O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, prometeu, nesta quarta-feira (31), entregar “100% dos documentos” da votação contestada que resultou em sua reeleição, enquanto a oposição denuncia uma “escalada cruel e repressiva” contra seus membros.
Os líderes da oposição María Corina Machado e o seu candidato presidencial, Edmundo González Urrutia, alegam fraude, afirmam que venceram as eleições e apelam ao fim da repressão que desde segunda-feira deixou pelo menos 12 mortos, dezenas de feridos e resultou em mais de mil prisões.
O presidente socialista foi reeleito para um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos em relação a González Urrutia, segundo o resultado publicado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão alinhado ao governo.
“Eu digo, como líder político, filho do Comandante [Hugo] Chávez, que o Grande Pólo Patriótico e o Partido Socialista Unido da Venezuela [PSUV] estão prontos para apresentar 100% das atas. Serão conhecidos muito em breve, porque Deus está connosco e as provas já apareceram”, disse Maduro esta quarta-feira aos jornalistas na sede do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ).
“Estou disposto a ser convocado, interrogado, em todas as suas partes, investigado pela câmara eleitoral como o candidato presidencial vencedor nas eleições de domingo”, acrescentou.
Por sua vez, María Corina Machado denunciou na rede social X “a escalada cruel e repressiva do regime”, e garantiu que 16 pessoas morreram em protestos contra o governo nas últimas 48 horas.
Segundo relatório anterior, apresentado na terça-feira por quatro organizações de direitos humanos, os protestos, que começaram na segunda-feira em Caracas e outras cidades do país, deixaram 11 civis mortos, além de dezenas de feridos.
O procurador-geral da Venezuela, Tareck William Saab, também relatou a morte de um soldado, bem como 77 feridos e 1.062 prisões.
Foto: Juan Calero/AFP
A CNE informou que, durante o dia de domingo, houve uma invasão do seu sistema automatizado de votação. Maduro afirma que houve uma “tentativa de golpe de Estado através do processo eleitoral”.
Machado afirma ter em seu poder cópias de 84% das atas de votação que demonstram a suposta fraude e publicá-las em site.
A pressão da comunidade internacional para uma recontagem de votos e o fim da repressão não cessa.
“A nossa paciência, e a da comunidade internacional, está a esgotar-se à espera que as autoridades eleitorais venezuelanas digam a verdade e publiquem todos os dados detalhados destas eleições para que todos possam ver os resultados”, afirmou o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
Anteriormente, o presidente colombiano Gustavo Petro, aliado de Maduro, havia pedido uma “contagem transparente, com contagem de votos, documentos e com a observação de todas as forças políticas do seu país e observação internacional profissional”.
O G7 também apelou “às autoridades competentes para publicarem resultados eleitorais detalhados com total transparência”.
O Centro Carter, convidado pela CNE para observar as eleições, disse na noite de terça-feira que as eleições presidenciais não cumpriram “os parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não podem ser consideradas democráticas”.
“Calma”
O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, disse que González Urrutia e Machado “deveriam ser presos”, depois de acusá-los de serem responsáveis pelos protestos pós-eleitorais.
Maduro elevou o tom contra González Urrutia e advertiu-o de que “a justiça virá” ao seu adversário.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que as autoridades venezuelanas “devem pôr fim às detenções, à repressão e à retórica violenta contra membros da oposição”.
“As ameaças contra Edmundo González Urrutia e María Corina Machado são inaceitáveis”, afirmou na rede social X.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fez “um apelo firme à calma, ao civismo e à garantia dos direitos fundamentais para todos os venezuelanos”.
Aliado de Maduro, o presidente do México, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, rejeitou uma reunião convocada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para tratar do tema e criticou a “parcialidade” deste organismo internacional.
“Não ajuda procurar uma solução pacífica e democrática para um conflito num país latino-americano”, disse ele.
Desde que começaram os protestos contra a recontagem dos votos, a capital Caracas permaneceu praticamente paralisada, com a maioria das empresas fechadas e os transportes públicos muito escassos.
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