Agora pastor evangélico, Firmino terá limitações para manifestar sua fé na Arábia Saudita, onde joga

O atacante Roberto Firmino tornou-se esta semana pastor da Igreja Manah, igreja evangélica que ajudou a fundar em Maceió, sua cidade natal.

A cerimônia de consagração ocorreu no último domingo. A religião, porém, é proibida no país onde joga atualmente: o atleta de 32 anos completou sua primeira temporada no Al-Ahli, clube da Arábia Saudita com o qual assinou até 2026.

Lá, a prática pública de uma religião diferente do Islão não é permitida. Portanto, os brasileiros terão limitações para expressar sua fé quando retornarem das férias no Brasil.

O que Firmino pode ou não pode fazer como pastor na Arábia Saudita?

Na religião cristã, uma parte importante do compromisso com a fé é a evangelização, que é a divulgação dos ensinamentos do Evangelho, segundo a Bíblia.

Como pastor, espera-se que Firmino cumpra ainda mais missões evangelizadoras, seja em cultos ou outras ações em que esteja em contato com pessoas que não professam esta fé.

Isso não pode acontecer abertamente na Arábia Saudita, segundo o professor de Geopolítica Fernando Brancoli, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

— Um pastor ou qualquer líder religioso não-muçulmano não poderia realizar celebrações ou evangelizar publicamente na Arábia Saudita — diz Brancoli: — Essas atividades são restritas a ambientes privados e discretos, geralmente dentro de comunidades expatriadas, para evitar conflitos com autoridades.

O professor destaca ainda que pode sofrer punições severas que vão desde prisão até deportação e até castigos corporais como chicotadas caso desobedeça às ordens da monarquia, “principalmente se for considerada uma tentativa de proselitismo (evangelização)”.

Porém, na prática, o jogador pode acabar não sendo punido por fazer parte de um pacote de ações de Mohamed Bin Salman, líder máximo do Estado saudita, para melhorar a imagem da monarquia no exterior.

— Por ser um jogador famoso, pode haver uma certa permissividade, mas ele ainda deve seguir rigorosamente as regras locais — diz o professor: — O risco de punição, incluindo detenção e possível deportação, é real se ele violar essas restrições.

Firmino não poderá fazer o que fez na Inglaterra, por exemplo, país onde morou oito anos antes de se mudar para a Arábia Saudita. Lá, fundou filiais da Manah Church em Manchester e Liverpool, sendo esta última a cidade onde morou, jogando pelo time de mesmo nome.

Jogadores cristãos na Arábia Saudita

Firmino não é o primeiro a enfrentar restrições devido à sua religião no país muçulmano. Cristiano Ronaldo viu uma comemoração virar polêmica: fez o sinal da cruz após marcar o gol da vitória do Al-Nassr sobre o Al-Shorta, do Iraque, em agosto do ano passado.

Neymar chega à Arábia Saudita — Foto: AFP

Outro brasileiro também ganhou as manchetes: Neymar chegou ao país, também no ano passado, para jogar no Al-Hilal, usando um colar com pingente de crucifixo feito de pedras preciosas. Em ambos os casos, o assunto foi apenas notícia e não resultou em punição aos jogadores.