![SP: operação da Polícia Civil despeja projeto social na Cracolândia SP: operação da Polícia Civil despeja projeto social na Cracolândia](https://i0.wp.com/imagens.ebc.com.br/2_22X3iHgmgzwMwzSoZR0kQWGcY=/1600x800/https://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/default/files/atoms/image/1103102-1061264-10.01.2016_rvrs-6721_1.jpg?itok=5x3S-zwr&w=1200&resize=1200,0&ssl=1)
O projeto Tratamento Teto Trampo (TTT), que oferece moradia e apoio terapêutico a 25 pessoas na Cracolândia, centro de São Paulo, foi despejado do hotel que ocupava há um ano. Alugado para oferecer residência a pessoas em situação de desproteção social, o estabelecimento foi um dos alvos da operação policial deflagrada na última quinta-feira (13).
Segundo a Polícia Civil de São Paulo, pelo menos 28 hotéis e pousadas da região central fazem parte de esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.
Segundo a polícia, 140 mandados de busca e apreensão foram autorizados pela Justiça. Também foi determinada a interrupção das atividades econômicas dos estabelecimentos investigados. Segundo a investigação, os locais também são utilizados para esconder drogas, servindo de apoio ao tráfico.
Hotéis baratos
No entorno das estações de metrô e trem Luz e Júlio Prestes, existem diversos hotéis e pousadas de baixo custo. Esses estabelecimentos estão ligados à história do bairro, por onde chegavam viajantes de outras partes do estado de São Paulo e do país. A principal rodoviária da capital paulista ficava na região, mas foi desativada no início da década de 1980 e substituída pelo terminal Tietê, na zona norte.
Atualmente, os hotéis atendem uma população muito pobre, moradores de rua que acabam conseguindo dinheiro suficiente para uma estadia de algumas noites ou um banho. Os quartos também são usados para prostituição e uso de drogas.
Em 2017, quando foi deflagrada uma megaoperação policial contra a Cracolândia, o fechamento de estabelecimentos com tais características jogou de volta às calçadas as pessoas socialmente desprotegidas que estavam hospedadas nesses hotéis.
Trabalho perdido
O hotel ocupado pelos beneficiários do projeto social passou por melhorias feitas pelos próprios beneficiários. “Há uma questão do trabalho que o projeto tem feito até agora, de as pessoas se apropriarem e cuidarem, de construírem o seu lugar, [que] será completamente desfeito”, afirma o psiquiatra Flávio Falcone, idealizador do projeto.
A TTT baseia-se na ética da redução de danos e na ideia de “habitar primeiro”, que estabelece que o ponto de partida de um processo de organização pessoal começa com a garantia de um teto sobre sua cabeça. Além de oferecer moradia e alimentação, a iniciativa organiza atividades culturais que envolvem os beneficiários de forma remunerada.
Todas as quintas-feiras, Falcone, que também trabalha como palhaço, vai com uma trupe ao córrego Cracolândia, centro de concentração de moradores de rua e usuários de drogas, para uma intervenção artística, que mistura música, palhaçada e show de talentos.
Falcone tenta agora transferir os beneficiários para outro hotel que não corra risco de encerramento iminente. “A moradia é condição primordial para a oferta de qualquer outra forma de cuidado, como assistência jurídica, médica, social e integração em projetos de autonomia via geração de renda”, enfatiza o médico.
Proprietário nega acusações
O proprietário do hotel que abriga o empreendimento nega as acusações de envolvimento com o crime organizado. Marcelo Carames, que apareceu em diversas reportagens sobre a operação como líder de uma facção criminosa, diz que não possui nenhum imóvel na região e que aluga quatro prédios nos quais oferece serviços de hospedagem, com diárias de R$ 30. para solteiros e R$ 40 para casal.
“A maioria [dos hóspedes] É sobre pessoas em situação de rua que, às vezes, não têm onde tomar banho, não têm onde trocar de roupa, às vezes nem onde dormir. Infelizmente, se eu não alugar para essas pessoas, não pagarei minhas contas”, diz em entrevista ao Agência Brasil.
Carames diz que foi trabalhar na região por falta de opções após passar 20 anos preso. Atualmente, ele relata que mantém quatro pousadas. Ele enviou ao relator o termo de um acordo feito com a Receita Federal para regularizar o pagamento de tributos vencidos.
Com a repercussão do caso, Caranes conta que sua filha de 6 anos começou a sofrer assédio na escola. “Não escolhemos esta região, não escolhemos ter usuários [de drogas] como convidado não escolhemos nada disso”, argumenta.
Ele diz que ainda não teve acesso à investigação, que está sob sigilo.
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