Direto de Saint-Denis, França – Cada edição dos Jogos Olímpicos deixa uma marca e a de Paris, que terminou oficialmente neste domingo (11), no Stade de France, pode ser considerada a particular Revolução Francesa no esporte e na vida .
Em primeiro lugar, não significa que foi a solução para todos os problemas e que agora tudo está maravilhoso. Obviamente não. Porém, as principais bandeiras hasteadas antes da competição foram homenageadas no berço da “liberdade, igualdade e fraternidade”.
União de todas as tribos
A fraternidade foi o ponto mais surpreendente, pelo fato dos franceses não serem um grande exemplo de hospitalidade. Ainda assim, pessoas de todos os cantos do mundo se uniram, depois de 8 anos desde a Rio-2016 (Tóquio-2021 não teve público por conta da Covid), numa grande festa nas ruas da Cidade Luz, sem complicações.
“Superou minhas expectativas porque, no início, pensei que seria uma bagunça completa. Os franceses não são muito bons em organizar eventos, mas até que fomos em algumas competições e estava bem organizado, sinalizado e as pessoas foram muito prestativas”, diz Amanda Cardozo, dentista carioca de 32 anos, que já morou em Paris há 12 anos, que acrescenta ainda que os Jogos Olímpicos “também serviram para aliviar um pouco a saudade, pois é sempre bom ter mais brasileiros aqui, ouvir português, vivenciar a nossa cultura”.
Mulheres em foco
Muito se debateu que Paris 2024 seria a primeira Olimpíada com o mesmo número de vagas oferecidas a atletas masculinos e femininos. O Time Brasil contou com a disputa de 126 homens e 163 mulheres, números que também se refletem no quadro de medalhas, já que, das 20 medalhas conquistadas pela delegação brasileira, 12 foram femininas, incluindo as três medalhas de ouro com Rebeca Andrade, na ginástica artística; Beatriz Souza, no judô; e a dupla Ana Patrícia e Duda, no vôlei de praia.
“Vejo esperança de um mundo melhor. Um dia, o mundo será governado por mulheres. Até hoje, foi governado por homens. Então, vejo que estamos cada vez mais ocupando espaço e é um direito conquistado por quem veio antes de nós”, destaca Karina Pain, cantora carioca que mora em Paris há mais de seis anos e, hoje, faz parte de um grupo de samba composto apenas por mulheres.
O nome ‘Parioká’ nasceu da junção de Paris com a palavra “carioca” e dá vida aos bares, atraindo, sobretudo, imigrantes, turistas e fãs brasileiros, mas também pessoas de outras nacionalidades e culturas.
Além da vocalista Karina, o grupo conta ainda com outras quatro mulheres: Sandra Luiza, na guitarra; Irene Bergua, na percussão geral; Claire Dagnan, também vocalista; e Thaynara Henrique, no cavaco.
Sandra nasceu no Pará, mora em Paris há mais de 30 anos e lembra que “todas as mulheres estão aqui em Paris porque merecem. Eles são guerreiros, como todos nós. Eles lutaram por isso e conseguiram por seus próprios méritos. Dos atletas até nós, trabalhadores comuns.”
Aliás, a violonista compôs uma música, justamente, exaltando a determinação e a luta feminina, intitulada “Mulheres Guerreiras”, em que um dos versos diz: “Viva a mulher guerreira que sai para trabalhar/luta pelos seus direitos sem ter medo de errar / está sempre disposta, também tem filhos para criar / Viva as mulheres guerreiras que estão sempre lutando.”
A cidade do amor livre
Paris é a cidade mais romântica do mundo e ninguém duvida disso. O professor universitário André Moura e o servidor Rodrigo Basso são prova viva disso. Há sete anos, durante uma viagem à capital francesa, quando ainda estavam apaixonados, Rodrigo pediu a mão de André em casamento.
No dia 2, os dois se casaram no interior de São Paulo e decidiram voltar para Paris e passar a lua de mel curtindo os Jogos Olímpicos.
“Sempre tive o sonho de assistir aos Jogos Olímpicos, assisto desde criança. Compramos ingressos no ano passado e começamos a desenvolver a ideia de casar e vir para a lua de mel. Dois sonhos realizados na mesma semana”, afirma Rodrigo.
André ainda se lembra do pedido de casamento. “Foi extremamente emocionante, foi uma surpresa para mim. Ele me pediu em casamento aos pés da Torre Eiffel e eu, é claro, chorei muito.”
Os dois aproveitaram a última semana das Olimpíadas, indo principalmente aos jogos de vôlei, com liberdade e segurança para serem quem realmente são, marido e mulher, de mãos dadas, se beijando, como deve ser sempre e em qualquer lugar.
“É uma cidade extremamente charmosa e estar aqui vivenciando isso com ele, essa energia, é muito emocionante. O que esta cidade mais celebra é o amor”, afirma André. “Respiramos amor”, acrescenta Rodrigo.
Agora, com o fim dos Jogos Olímpicos, o legado permanece. Para atletas, experiências pessoais e esportivas. Balanços, planejamento e execução de um novo ciclo. Para a vida comum permanece o desejo de liberdade, igualdade e fraternidade para além da França. E que não acabe em Los Angeles, em 2028.
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