O ex-deputado e líder da oposição Williams Dávila, detido na semana passada na Venezuela no meio de uma onda de detenções por protestos contra a reeleição de Nicolás Maduro, foi hospitalizado em “estado grave”, informou esta quarta-feira o seu filho. — Ele foi internado com febre alta, desidratação grave e uma infecção urinária grave que evoluiu para prostatite aguda com risco de septicemia — disse Williams Dávila Valeri à AFP. — Ele está sendo tratado no Hospital de Clínicas Caracas sob a custódia de Sebin [serviço de inteligência]. Ainda não conseguimos ver. Valeri, que já havia relatado no X que o pai estava “em estado grave”, escreveu na rede social que, “como filho, estou consternado e profundamente preocupado”. Dávila, de 73 anos e recentemente operado ao coração, foi detido na quinta-feira passada, no final de uma vigília numa praça de Caracas que pedia a liberdade dos “presos políticos”, depois de mais de 2.400 pessoas terem sido detidas devido a protestos contra o resultado divulgado pelo pró-governo Conselho Nacional Eleitoral Venezuelano (CNE), que deu a vitória ao presidente Maduro. Segundo o jornal venezuelano Efecto Cocuyo, Dávila foi levada por homens encapuzados e vestidos de preto. “Pessoas armadas, sem uniformes e sem identificação policial ou militar, em duas motocicletas e um caminhão sem placa, prenderam seu companheiro Williams Dávila, próximo à praça Los Palos Grandes, Chacao. Não sabemos seu paradeiro ou outras circunstâncias de seu sequestro” , escreveu a Ação Democrática, citada pelo jornal, na passada quinta-feira. Mais de uma centena de activistas da oposição foram detidos este ano na Venezuela. O ex-deputado Américo De Grazia também foi detido na passada quinta-feira em circunstâncias ainda não esclarecidas. As autoridades não comentaram a prisão do líder nem os crimes de que o acusam. @@RELACIONADAS_NEWS@@ ‘Clima de medo’ O resultado divulgado pela CNE é amplamente contestado pela oposição, liderada por María Corina Machado, e parte da comunidade internacional. Corina Machado reivindica a vitória do ex-diplomata Edmundo González Urrutia e afirma ter provas que o comprovam, enquanto o governo chavista os acusa de instigar um “golpe de Estado” e exige a prisão de ambos. O Ministério Público abriu uma investigação criminal contra os líderes da oposição. A comunidade internacional manifestou preocupação com as detenções e pediu detalhes da contagem dos votos, que a autoridade eleitoral ainda não divulgou. Na terça-feira, o Gabinete dos Direitos Humanos da ONU afirmou que o elevado número de “detenções arbitrárias” e o “uso desproporcional” da força alimentam o “clima de medo”. Num comunicado, o austríaco Volker Türk disse que o número de pessoas detidas é particularmente preocupante, “acusadas de incitação ao ódio ou ao abrigo de legislação antiterrorismo”. “O direito penal nunca deve ser usado para limitar indevidamente os direitos à liberdade de expressão, reunião pacífica e associação”, disse Türk. Além dos detidos, pelo menos 25 pessoas morreram e 192 ficaram feridas durante os protestos no país, anunciou esta segunda-feira o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab. O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, por sua vez, afirmou que está “acompanhando ativamente” os acontecimentos na Venezuela e que seu gabinete recebeu “vários relatos de casos de violência” durante as manifestações. O TPI investiga há vários anos alegados crimes contra a humanidade cometidos pelo governo na Venezuela em 2017, durante protestos da oposição em que morreram mais de 100 pessoas.
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