O acordo assinado entre as principais organizações palestinas – Hamas e Fatah – e outros 12 grupos políticos da nação árabe é uma resposta à guerra na Faixa de Gaza, considerada um genocídio por algumas organizações e países. A avaliação foi feita pelo embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben.
“Esta unidade nacional é uma resposta contra o genocídio e contra as decisões de Israel de não reconhecer o outro e de persistir na ocupação do território palestiniano. A unidade nacional é fundamental para alcançar a criação de um Estado da Palestina soberano e independente”, disse Alzeben, representante da Autoridade Palestina no Brasil.
Para ele, a divisão entre os grupos prejudica a causa palestina. Apenas a Jihad Islâmica foi contra o acordo, segundo o diplomata. “Está tudo bem, é saudável ter alguma oposição”, disse ele.
Adversários antes do 7 de outubro, Fatah e Hamas – junto com outros 12 grupos – assinaram um acordo nesta terça-feira (23), em Pequim, na China, para acabar com as divisões internas e criar uma unidade nacional para lutar pela libertação da Palestina contra a ocupação israelense.
A declaração assinada prevê também um governo interino com a participação de todos os grupos para levar a cabo a reconstrução de Gaza e eleições gerais. A negociação foi mediada pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, que participou da cerimônia de assinatura do acordo.
“[Os grupos] concordamos em realizar a unidade nacional entre todas as facções sob a estrutura da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o único representante legítimo do povo palestino”, disse a porta-voz chinesa Mao Ning.
Mundo multipolar
O presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil, Ualid Rabah, destacou que os grupos palestinos conseguiram entender que a unidade é necessária para a libertação do país.
“Os palestinos finalmente viram as costas aos donos do seu genocídio e dão as mãos àqueles que construirão o mundo que libertará a Palestina. O mundo multilateral, o mundo dos BRICS, que estão a redesenhar o mundo e a redesenhar a questão palestiniana. O acordo tem lugar na principal potência desafiante do Ocidente, que é a China, ao mesmo tempo que as conversações também decorrem em Moscovo”, observou.
Brics é o bloco de países formado por Brasil, Rússia, China, África do Sul e Índia, entre outros.
Historicamente divididos desde a guerra civil palestina de 2005, que separou o território palestino, deixando a Faixa de Gaza sob o controle do Hamas e a Cisjordânia sob o controle do Fatah, as disputas internas entre grupos políticos palestinos tornaram inviável a unidade mínima.
Para Ualid, a guerra em Gaza conseguiu pôr fim às divisões internas. “O acordo entre os palestinianos é um caso de força maior face ao genocídio, face ao extermínio, face ao colonialismo, face à apartheid. Nossa realidade é de combate existencial”, acrescentou.
Israel
O governo israelense condenou o acordo, criticando a união do Fatah com o Hamas, de acordo com uma declaração do ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz.
“Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmoud Abbas [líder do Fatah] abraça os assassinos e violadores do Hamas, revelando a sua verdadeira face. Na realidade, isto não acontecerá porque o governo do Hamas será esmagado e Abbas estará a vigiar Gaza de longe. A segurança de Israel permanecerá exclusivamente nas mãos de Israel”, disse o ministro das Relações Exteriores israelense.
Direito internacional
Segundo Pequim, a declaração conjunta dos 14 grupos palestinianos compromete-se com uma solução de dois Estados, com um Estado independente da Palestina com Jerusalém Oriental como capital. Para o fazer, confiarão nas resoluções das Nações Unidas (ONU) para garantir a integridade do território palestiniano, incluindo a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza.
O acordo também prevê a realização de uma conferência internacional mediada pela ONU com a participação de todos os atores influentes no conflito. O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse que os grupos concordaram em respeitar o direito internacional.
“Esta reunião em Pequim deixou muito claro que o direito internacional é absolutamente respeitado. A luta contra a ocupação também faz parte deste direito internacional”, afirmou o diplomata, citando a recente decisão do Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), ligado à ONU, que considerou ilegal a ocupação dos territórios palestinianos por Israel.
Os Estados Unidos condenaram a decisão do tribunal, dizendo que dificulta os esforços para resolver o conflito. Estima-se que mais de 700 mil israelenses vivam na Cisjordânia, ocupando 300 assentamentos considerados ilegais, segundo a ONU.
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