Quatro praias são eleitas para se tornarem santuário do surfe nacional

A comunidade surfista brasileira escolheu quatro praias para se tornarem Reservas Nacionais de Surf. Isso significa que os locais escolhidos serão tratados e preservados a ponto de se tornarem santuários da prática esportiva.

As praias escolhidas são do Francês, em Marechal Deodoro (AL), Itamambuca, em Ubatuba (SP), Regência, em Linhares (ES), e Moçambique, em Florianópolis (SC). O processo seletivo foi realizado em parceria com as organizações civis ambientais Instituto Aprendir Ecologia e Conservação Internacional (CI-Brasil).

A ideia inicial era escolher uma praia entre as cinco que se candidataram. Mas a disputa foi tão acirrada e completa que terminou com quatro eleitos. A praia do Sumidouro (SC) ficou de fora.

Praia da Regência foi escolhida para ser santuário nacional do surf – Foto: Karen Bof/Divulgação

Os quatro locais escolhidos formarão a Rede Brasileira de Reservas de Surf. Segundo os organizadores, as reservas procuram reconhecer, valorizar e proteger ecossistemas icónicos do surf, que abrigam atributos ambientais, culturais e económicos.

Critérios

As praias candidatas foram avaliadas em quatro aspectos: qualidade, consistência e relevância das ondas; características socioecológicas do ecossistema do surf; cultura, história e desenvolvimento do surf no local; e envolvimento da comunidade, capacidade de governação e sustentabilidade.

Após o anúncio das praias vencedoras, na sexta-feira (30), cada praia deverá criar um comitê gestor que seguirá etapas definidas pelo Programa Reservas Brasileiras de Surf, coordenado pelo Instituto Aprendir. Cada localidade também organizará um evento comemorativo para formalizar o título como reserva nacional, que será inicialmente válido por um período de 2 anos.

Também será necessária a criação de um plano de manejo para definir ações e metas a serem alcançadas nas comunidades.

Praia da Moçambique foi escolhida para ser santuário nacional do surf – Foto: Cadu Fagundes/Divulgação

Crise climática

O vice-presidente da CI-Brasil, Mauricio Bianco, explica que incentivar a criação de santuários de surf – o que inclui a conservação marinha e costeira – é essencial para evitar o agravamento da crise climática.

“Milhares de spots de surf [local considerado privilegiado para a prática] ao redor do mundo são cercados por ecossistemas que armazenam grandes quantidades de carbono, e apenas cinco países têm quase metade desse carbono armazenado, incluindo o Brasil”, disse.

Bianco destaca ainda a ligação entre os santuários do surf e o desenvolvimento económico e social. “Esses ecossistemas de surf em nosso litoral são importantes não só para o clima e a biodiversidade, mas também geram benefícios socioeconômicos por meio da geração de empregos e renda.”

A escolha das praias a serem tratadas como santuários esportivos é inspirada nos programas da Austrália e da Reserva Mundial de Surf. O único representante brasileiro desta última é a Guarda do Embaú (SC). A ideia da comunidade brasileira é que mais praias possam receber título nacional.

“Vimos que esse modelo inovador de gestão participativa baseado em ecossistemas de surf tem um papel poderoso como ferramenta de conservação de espaços marinhos e costeiros e de geração de renda por meio do turismo regenerativo”, avalia a diretora executiva do Instituto Aprendir, Fernanda Muller.

Medalhas e títulos

O surf tem levado o Brasil a ganhar cada vez mais relevância no cenário esportivo mundial. Na lista dos esportes olímpicos desde os Jogos de Tóquio, em 2021, o surf já conquistou três medalhas para o país.

Em 2021, Ítalo Ferreira ficou com o ouro, e em Paris 2024, Gabriel Medina conquistou o bronze, e Tatiana Weston-Webb ficou com a prata nas provas realizadas no Taiti, território ultramarino francês.

Na Liga Mundial de Surf (WSL), o Brasil conquistou sete campeonatos nos últimos dez anos com Gabriel Medina (3), Adriano de Souza (1), Ítalo Ferreira (1) e Filipe Toledo (2).

Praia de Itamambuca foi escolhida para ser santuário nacional do surf – Foto: Gustavo Jacob/Divulgação

Praias

Praia do Francês – localizada no litoral sul de Alagoas, além das águas cristalinas e das ondas tubulares, destaca-se pela riqueza do ecossistema único e pitoresco do surf, que inclui a vila de pescadores, coqueiros, barreira de corais, restinga e um pântano natural.

Praia de Itamambuca – as condições das ondas são muito especiais, principalmente pela preservação de elementos naturais como o Rio Itamambuca, restingas e dunas frontais. A comunidade local é formada por caiçaras, quilombolas e indígenas.

Praia de Regência – recebe um dos mais importantes cursos d’água do litoral brasileiro, o Rio Doce, que deságua no norte do Espírito Santo.

Praia de Moçambique – a praia fica adjacente ao Parque Estadual do Rio Vermelho, unidade de conservação de proteção integral e recebe as águas da Lagoa da Conceição.