Um relatório divulgado esta quinta-feira pelo governo sul-coreano acusou o regime norte-coreano de apertar o cerco aos valores culturais e às manifestações vindas do Ocidente e, especialmente, do seu vizinho do sul. O documento, do Ministério da Unificação, apresenta relatos atribuídos a dissidentes que incluem uma suposta execução de um jovem flagrado assistindo filmes e ouvindo músicas de artistas sul-coreanos.
“Em 2022, vi uma execução pública numa mina na província de Hwanghae do Sul”, diz o relato, feito por um homem que desertou para a Coreia do Sul em 2023. “[O réu] era um trabalhador rural de 22 anos, e um juiz no local da execução disse que ele era um ‘fantoche’ [da Coreia do Sul]e que foi preso depois de ouvir 70 músicas e ver três filmes.”
Num outro caso, relatado por uma mulher que desertou da Coreia do Norte no ano passado, as autoridades mostraram um vídeo sobre a chamada Lei de Rejeição Cultural da Ideologia Reaccionária, adoptada em 2020 e que prevê punições severas para quem consome música, filmes e novelas. provenientes de países considerados hostis, incluindo a pena de morte.
Segundo a norte-coreana, o vídeo afirmava que as noivas que usavam vestidos brancos no casamento, e eram carregadas pelos noivos na cerimônia, “eram exemplos” de atitudes repreensíveis. Tradicionalmente, os casais usam ternos e hanbok, vestido típico coreano, quando se casam no país. O vídeo também decretava que beber vinho em taças, usar vários acessórios ao mesmo tempo, inclusive óculos de sol, eram ações “reacionárias” — o líder do país, Kim Jong-un, já foi filmado e fotografado diversas vezes usando óculos escuros.
— Temos outros depoimentos de que esse conteúdo foi incluído no material da palestra sobre a Lei de Rejeição Cultural da Ideologia Reacionária, criada pelas autoridades norte-coreanas — disse um representante do Ministério da Unificação à Yonhap. — Ao contrário do líder supremo, há uma percepção na Coreia do Norte de que os cidadãos que usam óculos comuns são reacionários.
Relatos de perseguição a pessoas que consomem música, novelas e séries sul-coreanas no Norte não são novos. No passado, quando os materiais só estavam disponíveis na forma de CDs e DVDs, dissidentes alegavam que as autoridades, antes de realizar uma operação, apagavam as luzes de uma determinada área para evitar que as pessoas retirassem os discos dos aparelhos.
Com o tempo, os CDs foram substituídos por pendrives, e até enviados através de balões através da fronteira, estratégia recentemente assumida com força por grupos de oposição ao regime, para um público cada vez mais cativo e aparentemente alheio aos riscos.
— Não sei se devo dizer isso, ou se posso dizer, mas eles conhecem todas as nossas músicas. Não sei se eles deveriam mostrar que sabem [nossas músicas]mas eles iam ao banheiro, secretamente, e diziam “ei, sou sua fã” — disse, no ano passado, a cantora sul-coreana Ailee, que fez uma rara apresentação em Pyongyang em 2018, como parte de uma iniciativa de aproximação entre os dois lados do Paralelo 38.
Desde o fracasso das negociações entre a Coreia do Norte e os EUA, então liderados por Donald Trump, em 2019, o regime liderado por Kim Jong-un distanciou-se das iniciativas de normalização com o sul, algo agravado durante o isolamento durante a pandemia. da Covid-19. Em 2020, um escritório de contacto na fronteira entre os dois países foi explodido e os poucos canais diretos foram sendo eliminados, inclusive entre comandos militares. Em Janeiro, Pyongyang abandonou formalmente o objectivo da reunificação e ordenou que a Constituição fosse alterada para designar a Coreia do Sul como “o principal inimigo”.
Nesse período, foram adotadas normas mais duras de controle da sociedade e de imposição dos valores coreanos —uma delas, de 2023, impede o uso de expressões do dialeto sul-coreano, diferente daquele falado hoje no Norte. Assim como a norma relativa ao K-Pop e ao comportamento “reacionário”, a legislação prevê a pena de morte em determinados casos. No relatório do Ministério da Unificação sul-coreano, há relatos de dissidentes sobre inspeções aleatórias nos celulares dos cidadãos para verificar se estão usando expressões ou gírias proibidas.
Dado o baixo grau de transparência do regime, e praticamente nenhum acesso à informação obtida de forma independente no país, o próprio Ministério da Unificação reconhece as dificuldades em confirmar os relatos dos dissidentes — não são raros os casos em que a informação até certo ponto Histórias bizarras vindas da Coreia do Norte são divulgadas como se fossem verdadeiras e replicadas pelos meios de comunicação de todo o mundo, mas nunca são confirmadas ou mais tarde revelam-se falsas.
Pyongyang não comentou o documento.
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