Os Estados Unidos afirmaram, nesta sexta-feira (23), que houve avanços na mais recente rodada de negociações para uma trégua na Faixa de Gaza, bloqueada principalmente pela exigência de Israel de manter suas tropas na fronteira egípcia com o território palestino governado por Hamas.
A Casa Branca disse que o chefe da CIA, William Burns, foi um dos altos funcionários americanos que participou nas conversações no Cairo, juntamente com os chefes dos serviços de inteligência israelitas.
“Houve progressos. Agora precisamos que ambos os lados se unam e trabalhem na sua implementação”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby.
As negociações, que começaram na quinta-feira, “foram de caráter construtivo”, disse o alto funcionário, acrescentando que os relatos de que a diplomacia estava “à beira do colapso” eram imprecisos.
O movimento islâmico palestiniano Hamas, cujo ataque de 7 de Outubro em Israel desencadeou a guerra, não participa nesta ronda de negociações indirectas.
Um representante do grupo, Hosam Badran, disse esta sexta-feira à AFP que a insistência de Netanyahu em manter tropas na fronteira com o Egito, numa área chamada “Corredor Filadélfia”, reflete “a sua recusa em chegar a um acordo definitivo”.
Os países mediadores – Egipto, Estados Unidos e Qatar – tentam há meses chegar a um acordo para pôr fim à guerra que devastou o território palestiniano.
Testemunhas relataram, esta sexta-feira, intensos combates no norte de Gaza, bombardeamentos no centro e disparos de tanques no sul deste estreito território de 2,4 milhões de habitantes, 90% dos quais foram deslocados pelo menos uma vez nestes dez meses, segundo o ONU.
Quatro pessoas morreram em disparos de artilharia contra Beit Lahia (norte da Faixa de Gaza), segundo a Defesa Civil. Oito pessoas, incluindo uma criança e cinco combatentes do Hezbollah, morreram hoje em bombardeamentos israelitas no sul do Líbano, segundo o Ministério da Saúde libanês e o movimento islâmico.
‘Aterrorizado’
“Os civis estão exaustos e aterrorizados, fogem de um lugar destruído para outro, sem fim à vista”, condenou na quinta-feira Muhammad Hadi, coordenador humanitário da ONU para os territórios palestinianos.
O Exército israelita afirmou, esta sexta-feira, ter “eliminado dezenas de terroristas” e “desmantelado dezenas de locais com infraestruturas terroristas” em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, e em Deir el Balah, no centro.
A guerra eclodiu em 7 de outubro, quando combatentes islâmicos mataram 1.199 pessoas no sul de Israel, a maioria delas civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais. Entre os mortos estavam mais de 300 soldados.
Também fizeram 251 reféns, 105 dos quais permanecem na Faixa de Gaza, incluindo 34 que o exército declarou mortos.
Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva que deixou mais de 40 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território, que não revela quantos são civis ou combatentes.
Além da pressão internacional para alcançar uma trégua, Netanyahu enfrenta frequentemente protestos em Israel a favor de um acordo que permita o regresso das pessoas raptadas.
Ella Ben Ami, filha de um dos reféns ainda mantidos em cativeiro, declarou após encontro com o líder esta sexta-feira que saiu “com a sensação pesada e difícil de que este [o acordo de cessar-fogo] não acontecerá em breve”, de acordo com um comunicado do Fórum de Famílias de Reféns.
Washington considera que uma trégua ajudaria a evitar uma conflagração regional, incluindo um possível ataque a Israel por parte do Irão e dos seus aliados, em retaliação ao assassinato do chefe do Hamas, em 31 de julho, em Teerão, atribuído a Israel.
O Hamas, considerado uma organização “terrorista” pelos Estados Unidos, Israel e União Europeia, exige a implementação do plano anunciado em 31 de maio pelo presidente norte-americano Joe Biden.
Hamas ‘Evitar o Rearmamento’
Este plano, que os Estados Unidos apresentaram como uma proposta israelita, prevê uma trégua de seis semanas, a retirada das forças israelitas das zonas densamente povoadas de Gaza e a libertação de reféns.
Numa segunda fase, prevê que as tropas israelitas se retirem completamente do território palestiniano.
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, encerrou esta semana uma viagem ao Médio Oriente e garantiu que Israel aceitou a proposta.
Kirby indicou que os Estados Unidos continuam a acreditar que Netanyahu aceitou o plano e apelou novamente ao Hamas para fazer o mesmo.
Badran, representante do Hamas, reiterou na sexta-feira que o grupo islâmico aceitou o “plano Biden” originalmente apresentado e apelou a Washington para pressionar Netanyahu.
O Hamas não aceitará “nada menos do que a retirada das forças de ocupação”, inclusive do Corredor de Filadélfia, na fronteira de Gaza com o Egito, insistiu.
O gabinete de Netanyahu, cuja coligação de extrema-direita tem membros que se opõem a uma trégua, negou relatos de que o chefe do governo concordou com a retirada do sector.
Netanyahu considera que o controlo do corredor ao longo da fronteira egípcia é necessário para evitar o rearmamento do Hamas.
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