O Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) da Venezuela emitiu, nesta quinta-feira (22), a decisão definitiva sobre a eleição presidencial de 28 de julho e ratificou a vitória do presidente Nicolás Maduro para o mandato de 2025 a 2031.
“O material eleitoral pericial foi certificado em caráter irrecorrível e esta Câmara valida o resultado da eleição de 28 de julho de 2024 emitido pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que resultou na eleição do cidadão Nicolás Maduro Moros como presidente”, afirmou a presidente do Tribunal, Caryslia Rodríguez, acrescentando que a decisão não cabe recurso.
A Sala Eleitoral do TSJ também determinou que o conselho publique “o resultado definitivo” da eleição no dia Diário Oficial do país. Além disso, o Tribunal certificou que o Poder Eleitoral foi vítima de um ataque cibernético, o que teria dificultado o funcionamento da instituição.
A decisão citou o artigo 155 da Lei Orgânica dos Processos Eleitorais do país. O dispositivo define que a CNE deve publicar os dados no Diário Oficial no prazo de 30 dias após a proclamação do candidato. Como resultado, a CNE deve publicar os dados até 30 de Agosto. Nas eleições anteriores, o Poder Eleitoral publicava os dados no site algumas horas ou dias após a declaração do vencedor.
A não publicação dos dados gerou questionamentos sobre o resultado anunciado dentro e fora da Venezuela por não permitir a confirmação dos votos de cada uma das mais de 30 mil urnas.
O presidente do TSJ também leu trecho do relatório de especialistas nacionais e internacionais que analisaram os documentos eleitorais a pedido da Corte, incluindo o Conselho de Peritos Eleitorais da América Latina (Ceela) e o Observatório de Pensamento Estratégico para a Integração Regional .
“Os boletins emitidos pela CNE relativos às eleições presidenciais de 2024 são respaldados pelos atos de escrutínio emitidos por cada uma das urnas do processo eleitoral e, além disso, esta ata mantém plena coincidência com os registros nas bases de dados do centros nacionais de totalização”, leia o magistrado Caryslia.
Na quarta-feira (21), um comunicado da oposição afirmou que não reconheceria a decisão do TSJ, afirmando que seria “ineficaz e nula qualquer eventual sentença da Câmara Eleitoral que pudesse validar fraude eleitoral” e diz que, em decorrência , os magistrados do TSJ estariam “violando direitos inalienáveis dos eleitores e incorreriam em responsabilidade criminal, civil e administrativa”.
A presidente do Supremo Tribunal Federal, Caryslia Rodríguez, também disse que a decisão deveria se somar à investigação contra os responsáveis pelo site de oposição onde foram publicadas supostas atas que indicavam a vitória do opositor Edmundo.
O MP abriu esta investigação sobre alegada “usurpação de funções da CNE”, além de “falsificação de documentos públicos” e “conspiração”. O governo acusa a oposição de promover uma tentativa de golpe de Estado com a participação dos Estados Unidos (EUA).
Brasil, México e EUA
Antes de anunciar a decisão, a presidente do TSJ, Caryslia Rodríguez, reforçou a competência do Supremo Tribunal do país para resolver impasses sobre resultados eleitorais, citando o artigo 297 da Constituição Bolivariana da Venezuela.
Ela também citou a eleição brasileira de outubro de 2022, a mexicana deste ano e a norte-americana de 2000, quando George W. Bush foi eleito, como exemplos de reivindicações que foram parar no Judiciário devido a diversas polêmicas.
“Tais antecedentes deixam claro que, dada a existência de controvérsias surgidas nas eleições presidenciais, os Tribunais de Justiça com competência em matéria eleitoral constituem a última instância no mundo para a sua resolução como garantias do Estado de direito e da democracia constitucional”, disse. argumentou.
Minutas da oposição
A magistrada Caryslia Rodríguez destacou ainda que cinco dos 38 partidos chamados para examinar as eleições não entregaram o material eleitoral solicitado, assim como o candidato Edmundo González, que não compareceu ao TSJ. “Ele desafiou a autoridade judicial, demonstrando sua renúncia à ordem constitucional, conduta que acarreta as sanções previstas no ordenamento jurídico”, afirmou.
Sobre os registos eleitorais não entregues por alguns partidos da oposição, Caryslia disse que os representantes argumentaram que “não tinham qualquer tipo de documentação relativa a este processo eleitoral. Afirmaram não ter as atas do escrutínio das testemunhas às mesas nem o rol de testemunhas”.
O secretário-geral do partido Movimento Por Venezuela, Simón Calzadilla, informou que não entregou as atas porque são documentos que deveriam servir para os partidos questionarem os resultados emitidos pela CNE, o que ainda não pode ser feito porque o Poder Eleitoral não disponibilizou os dados por tabela.
“O STJ pretende privar os partidos políticos e os candidatos das únicas provas que podem comprovar e com as quais podem verificar os resultados eleitorais. Estamos aqui numa situação de intervenção e num processo de ocultação com a contribuição institucional do Poder Executivo, do Poder Judiciário e do Poder Eleitoral”, denunciou Calzadilla, em entrevista à Rádio União, na Venezuela, na semana passada.
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