O monitoramento ilegal de jornalistas por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro é considerado um ato de violência e uma tentativa de violação do trabalho desta categoria. A avaliação é realizada por entidades representativas dos profissionais de imprensa.
Investigação da Polícia Federal (PF) revela que agentes lotados na Abin usaram ferramentas de espionagem adquiridas pelo órgão para monitorar movimentos de autoridades do Judiciário, do Legislativo e da Receita Federal, além de figuras públicas, como jornalistas. Os atos irregulares teriam ocorrido durante o governo de Jair Bolsonaro.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) considera que as atividades da chamada Abin Paralela foram ilegais e criminosas e um evidente atentado à liberdade de imprensa.
“O uso ilegal e abusivo de serviços de espionagem foi uma tentativa explícita do governo Bolsonaro de violar o livre exercício do Jornalismo e o sigilo da fonte. Já havíamos reportado esta situação em janeiro deste ano, quando foi realizada a Operação Close Surveillance. Tanto que solicitamos acesso à lista de pessoas espionadas na época, mas não obtivemos informações porque o processo era sigiloso”, diz a entidade, em nota.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também repudia os atos cometidos pela chamada Abin Paralela, sob o comando do delegado da PF Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
“A Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI (CDLIDH) repudia o uso de Programas de propriedade federal para espionar e monitorar a atividade profissional de jornalistas e agências de checagem de fatos. A CDLIDH repudia este comportamento inaceitável, que representa uma total afronta à privacidade dos profissionais e das organizações e um ataque ao Estado Democrático de Direito”, afirma a entidade, em nota enviada ao Agência Brasil.
Em fevereiro deste ano, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP), em conjunto com a ABI e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), protocolaram no Supremo Tribunal Federal um pedido de divulgação dos nomes dos jornalistas. jornalistas que foram espionados ilegalmente pela Abin Paralela. Segundo o SJSP, a base legal para o pedido das entidades estava relacionada à questão do direito constitucional ao sigilo das fontes na prática jornalística, bem como ao direito à privacidade de todo cidadão brasileiro.
“Ao tomar conhecimento da investigação que revelou a história de uma ‘Paralela Abin’ que trabalhava para o governo Bolsonaro para espionar ilegalmente opositores, políticos e jornalistas, entendeu-se que é fundamental que essa história seja esclarecida”, disse no pedido o presidente da União, Thiago Tanji.
Surpresa
Segundo a PF, os jornalistas monitorados eram Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista. Em entrevista ao canal Band News, Mônica Bergamo disse que foi uma surpresa descobrir seu nome entre os monitorados.
“É abjeto ter um aparato estatal monitorando pessoas que eles imaginam que podem, de alguma forma, minar o seu governo. É uma sensação muito estranha”, disse o jornalista. Ela lembrou que, além de monitorar suas conversas, houve uma tentativa de difamação, com a ideia de fazer uma ligação entre o profissional e Adélio Bispo, responsável pelo ataque ao então presidenciável Jair Bolsonaro, em 2018.
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