A Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OABRJ) levará ao Supremo Tribunal Federal o caso da absolvição dos policiais pela morte do jovem João Pedro Mattos Pinto. Em nota, a instituição repudiou a decisão que absolveu sumariamente os policiais.
João Pedro, na época com 14 anos, foi baleado nas costas dentro da casa do tio, na tarde do dia 18 de maio de 2020, durante ação conjunta da Polícia Federal e da Polícia Civil do Rio de Janeiro na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.
A OABRJ, por meio da Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ), criticou a decisão da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, que absolveu sumariamente os três policiais acusados pela morte de João Pedro.
Em nota, a seção afirmou que solicitará a reavaliação da sentença pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro para que o caso, que é de extrema gravidade, não seja marcado pela impunidade como a maioria dos casos envolvendo policiais letalidade no Brasil. Ele acrescentou que comunicará a decisão ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, responsável pela reportagem da ADPF 635 (ADPF das Favelas).
“O diálogo com o STF é fundamental, pois a impunidade dos agentes públicos é um dos principais fatores que contribuem para a criminalidade negra que atinge pessoas negras de pele, chão e bolsos nas favelas e periferias do estado do Rio de Janeiro”, diz a nota.
“É fundamental nos solidarizarmos com a família de João Pedro, que tem lutado pela Justiça e pela memória do menino, fazendo desta luta uma trincheira coletiva para todos que se rebelam contra a violência policial e o cenário de absoluta desumanização perpetrado pelas forças policiais no estado do Rio de Janeiro”, diz a OABRJ. “Vale lembrar que no estado do Rio de Janeiro, mais de um terço das mortes violentas resultam de intervenção policial e mais de 72% das mortes por armas de fogo são de pessoas negras.”
Protestos
Os familiares do adolescente João Pedro protestaram nesta quinta-feira (11), em frente ao Tribunal de Justiça, contra a decisão judicial que absolveu os agentes envolvidos. A família esperava que o caso fosse levado a júri popular. “Esta é uma sentença sem qualquer responsabilidade, perante a família, perante a sociedade. Esperamos mudar esta situação [da absolvição]”, disse o pai de João Pedro, Neilton da Costa Pinto.
“A verdade é que entraram numa casa onde só havia adolescentes brincando e dispararam diversas armas de fogo. Não tem como um agente público entrar numa casa onde só tem adolescentes, disparando mais de 70 tiros, sem ter a intenção de matar”, destacou.
Três policiais, Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister, foram indiciados pelo Ministério Público em 2022, por duplo homicídio. Mas na última quarta-feira (10), a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine os absolveu sumariamente. O juiz, após análise das provas e depoimentos, entendeu que os agentes agiram em legítima defesa.
A Amnistia Internacional também criticou a decisão. Para a Anistia, transmite a ideia de impunidade nos casos de mortes decorrentes de ações policiais em favelas.
“[A absolvição] passa a mensagem de que as favelas são territórios de exceção onde qualquer morte causada por ação policial permanecerá impune”, afirma a Anistia Internacional, em comunicado divulgado nesta quarta-feira (10).
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