Controlada pelo multibilionário Elon Musk, a rede social
Enquanto na UE, no Brasil e na Austrália Musk apela à retórica da “liberdade de expressão” irrestrita, na Índia e na Turquia a plataforma X tem cumprido decisões judiciais com suspensões de conteúdos e perfis sem denunciar alegada “censura”. Na Índia, a plataforma excluiu das redes um documentário da mídia inglesa BBC crítico ao primeiro-ministro do país asiático, Narendra Modi.
No Brasil, Musk fechou o escritório da plataforma X e tem evitado se reportar à Justiça brasileira. Ele é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre milícias digitais que investiga a atuação de grupos que supostamente se organizaram nas redes para atacar o STF, seus integrantes e as eleições brasileiras de 2022.
A especialista em direito digital Bruna Santos, gerente de campanhas globais da Digital Action, destacou que, desde que assumiu a plataforma, Musk desmantelou os setores de regulação de conteúdo da empresa.
“Musk tem se mostrado mais refratário em países onde foram feitas tentativas de regular a internet de uma forma um pouco mais eficaz, como a Austrália, onde se discute a remuneração por conteúdo jornalístico. Ou no caso do Brasil, onde o Supremo Tribunal Federal é muito atuante e teve, até abril deste ano, uma discussão sobre uma possível nova regulamentação das plataformas digitais”, afirmou.
Representante da Coalizão pelos Direitos na Rede, Bruna acrescentou que, por outro lado, a plataforma tem colaborado com governantes alinhados às posições do empresário, lembrando também que a monarquia da Arábia Saudita é uma das acionistas da plataforma.
“[A plataforma] continua a ser atormentado por conteúdos ilegais. Conteúdo que defende as drogas e também fala sobre pornografia. Isso demonstra claramente que, desde a entrada de Musk, o Twitter aplicou essa visão política de absoluta liberdade de expressão, não abrindo qualquer tipo de discussão sobre possíveis ilegalidades ou danos causados por conteúdos a terceiros”, destacou o especialista em direito digital.
No Brasil, a liberdade de expressão tem limites. A legislação proíbe, por exemplo, defender ideologias nazis ou racistas, encorajar golpes de Estado, encorajar animosidades entre as Forças Armadas e outras instituições, tolerar crimes ou ameaçar pessoas.
União Europeia
Na União Europeia (UE), a primeira investigação contra uma plataforma digital baseada na Lei dos Serviços Digitais (DSA), aberta em dezembro de 2023, foi contra a rede social X por falta de transparência e alegada disseminação de desinformação.
Em julho deste ano, a Comissão Europeia divulgou conclusões preliminares afirmando que a plataforma está a violar as leis locais. O relatório diz que a verificação da conta da rede é enganosa porque qualquer pessoa pode se inscrever para obter status “verificado”, desde que você pague por isso.
“Há evidências de atores maliciosos motivados que abusam da ‘conta verificada’ para enganar os usuários”, disse a comissão. A verificação ocorre quando um usuário recebe uma identificação – o “selo azul” – que, em tese, confere maior confiabilidade ao usuário.
Caso a rede social seja considerada culpada de violar as regras da União Europeia, a plataforma poderá enfrentar multas de até 6% do faturamento anual da empresa, entre outras medidas.
Em resposta, o bilionário acusado o órgão regulador do bloco europeu. “A Comissão Europeia ofereceu a X um acordo secreto ilegal: se censurássemos discretamente o discurso sem contar a ninguém, eles não nos multariam”, disse ele.
Austrália
A rede social X também entrou em confronto com as autoridades australianas. O primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, chamou Musk de “bilionário arrogante que pensa estar acima da lei”.
O atrito ocorreu por causa das autoridades do país na rede social.
Na rede social, Musk acusado novamente ordens de censura judicial. “O comissário de censura australiano está exigindo proibições globais de conteúdo”, disse o bilionário.
Turquia
O megaempreendedor não atua da mesma forma em todos os países. Na Turquia, a rede removeu conteúdos e perfis a pedido das autoridades sem que o governo fosse acusado de censura.
Em maio de 2023, a plataforma perfis e conteúdos suspensos na sequência de ordens judiciais às vésperas das eleições presidenciais que reelegeram Recep Tayyip Erdogan. “Em resposta ao processo legal e para garantir que o Twitter continue disponível para o povo da Turquia, tomámos hoje medidas para restringir o acesso a alguns conteúdos na Turquia”, afirmou a plataforma.
Questionado por um jornalista sobre a razão pela qual respondeu ao pedido das autoridades turcas sem questionar, Musk respondeu: “A escolha é restringir totalmente o Twitter ou limitar o acesso a alguns tuítes. Qual você quer?
Em setembro de 2023, a Reuters informou que o presidente turco e a Tesla – a fábrica de carros elétricos de Musk – negociei a instalação de uma planta da empresa no país.
Índia
Na Índia, em janeiro de 2023, a plataforma removeu conteúdos relacionados com um documentário da BBC que relatava a repressão contra a minoria muçulmana no estado de Gujarat, quando o atual primeiro-ministro Modi governava a província. Estima-se que mais de mil pessoas foram assassinadas.
Posteriormente, em entrevista à BBC, Musk disse não ter conhecimento do caso específico. “As regras na Índia sobre o que pode aparecer nas redes sociais são bastante rígidas e não podemos ir além das leis do país”, disse Musk, segundo o com informações divulgadas pela Reuters.
Inglaterra
Nas últimas semanas, Musk também entrou em conflito com as autoridades inglesas no contexto de protestos de extrema direita que atacaram casas e empresas de imigrantes depois de notícias falsas associarem um assassinato a imigrantes. Sobre o assunto, Musk comentou que uma “guerra civil é inevitável” no país europeu.
A ministra da Justiça do Reino Unido, Heidi Alexander, criticou o empresário, classificando os seus comentários como “inaceitáveis”, reacendendo o debate e as reivindicações pela aplicação de regras para plataformas digitais, i.relatou a Reuters.
A rede social X foi acusada de promover conteúdo anti-imigrante na internet, o que teria alimentado a violência da extrema direita.
A especialista em direito digital Bruna Santos avaliou que a plataforma não removeu conteúdos que incitavam o caos no Reino Unido e continuou permitindo postagens pedindo novos atos violentos contra imigrantes.
“Há hoje em dia uma falta de escrutínio de conteúdos no Twitter o que pode ter tornado a plataforma num dos principais locais de divulgação de conteúdos relacionados com o que se passava no Reino Unido”, explicou.
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