Diante dos recentes confrontos entre torcedores de times de futebol, o Tribunal de Justiça do estado de São Paulo (TJ-SP) estuda a possibilidade de ampliar a restrição à presença de torcedores solteiros em jogos de futebol no estado.
O tema foi debatido na semana passada entre magistrados e representantes da Federação Paulista de Futebol, das Polícias Civil e Militar, da Defensoria Pública e do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Nas últimas semanas, foram registradas brigas entre torcedores de Palmeiras e Flamengo, em partida pelo Campeonato Brasileiro, e entre Nacional do Uruguai e São Paulo, que se enfrentaram na semana passada, pela Libertadores da América, quando torcedores e policiais ficaram feridos.
A ideia é que a medida vigore para competições nacionais e internacionais realizadas no estado.
“Mesmo impopular, a medida ainda é necessária, pois leva a uma redução drástica no número de casos de violência”, disse o juiz José Fernando Steinberg, que participou do encontro, em entrevista ao Agência Brasil.
Segundo o Tribunal Especial de Torcedores, 432 torcedores foram processados por envolvimento em casos de desacato, agressão e casos semelhantes entre 2021 e 2024. Não há levantamento específico sobre o alcance desse tipo de medida ou quanto ela contribui, isoladamente, para prevenir ações violentas por parte dos torcedores.
A limitação de acesso de um único torcedor foi adotada após brigas entre torcedores, dentro e fora do estádio, em 2016, durante partida entre Corinthians e Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. Nos dias seguintes, o promotor Paulo Castilho propôs a solução da torcida única em clássicos envolvendo os quatro maiores clubes paulistas. Na época, a Federação Paulista de Futebol cumpriu a recomendação e nos anos seguintes.
Neste ano, a medida foi aplicada a todas as partidas disputadas entre Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos, Ponte Preta e Guarani, e também em clássicos de outros estados, como Bahia, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.
Procurada pela reportagem, a Federação Paulista informou que a política de torcedores é adotada no “Estado de São Paulo mediante recomendações do Ministério Público e órgãos de segurança pública”, não existindo atualmente acordo ou procedimento para adoção da medida com federações de outros estados ou com a Conmebol.
O Ministério Público afirmou que “a implementação da torcida única tem sido um sucesso. Outras medidas adicionais ainda estão em análise”. A Secretaria de Segurança do estado não comentou o assunto.
Biometria facial e bebidas alcoólicas
O encontro também discutiu a adequação das arenas para o acesso dos torcedores por meio da biometria facial, conforme exige a Lei Geral do Desporto. Estádios com capacidade para mais de 20 mil pessoas serão obrigados a utilizar reconhecimento facial, como já foi feito no Allianz Parque.
A medida gerou polêmica, já que a biometria levou pessoas a serem presas por engano.
Para o juiz Sérgio Antonio Ribas, eventuais erros de identificação pelo sistema não devem impedir a aplicação da medida e disse ao Agência Brasil que “as detenções só ocorrerão após completa e exaustiva verificação de identidades pelas autoridades policiais, o que evitará prisões equivocadas e constrangimentos além da abordagem, e se justifica pelo ganho de agilidade que traz ao cumprimento das ordens de prisão”.
Outro tema discutido pelo grupo é a proibição da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, medida prevista em projetos de lei que tramitam no Legislativo estadual, ainda sem votação prevista. As propostas avançaram principalmente após a morte da torcedora palmeirense Gabriela Anelli. Ela morreu após ser atingida por uma garrafa atirada por um torcedor do Flamengo durante uma briga entre torcedores dos dois times, em julho de 2023.
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