Com o início do período de estiagem, a falta de chuvas já preocupa a pecuária de Mato Grosso do Sul. Os agricultores enfrentam queimadas na região do Pantanal e a possibilidade de falta de pastagens em boas condições para a pecuária em grande parte do Estado. Representantes e especialistas do setor indicam aumento no custo da atividade, com possibilidade de transferência de animais no Pantanal e investimento em suplementos alimentares devido à forte seca.
O presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Gilson Araújo, informa ao Correio do Estado que os pecuaristas da região estão em alerta com o início do período seco, após um período úmido e com baixos índices de precipitação, considerando também um avanço na a estação sem chuvas, que geralmente começa no segundo semestre do ano. Fato que agravou a situação das pastagens, as queimadas no Pantanal e automaticamente pressionaram a atividade.
Ao citar o déficit hídrico específico, o presidente do sindicato destaca que a própria questão climática traz uma enorme restrição alimentar ao Pantanal, obrigando os pecuaristas a encontrar alternativas. “Temos algumas situações em que é possível fazer suplementação de baixo consumo, porque as estradas são muito ruins, então qualquer ação que vise a suplementação em más condições fica muito cara”, aponta Araújo, que acrescenta que o transporte marítimo inviabiliza quase tudo . devido ao aumento dos custos de produção.
Apesar das soluções paliativas, o representante sindical de Corumbá explica que se a seca persistir muitos terão que se desfazer de parte do rebanho. “Mandar para abate ou leilão, algo para diminuir a carga de pasto durante o longo período que esta seca deverá atingir. E as restrições alimentares sem dúvida acontecerão”, finaliza Araújo.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai acrescenta que a seca chegou cedo, impactando diretamente os produtores na questão da qualidade das pastagens.
“Com isso, alguns optaram pela suplementação e quem tinha gado pronto para abate fez esse abate, uns antecipando um pouco o abate e outros vendendo para diminuir o número de animais no pasto”.
Bumlai ressalta que a expectativa para o próximo semestre é que a seca se mantenha. “Por isso é preciso ficar atento à água para esses animais. Temos propriedades investindo em poços, melhorando a rede de água, que é outra grande preocupação, a disponibilidade de água para o rebanho”.
O doutor em Ciências e pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, analisa a possível falta de pastagens durante a seca em curso. “A partir de agora até outubro, quando começam as chuvas, vamos acompanhar as mudanças nas pastagens. Teremos bom tempo sem chuva ainda.”
Padovani destaca alguns fatores que devem afetar as condições das pastagens no MS. “Em primeiro lugar, a falta de água causada pela questão climática, em segundo lugar, a quantidade de gado que permanecerá em pastagens que já estão comprometidas pelo déficit hídrico. Então a tendência é, de fato, que isso se torne um problema para os pecuaristas que devem se organizar para enfrentar o período”.
QUEIMADO
Responsável pelo maior rebanho bovino do Estado, com cerca de 1,981 milhão de cabeças, o município de Corumbá é a região mais afetada pelo fogo no bioma Pantanal neste ano. Até o dia 24 de junho, cerca de 677 mil hectares foram perdidos pelas chamas, número próximo ao recorde registrado em 2020, no estado que abriga mais da metade desse ecossistema.
Araújo explica que os agricultores que sofreram a perda de pastagens por causa do fogo certamente terão que desocupar as fazendas. “De uma forma ou de outra eles terão que agir, se tiverem outras propriedades, transferi-los para essas outras propriedades e se não tiverem, terão que vender parte do seu rebanho”, analisa.
Bumlai destaca que em relação ao Pantanal, o fogo começou em áreas não produtivas, principalmente às margens do rio Paraguai onde não há atividade pecuária. Porém, ele ressalta que o fogo está se espalhando e neste momento já deve atingir propriedades rurais que produzem pecuária, o que impacta a economia do segmento.
“Os produtores têm feito investimentos no sector da água e muitos também estão a realizar aceiros (desbastes em redor de uma propriedade), sendo que o aceiro que antes era permitido conter 6 metros durante 180 dias, devido aos incêndios agora atingirem os 30 metros. , diminuindo as chances de incêndio entrar no imóvel”, detalha o presidente da Acrissul.
O presidente da Associação da Pecuária Orgânica e Sustentável do Pantanal (ABPO) Eduardo Cruzetta explica que as áreas afetadas pelas queimadas no Pantanal são áreas com pouca ou nenhuma atividade pecuária. “Hoje ainda não temos um percentual de produtores impactados, não há um número concreto, mas a área não chega a 5%, então o número de produtores ainda é inferior a isso”, enfatiza.
Cruzetta relata que a principal estratégia desenvolvida pela ABPO, entre os produtores da associação, mas principalmente no âmbito regional, é a comunicação.
“Quando tem um incêndio, um incêndio, um surto, os produtores da região, os vizinhos, se mobilizam imediatamente, porque o caminho do fogo já é mais ou menos conhecido por causa da direção do vento, então as pessoas, os produtores se mobilizam contê-lo o mais rápido possível.”
Acrescenta ainda que nesta altura do ano o incêndio representa um prejuízo para a pecuária. “Queima as pastagens que ainda resistem em época de seca, queima estruturas de cercas, áreas coxos, às vezes queima até currais e mangueiras”, finaliza Cruzetta.
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