Com mandado de prisão em aberto contra Edmundo González Urrutia, o ex-candidato à presidência da Venezuela divulgou nesta quinta-feira (5) a carta que enviou ao Ministério Público (MP) do país justificando porque não compareceu aos depoimentos na sede do órgão, em Caracas .
Depois de dizer que reconhece a institucionalidade dos órgãos jurídicos da Venezuela, afirmou que falta base jurídica nas notificações em que foi citado. Edmundo também negou que fosse o responsável pelo site na internet onde foram publicadas as supostas atas da oposição que lhe deram a vitória nas eleições de 28 de julho contra Nicolás Maduro.
“A Plataforma Democrática Unitária (PUD) [coalizão que apoiou Edmundo na eleição]em comunicado anexo, explicou que não era minha responsabilidade digitalizar, proteger e publicar cópias das atas de votação recebidas pelas nossas testemunhas nas mesas de votação”, disse o político.
As autoridades venezuelanas afirmam que mais de nove mil atas publicadas são falsas. O Supremo Tribunal de Justiça do país, após perícia, ratificou a vitória do presidente Nicolás Maduro em 28 de julho. No entanto, os dados eleitorais por mesa de votação ainda não foram divulgados publicamente.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William, em entrevista à imprensa também realizada nesta quinta-feira, argumentou que a carta de Edmundo é contraditória porque, ao mesmo tempo em que afirma reconhecer a autoridade do MP, se recusa a submeter-se ao sistema de Justiça .
“O cidadão González Urrutia faz justiça com as próprias mãos, ou seja, passa a ser o juiz venezuelano, passa a ser o tribunal, o procurador, a defesa, e diz que é inocente”, afirma Tarek, reforçando que o opositor deve comparecer ao Deputado.
“Apresente-se perante este Ministério Público porque a carta que foi escrita lhe causou prejuízo. Ele passa a ser um agravante da sua situação jurídica, porque nela, como eu disse, ele se declara juiz e faz justiça com as próprias mãos”, completou.
Como Edmundo não respondeu às três intimações para depor sobre o inquérito aberto contra o site oposição à suposta ata, foi expedido mandado de prisão contra o ex-candidato por “risco de fuga”. Nesta quarta-feira (4), o advogado do oponente, José Vicente Haro, foi ao MP explicar a ausência do seu cliente.
O mandado de prisão contra a liderança da oposição foi criticado pelos Estados Unidos e visto com “preocupação” pelo Brasil e pela Colômbia, que alegaram que a medida dificulta uma solução pacífica para o conflito entre governo e oposição.
Corina
Em uma rede social, a líder da oposição María Corina Machado disse que é a responsável pela digitalização das supostas atas que dão a vitória a Edmundo. “Tenho orgulho de fazer parte deste poderoso movimento que tornou possível esta extraordinária operação cívica e tecnológica e assumo a responsabilidade pelas atas porque são legais.”
Corina Machado indicou Edmundo para concorrer à presidência em seu lugar após ser impedida por irregularidades em sua reportagem quando era deputada federal.
O principal líder da oposição voltou a dizer que Edmundo é o presidente eleito e afirmou que os militares e a polícia “têm um dever constitucional que devem cumprir”. Ela disse ainda que a deputada venezuelana é um “braço de perseguição e terrorismo” e que é ilegítima.
A Carta
Na carta divulgada hoje, Edmundo defende que a publicação da ata na internet não usurpa a competência do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é o Poder responsável pelas eleições na Venezuela.
“Acredito que não usurparam as funções da CNE, uma vez que o sistema e as normas eleitorais venezuelanas incluem como uma das suas garantias de fiabilidade a entrega de cópias das atas de votação às testemunhas [da oposição]”, explicou.
Segundo Edmundo, se ele comparecesse ao MP, a tensão social e política no país aumentaria. “Além de consolidar um contexto de judicialização incriminatória da política que todos devemos rejeitar”, acrescentou.
O candidato presidencial venezuelano disse ainda que é preciso considerar que, nas últimas semanas, vários representantes do governo o condenaram antecipadamente e, “como digo, sem fundamento”.
PGR
Na entrevista à imprensa, o procurador-geral da República, Tarek Saasb, justificou mais uma vez a investigação aberta contra os responsáveis pela página que publicou a suposta ata questionando o resultado eleitoral de 28 de junho, que deu a reeleição ao presidente Maduro.
Para Tarek, o questionamento da oposição motivou a onda de violência que deixou mais de 25 mortos e 190 feridos, “dos quais 100 eram polícias e militares, tendo atacado e destruído 400 bens estatais e privados como escolas, universidades, centros de saúde e educativos”. .
O Procurador-Geral também questionou relatos feitos por organizações de direitos humanos sobre alegadas violações e detenções arbitrárias durante protestos pós-eleitorais. Segundo Tarek, nenhuma reclamação formal foi feita às instituições públicas.
“Não apresentaram um único caso de atuação irregular que viole os direitos humanos por parte de qualquer órgão de segurança do Estado. Quase 40 dias ou 45 dias desde o dia 28 de Julho não apresentaram queixa a ninguém, porquê? porque não existe”, afirmou.
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