No calor intenso das Olimpíadas de Tóquio em 2021, um árbitro perguntou a Daniil Medvedev, então o segundo melhor tenista do mundo, se ele teria condições de continuar jogando. “Posso terminar o jogo, mas posso morrer”, respondeu Medvedev. Os Jogos de Tóquio marcaram o evento mais quente da história, indicativo da continuação do aquecimento global desde então.
Na Europa, as ondas de calor podem ter causado mais de 61 mil mortes no verão de 2022. Em abril deste ano, partes de França registaram temperaturas de 30ºC, 10ºC acima da média do mês. Com as alterações climáticas, existem preocupações sobre as condições esperadas para os Jogos de Paris e os potenciais riscos para a saúde dos atletas.
Os Jogos Olímpicos tornaram-se progressivamente mais quentes ao longo das últimas décadas, embora seja pouco provável que o próximo evento rivalize com os recordes estabelecidos por Tóquio em 2021, Roma em 1960 (um valor atípico histórico) ou Atenas em 2004.
Os dados da NOAA indicam que Tóquio teve uma temperatura média de 28,9ºC durante os dias de competição, enquanto Roma registou uma média quase idêntica de 28,8ºC. Em seguida no ranking de calor estão Atenas (26ºC), Pequim (25ºC em 2008) e Los Angeles (23ºC em 1984). O Rio de Janeiro, que sediou os Jogos de 2016 no inverno do hemisfério sul, ficou em sexto lugar com 22,2ºC.
Desde a década de 1950, os dias mais quentes já registrados em uma edição olímpica foram em Tóquio e Atenas, atingindo 31,8ºC. Em Tóquio, a umidade média foi de 72%, enquanto em Atenas foi de 50%, a mais baixa já registrada entre as cidades olímpicas, com umidade mínima de 33%, bem abaixo dos 40% recomendados para a prática esportiva.
Para Paris, a temperatura média entre julho e agosto é de 21,7ºC, com máxima média de 26,6ºC. Desde 1924, quando Paris sediou os Jogos pela última vez, a temperatura subiu 3,1ºC. Embora Paris seja geralmente mais amena em comparação com outras cidades olímpicas, há previsões de um verão mais quente que o normal.
A analista da Climate Central, Kaitlyn Trudeau, disse que é muito cedo para prever ondas de calor na França, mas alertou que só as ondas de calor ocorreram 50 vezes na região de Paris desde 1947. Ela citou uma onda de calor mortal em 2003 que resultou em 15.000 mortes na França, destacando que Paris tem o maior risco de mortes relacionadas com ondas de calor entre todas as capitais europeias.
O estudo “Rings of Fire” da Associação Britânica para Esporte Sustentável, em colaboração com a Climate Central e a Universidade de Portsmouth, identificou riscos significativos para os competidores em Paris, seguindo a experiência de Tóquio, que viu relatos de fadiga extrema, náuseas e desmaios entre os atletas. .
Até atletas brasileiros, familiarizados com as altas temperaturas, têm se preocupado com seu bem-estar. Bernardo Villano, da Confederação Brasileira de Skate, mencionou o forte calor durante as eliminatórias, enfatizando a importância de estratégias de resfriamento, como coletes e banhos de gelo.
A ausência de ar condicionado nos ambientes da Vila Olímpica tem sido uma preocupação recente, levando o Comitê Olímpico Brasileiro a alugar aparelhos para garantir o conforto térmico dos atletas durante os Jogos de Paris.
Os efeitos adversos das altas temperaturas na saúde dos atletas incluem desde hipertermia até graves problemas cardiovasculares, reforçando a necessidade de medidas preventivas e adaptações para enfrentar condições climáticas extremas durante eventos esportivos.
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