Rebeca Andrade se consolida como um dos maiores nomes do esporte brasileiro

Grande estrela da Seleção Brasil nas Olimpíadas Paris 2024, Rebeca Andrade fez história ao conquistar quatro medalhas em uma única edição dos Jogos Olímpicos.

Tais conquistas não só fizeram da ginasta a maior medalhista olímpica do esporte brasileiro, com seis (duas de ouro, três de prata e uma de bronze), mas também colocaram Rebeca no mesmo patamar dos maiores atletas que o país já teve.

Em pesquisa realizada com leitores e jornalistas especializados, a Globo mediu o nível que o campeão olímpico no chão alcançou.

A pesquisa não levou em conta os jogadores de futebol masculino, escolha editorial que se justifica pela dimensão emocional que o esporte tem no coração dos brasileiros, em grande parte pela torcida de seus clubes, e também pelo evidente peso de Pelé no história do esporte nacional. e em todo o mundo.

Primeiro lugar na votação online realizada com o público em geral — cada pessoa escolheu um nome em uma lista de 20 atletas pré-selecionados, Ayrton Senna foi predominante entre os 50 jornalistas que participaram da eleição — cada profissional escolheu seu top-3, com uma pontuação para cada colocação.

Entre os jornalistas, 28 colocaram o ex-piloto em primeiro lugar da lista.

Especialistas indicam que essa força do principal nome do Brasil no automobilismo se deve ao cultivo da ativação da memória de Senna e à forma como ele representou o povo brasileiro ao longo de sua carreira vitoriosa.

— Estamos diante de inúmeras produções midiáticas sobre os 30 anos da morte de Senna, que aconteceu enquanto ele trabalhava como atleta e diante de milhões de espectadores. Um herói que morreu em “combate”. Sua memória também está intimamente ligada às narrações, aos bordões de Galvão Bueno — avalia Leda Maria da Costa, professora e pesquisadora do Laboratório de Estudos Midiáticos e Esportivos da UERJ. Segundo Leda, a questão da memória ativa também explica o segundo lugar de Rebeca Andrade. As conquistas alcançadas nas últimas semanas, em Paris-2024, fizeram da ginasta brasileira um grande fenômeno no cenário mundial, protagonizando campanhas para grandes marcas brasileiras e internacionais.

Mesmo assim, a professora e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos da USP, Katia Rubio, destaca que a posição de Rebeca no imaginário brasileiro ainda pode ser alterada de acordo com algumas escolhas que a ginasta faz em relação à sua imagem.

— (A posição) não depende apenas de suas conquistas no esporte. Esse imaginário também é construído a partir de outras ações. Tudo vai depender da cidadã que Rebeca vai permanecer nesse lugar de idolatria — explica.

Quanto às diferenças nas listas, destaca-se a ausência de Marta na votação do grande público, que valorizou as conquistas de Adhemar Ferreira da Silva no atletismo.

O paulista foi o primeiro brasileiro a ser bicampeão olímpico.

— Acho que o caso da Marta mostra o desprezo pelo futebol feminino e que isso não vai mudar até que o futebol brasileiro seja menos sexista. Nem mesmo uma medalha de prata ou de ouro faria diferença nessa construção, porque a representação social de um determinado fato às vezes precisa de três ou quatro gerações para ser alterada — afirma Katia.

— A memória de Adhemar está ligada a dois clubes, São Paulo e Vasco. O São Paulo tem duas estrelas douradas no escudo por causa dele. Ele também teve uma carreira além do esporte, foi jornalista e ator. Teve uma vida pós-atleta de muito sucesso — destaca Leda.

O resultado mostra uma predominância de atletas de modalidades individuais em detrimento de outros de modalidades mais tradicionais, como vôlei e basquete.

Segundo especialistas, isso acontece porque nessas condições é mais fácil destacar uma figura em tom de idolatria, enquanto nas modalidades coletivas os louros são mais compartilhados.