A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, afirmou nesta quarta-feira (07) que entregará as atas em poder de seu grupo ao governo brasileiro e a outros países que solicitarem a “verificação da validade” dos documentos.
Em entrevista ao jornal O Globo, ela disse reconhecer os canais do Brasil, México e Colômbia por uma possível solução negociada com a ditadura de Nicolás Maduro.
“Temos 83,5% das atas, e temos essas atas porque os funcionários da CNE acompanharam a nossa luta. Podemos entregar as atas eleitorais ao governo do Brasil, e a qualquer outro governo do mundo que queira verificar a validade do que nós que obriguem o regime a entregar a sua acta”, afirmou o opositor.
“Essas atas seriam a prova de fraude, as nossas são a prova da vitória do Edmundo. A CNE tinha 48 horas, e os prazos expiraram. fazê-lo é inconstitucional. A responsabilidade é da CNE”, continuou.
Mais cedo, à Globonews, o assessor especial de relações internacionais do Planalto, Celso Amorim, questionou os dados da oposição.
Até à data, o Conselho Nacional Eleitoral não entregou os registos de votação que comprovariam a declaração de vitória de Maduro. Enquanto isso, a oposição apressou-se em reunir o máximo de minutos possível que comprovasse o resultado favorável para Edmundo González Urritia.
Além da ata emitida pela CNE ao final da totalização, cada urna emite uma ata própria que é entregue ao fiscal de urna. Estas são as atas que a oposição afirma ter recolhido. Investigações independentes realizadas por organizações e jornais também indicam tendência de vitória de González Urrutia e países como Estados Unidos, Uruguai e Argentina já reconheceram a vitória do adversário. O Brasil limita-se a exigir a publicação da ata pela CNE.
María Corina também reconheceu os esforços do Brasil, México e Colômbia para criar canais de diálogo em meio à situação.
“Reconheço o esforço [do Brasil] e penso que é necessário que haja um espaço de mediação entre as partes para que o conflito possa ser resolvido de forma pacífica e o mais rapidamente possível.”
“Os três países têm canais de diálogo com os dois lados e a sua presença é importante. Mas outros países da América Latina e da Europa também deveriam estar presentes. [estes três países] estamos levando o processo adiante”, continuou.
Questionada se havia tentado entrar em contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, María Corina evitou responder diretamente.
“Falo com muitos presidentes, e com alguns não falo. Falo com ministros das Relações Exteriores e tenho comunicação com o governo do Brasil. Quero reiterar minha gratidão ao presidente Lula e ao seu Ministério das Relações Exteriores pelos esforços para assumir o proteção da embaixada e das funções consulares da Argentina, incluindo a proteção dos nossos seis funcionários”, afirmou.
A dirigente comentou a prisão da sua chefe de campanha regional no estado de Portuguesa, María Oropeza, gravada ontem em transmissão ao vivo.
“Ela foi sequestrada por órgãos de segurança do Estado. A repressão atingiu também os bairros mais humildes. Eles prendem pessoas que simplesmente protestaram contra a fraude. É brutal”.
Também hoje, o chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim, que esteve em Caracas em dias de eleições como observador pelo Brasil, disse temer um conflito mais grave no país onde mais de 2 mil pessoas já foram presos e mais de 20 já morreram desde os protestos pós-eleitorais.
“Temo muito que possa haver um conflito muito grave. Não quero usar a expressão guerra civil, mas conflito eu temo muito”, disse ele em entrevista à Globonews.
Numa carta assinada por María Corina e Edmundo González – como presidente eleito –, pedem que as Forças Armadas fiquem ao lado do povo e parem de reprimir os protestos, sugerindo que as tropas abandonem o apoio a Maduro. Os militares, porém, reforçaram a sua lealdade ao chavismo após o apelo.
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