O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, liderou os conservadores em uma campanha que resultou em uma derrota histórica para o partido, conforme indica a pesquisa de boca de urna divulgada nesta quinta-feira (04).
Mas Sunak trouxe consigo a história dos seus 4 antecessores que lideraram o partido e o país durante 14 anos marcados pela saída da União Europeia (Brexit), pela pandemia de covid-19 e pela subida mais forte da inflação desde a década de 1970.
1) David Cameron – A cronologia do mandato conservador começa em 2010, quando David Cameron enfrentou a impopularidade do Partido Trabalhista, que estava no poder há 13 anos. O primeiro-ministro da época era Gordon Brown, sucessor de Tony Blair, que deixou para trás a impopular participação britânica na Guerra do Iraque. Infeliz, o eleitorado deu a Cameron a oportunidade de governar, mas a eleição resultou num governo de coligação, que incluía os Liberais Democratas como parceiros.
Já nessa altura, o partido estava profundamente dividido quanto à sua relação com a UE. Para aplacar a ala pró-divórcio do bloco, Cameron prometeu que convocaria um referendo para definir a questão, embora tenha feito campanha contra a saída. O compromisso funcionou a curto prazo porque ajudou os conservadores a conquistar a maioria no Parlamento nas eleições de 2015. Mas o resultado do referendo em 2016 surpreendeu o mundo, levou a uma liquidação do mercado e deixou a elite política em estado de choque. Por uma margem estreita de 52% contra 48%, o Reino Unido decidiu sair da UE e, contrariado, Cameron demitiu-se do cargo.
dois) Theresa May – Para sucedê-lo, o partido escolheu Theresa May, uma política moderada que fez campanha pelo Remain, mas que desde então adotou uma espécie de slogan para tranquilizar os apoiadores da cisão: “Brexit significa Brexit” (Brexit significa Brexit, em inglês). tradução). A frase foi repetida inúmeras vezes, mas May enfrentaria uma série de dificuldades para cumpri-la. Internamente, May esteve sob pressão de ambos os lados da questão, desde aqueles que queriam uma saída rápida e radical até aqueles que defendiam a realização de um segundo referendo. Em Bruxelas, a UE quis definir os seus próprios termos para um processo sem precedentes.
Numa tentativa de garantir o apoio público, May convocou eleições antecipadas para o Parlamento em Junho de 2017, numa altura em que tinha uma vantagem sólida sobre a oposição liderada por Jeremy Corbyn nas sondagens. No final, a vantagem evaporou-se ao longo da campanha e os conservadores perderam a maioria absoluta no Parlamento. Para governar, eles tiveram que entrar em uma coalizão
O acordo tornou a tarefa de negociar uma saída da UE ainda mais difícil. Nos anos seguintes, May apresentou diferentes propostas para um acordo com a UE, todas rejeitadas no Parlamento. Uma delas resultou na maior derrota que um governo já teve na Câmara dos Comuns, com margem de 230 votos. Enfraquecida pelo revés, May renunciou em 2019 e deu lugar a Boris Johnson, que tinha sido uma das principais figuras da campanha do Brexit.
3) Boris Johnson – Johnson aproveitou a profunda divisão na oposição para assumir o controle da agenda, numa manobra que culminou numa vitória confortável do Partido Conservador nas eleições de 2019. Com maioria absoluta, Johnson conseguiu negociar o Brexit. Contudo, apenas três meses após as eleições, os primeiros casos de covid-19 começaram a circular na Europa. Em apenas algumas semanas, o Reino Unido tornou-se um dos principais epicentros da doença. A crise sanitária levou a uma forte recessão e ao consequente aumento da despesa pública.
A conta viria a partir de 2021, na forma de inflação. No auge da alta dos preços, o país tornou-se o membro do G7 com a maior taxa de inflação, acima de 10% nos últimos 12 meses. Apesar disso, o que derrubaria Johnson já havia acontecido algum tempo antes. No final de 2021, começaram a circular alegações de que funcionários do governo teriam dado festas em Downing Street no Natal de 2020, quando um bloqueio rigoroso estava em vigor no país. Os relatos multiplicaram-se e evoluíram para um escândalo (o “partygate”), que levou à demissão de Johnson em julho de 2022.
4) Liz Truss – A saída de Johnson abriu uma intensa disputa pela liderança do Partido Conservador entre a então ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak. Com uma plataforma que prometia cortes de impostos bilionários, Truss foi escolhida por membros do partido e se tornou a terceira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na história do país.
No dia seguinte à posse de Truss, a morte da Rainha Elizabeth II paralisou a política britânica durante uma semana. Após o período de luto, Truss anunciou um pacote fiscal expansionista abrangente que incluía 45 mil milhões de libras em cortes de impostos sem qualquer provisão para financiamento. Entre as mais polêmicas estava a eliminação do imposto de 45% para os mais ricos.
A reacção do mercado foi imediata: a libra caiu para o nível mais baixo da história, enquanto o prémio cobrado pelos Gilts, títulos do governo britânico, disparou. Truss até tentou recuar em alguns pontos do pacote, mas o desgaste se mostrou demais. O primeiro-ministro renunciou após apenas seis semanas no cargo.
5) Rishi Sunak- -Em seu lugar, o partido optou por confiar no candidato que havia terminado a corrida pela liderança anterior em segundo lugar, Rishi Sunak. Logo no início do mandato, no final de 2022, Sunak prometeu reduzir pela metade a inflação e conter a imigração ilegal para o país. A primeira promessa foi cumprida – em Maio, o índice de preços no consumidor (IPC) subiu a uma taxa anual de 2,0%, dentro do objectivo do Banco de Inglaterra (BoE).
O compromisso em matéria de imigração, no entanto, revelou-se um pouco mais difícil. Como resultado, os conservadores começaram a enfrentar a pressão da extrema direita, liderada pelo populista Nigel Farage. Em Maio, o partido no poder sofreu pesadas derrotas nas eleições para cargos locais. Mas, com o foco no alívio inflacionário, Sunak decidiu antecipar as eleições parlamentares para hoje.
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