económicas no final de Junho, permite que as pessoas declarem até 100.000 dólares em dinheiro anteriormente detidos fora do sistema sem pagar quaisquer taxas. O excedente será tributado a 5%, embora montantes maiores também possam ser declarados isentos de impostos se utilizados para investir em títulos, imóveis ou outras exceções.
Os argentinos terão a oportunidade de declarar seus dólares até março de 2025 — mas depois terão que pagar impostos mais elevados sobre o valor excedente.
— Esta é uma oportunidade de custo muito baixo para as pessoas comprarem um carro, reformarem suas casas ou começarem a gerar retornos sobre dólares que atualmente estão presos em um cofre — disse Sebastian Dominguez, contador público e especialista tributário em Buenos Aires.
O aumento dos depósitos ainda é uma fração dos estimados 204 mil milhões de dólares em dinheiro na Argentina, de acordo com uma apresentação do Banco Central. Os níveis de depósitos também estão bem abaixo do pico de agosto de 2019, de cerca de 32,5 mil milhões de dólares, antes de caírem durante a volatilidade eleitoral.
Ter poupanças em dólares em espécie, seja em cofres, guardados em casa ou em contas bancárias no exterior, é uma prática comum na Argentina, devido às frequentes crises financeiras e aos elevados impostos.
Embora o fenómeno reforce as reservas do banco central, os passivos da instituição continuam a ser superiores aos seus activos. As reservas líquidas estão em níveis negativos em cerca de US$ 6 bilhões, de acordo com a corretora local PPI.
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