Com bandeiras nas mãos e cópias impressas das atas de seus centros de votação, milhares de venezuelanos protestaram neste sábado (17) em Caracas para reivindicar a vitória da oposição nas eleições presidenciais, após as quais Nicolás Maduro foi proclamado reeleito. Maduro também convocou manifestações a favor de sua reeleição.
A ata, que se assemelha a um recibo de supermercado impresso pela urna eletrônica com os resultados registrados em cada aparelho, é o principal argumento da oposição, liderada por María Corina Machado, para alegar o que considera ser uma fraude eleitoral no dia 28 de julho.
“Não vamos sair das ruas!” alertou Machado, que saiu do esconderijo para liderar o protesto em Caracas. “Com inteligência, com prudência, com resiliência, com audácia e com paz, porque a violência lhes convém [governo]. O protesto pacífico é nosso direito.”
“Hoje temos mais força do que nunca”, declarou o líder diante de uma multidão. “A voz do povo deve ser respeitada. Que o mundo e todos na Venezuela reconheçam que o presidente eleito é Edmundo González Urrutia”, o candidato da oposição nas eleições de julho.
Machado declarou ter cópias de mais de 80% das atas que, segundo ela, comprovam a vitória de González e desmentem o resultado oficial que deu 52% dos votos a Maduro.
“Liberdade!”
A líder da oposição, que se escondeu temendo pela sua vida após as eleições, apareceu em público durante o evento. Ela chegou ao local de moto, vestindo um suéter com capuz que só tirou ao subir no caminhão usado como palco para os atos da oposição, descobriu um jornalista da AFP.
Ao passar, os manifestantes gritavam “Liberdade, liberdade!” e “Corajoso!” Algumas partes da capital estavam sob vigilância de veículos blindados da Guarda Nacional e de policiais em motocicletas.
Adriana Calzadilla, professora de 55 anos, expressou sua determinação ao participar da manifestação em Caracas: “Se ficarmos calados, isso não faz sentido. Este é um governo criminoso que quer se perpetuar no poder. Sinto cheiro de liberdade, Não tenho nada a temer”.
González ausente
González não participou da manifestação e não aparece em público desde 30 de julho.
Tal como Machado, está escondido desde que as autoridades abriram uma investigação criminal contra ambos por “instigação de rebelião”, entre outros crimes, depois de Maduro ter solicitado a sua prisão.
Em vídeo publicado nas redes sociais, González afirmou que as manifestações deste sábado “são uma força que fará com que a decisão de mudança seja respeitada”.
“Temos os votos, temos as atas, temos o apoio da comunidade internacional e temos venezuelanos determinados a lutar pelo nosso país”, acrescentou.
O apelo da oposição espalhou-se pelo mundo, reflectindo a diáspora venezuelana de quase 8 milhões de pessoas, com manifestações a decorrer desde a Colômbia até à Austrália, passando pelos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Marcha chavista
Milhares de apoiantes de Maduro começaram a reunir-se no centro de Caracas para uma manifestação em seu apoio. Maduro pediu ao Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), acusado de favorecer o governo, que “certifique” a eleição.
Uma caravana com dezenas de motociclistas saiu do povoado bairro de Petare em direção ao centro, onde se concentrava a oposição. O canal estadual VTV exibiu manifestações de apoio em outras cidades.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ainda não publicou a contagem detalhada mesa a mesa, alegando que o sistema automatizado de votação foi alvo de um “ataque ciberterrorista”.
Os Estados Unidos, a União Europeia (UE) e os países latino-americanos não reconheceram o resultado oficial da votação. O Brasil e a Colômbia lideram os esforços para encontrar uma solução política para a crise, propondo uma repetição das eleições, uma ideia rejeitada tanto pelo chavismo como pela oposição.
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