O jornalista Manuel Quilarque viajou de São Paulo a Brasília para votar nas eleições que escolherão o próximo presidente da Venezuela, que governará o país sul-americano entre 2025 e 2031. Ele e outros eleitores que estiveram no posto de votação da Embaixada da Venezuela, na capital do Brasil, neste domingo (28), manifestaram o desejo de mudanças e que os resultados das urnas sejam respeitados pelas autoridades.
“Temos muita esperança de que conseguiremos recuperar a liberdade no nosso país, de que finalmente poderemos ter um processo de reinstitucionalização. E também que as pessoas que estão fora da Venezuela, em situação de vulnerabilidade, que passam por muitas dificuldades, possam finalmente regressar ao país em condições favoráveis”, afirmou.
O atual presidente, Nicolás Maduro, está no poder desde 2013 e enfrenta nove concorrentes nas eleições de hoje. Esta é a primeira eleição desde 2015 em que toda a oposição concordou em participar. Desde 2017, os principais partidos da oposição boicotam as eleições nacionais.
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Segundo o jornalista, que mora no Brasil há 15 anos, dos cerca de 500 mil venezuelanos que vivem no país, apenas 1.059 conseguiram se registrar para votar. Atuante há muitos anos, ele diz que não teve dificuldade em votar. Já seu irmão, que mora na Espanha, não conseguiu se inscrever para participar da eleição.
Quilarque diz que o sistema eleitoral é confiável, mas que outras questões afetam o pleito como um todo.
“Essa fraude não vem no sistema eleitoral, não vem na urna eletrônica, não vem na apuração, vem antes. Chega quando não deixam você se cadastrar, quando não deixam você votar por algum motivo, quando o servidor é obrigado a tirar foto e enviar, quando há voto assistido”, disse o jornalista que aposta numa provável vitória do principal candidato da oposição. , Edmundo González Urrutia.
As pesquisas eleitorais da Venezuela divergem quanto ao resultado das eleições presidenciais. Enquanto algumas pesquisas dão uma vitória a Edmundo González Urrutia com ampla margem, outras pesquisas apontam para uma vitória do atual presidente Nicolás Maduro, também com uma margem confortável.
Dificuldades
Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro rompeu relações com o governo venezuelano e todos os consulados do Brasil foram fechados, restando apenas o posto de votação na embaixada em Brasília. Além dos entraves burocráticos, questões logísticas e financeiras dificultam a participação nas eleições.
“Devem ter votado no máximo 30 pessoas”, avalia Quilarque. “Porque se você mora, por exemplo, em Manaus, em Boa Vista, são lugares muito distantes, são pessoas que já estão em situação de vulnerabilidade e pegam avião Há um custo em vir para cá”, disse o jornalista.
O relatório de Agência Brasil não conseguiu entrar em contato com as autoridades da embaixada da Venezuela em Brasília. O responsável pela portaria do site informou apenas que a votação estava ocorrendo normalmente. O painel fixado no exterior contabilizou os 1.059 eleitores aptos a votar no país.
Em todo o mundo, os venezuelanos relataram dificuldades para votar no exterior. Dos quase 8 milhões de emigrantes do país, metade tem idade suficiente para votar, mas poucos superaram os obstáculos burocráticos.
A advogada Paula Marcondes foi uma das venezuelanas que não conseguiu recensear-se para votar, mas foi à embaixada manifestar o seu apoio à oposição do governo de Nicolás Maduro. “Minha expectativa é que finalmente, depois de 24 anos, consigamos mudar alguma coisa para melhor”, disse ela, que tem duas filhas e apenas uma pode votar nas eleições. “O que esperamos é um resultado enorme e impossível de esconder”, acrescenta.
A analista de sistemas Sônia Mejia também viajou de São Paulo a Brasília para votar. Está no Brasil há 17 anos onde trabalha com confeitaria. Ela espera que “a vontade de todos os venezuelanos” seja respeitada e que o país consiga “sair desta situação”.
“Que seja um resultado para o progresso da Venezuela, uma Venezuela livre, próspera, abundante e florescente”, disse ele. “Queria fazer o meu voto e fazer alguma coisa para mudar, porque acredito que, se quisermos mudar no mundo, no país, em qualquer coisa, é preciso fazer alguma coisa. Então, eu queria exercer o meu direito e votar, e aqui estou, já votei, estou feliz. E esperamos que tudo seja para o bem da Venezuela”, acrescentou.
Economia
O país sul-americano enfrenta um bloqueio financeiro e comercial desde pelo menos 2017, quando potências como os Estados Unidos, o Canadá, o Reino Unido e a União Europeia começaram a não reconhecer a legitimidade do governo Maduro. O país vizinho também passou por uma grave crise econômica no período, com hiperinflação e perda de cerca de 75% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), o que resultou na migração de mais de 7 milhões de pessoas.
Desde meados de 2021, o país tem apresentado alguma recuperação económica. A hiperinflação foi controlada e a economia voltou a crescer em 2022 e 2023, no entanto, os salários continuam baixos e os serviços públicos deterioram-se.
Desde 2022, o embargo económico foi parcialmente flexibilizado e foi assinado um acordo entre a oposição e o governo para as eleições deste ano. No entanto, relatos de detenções de opositores nos últimos dias e recusas em assinar um acordo para respeitar o resultado eleitoral por parte de alguns candidatos da oposição, incluindo o favorito Edmundo González, lançaram dúvidas sobre o dia seguinte à votação.
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