A operação da Polícia Federal de quinta-feira (27) que mirou ex-executivos da Americanas foi baseada em provas que incluem e-mails, mensagens de WhatsApp, planilhas e outros arquivos obtidos ao longo das investigações. Parte deles foi obtida através da colaboração premiada de diretores de empresas.
Os elementos citados no relatório da Operação Divulgação, em parceria com o Ministério Público Federal, são resultados da análise de 59 discos rígidos externos, notebooks, pen drives e celulares corporativos. As informações obtidas pelos investigadores foram extraídas de quebras de sigilo telemático e de dados.
Em nota, a empresa disse que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de fraude de resultados por parte de sua antiga administração, que manipulou intencionalmente os controles internos existentes”.
“A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, completa a nota.
Em nota, a defesa de Miguel Gutierrez disse que não teve acesso aos autos das medidas cautelares concedidas nesta quinta e por isso não comentará. “Miguel reitera que nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que tem colaborado com as autoridades, prestando os esclarecimentos necessários nos fóruns apropriados”, informou.
Pen drives
Ao longo das investigações, o MPF analisou centenas de páginas de mensagens trocadas pelos suspeitos via Whatsapp. A investigação mostra que a maior parte dos documentos não foi enviada por e-mail a Miguel Gutierrez, ex-CEO da empresa. “Para se proteger, o presidente pediu que as informações fossem registradas em pen drive e entregues fisicamente”, informou o MPF.
Cartas Falsas
Diálogos entre dois diretores da empresa indicam, segundo o MPF, a falsificação de cartas VPC, documentos de reconhecimento de crédito que os fornecedores emitem em favor dos varejistas em razão de ações de marketing.
Por WhatsApp, a então controladora, Flavia Carneiro, questionou o fato de documentos de empresas diferentes terem assinaturas idênticas. Carneiro assinou acordo de delação premiada com os investigadores.
Envio Reclassificado
As despesas com fretes que ultrapassassem o limite estabelecido no orçamento eram reclassificadas mensalmente como despesa de investimento, segundo o MPF. E-mails obtidos pela investigação mostram diálogo entre ex-diretores da empresa alterando gastos com frete que seriam declarados, reduzindo em mais de R$ 10 milhões.
Resultados falsos
No que os funcionários chamaram de “fechamento de resultados”, as empresas do grupo prepararam “’kits de fechamento’, com planilhas e apresentações mostrando os reais números contábeis das empresas. “Os investigados produziram novas versões do resultado, desta vez com inserção de informações falsas, para aproximar o resultado que seria divulgado ao mercado do valor estabelecido no orçamento”, informou o MPF.
O trecho abaixo citado na investigação mostra que em agosto de 2019 um prejuízo de R$ 46,9 milhões foi transformado em lucro líquido de R$ 18,3 milhões, segundo o MPF.
Apresentação de Miguel Gutiérrez
A investigação afirma que o ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez “participou das fraudes desde o seu planejamento até a divulgação dos resultados, acompanhando a obra por meio do ‘kit de fechamento’”. O MPF destaca troca de e-mails com Flávia Carneiro.
“Cinza é a vida como ela é”
Outro elemento que o MPF aponta como importante é uma conversa por WhatsApp entre diretores de empresas. No diálogo, Marcelo Barros “reproduz uma foto de um balanço financeiro e pergunta qual a diferença entre as duas colunas de novembro”. José Timotheo de Barros responde então: “A cinza é a vida como ela é. O branco com todos os trechos.” A coluna marcada como verdadeira possui números menores que a coluna “esticada”.
A defesa de Timotheo de Barros disse que a operação de busca e apreensão da PF em sua residência foi “desnecessária”. “Desde o início da investigação foram disponibilizados documentos, informações económicas e dados telemáticos para apurar o caso”, refere a nota.
Resultados de maquiagem
Outra conversa interceptada mostra, segundo o MPF, um ex-diretor executivo sugerindo que não fosse divulgado ao mercado que o lucro apurado pela empresa era devido à compensação de ICMS, “atitude com a qual Flávia Carneiro concordou, para parecer ser uma atividade operacional mais robusta da empresa”.
Poucos dias depois, Flávia discutiu com esse então diretor como alterar as despesas ‘nas entrelinhas’. Ou seja, como mudar a realidade das despesas, mudando a sua natureza, para que o mercado obtenha melhores resultados. “Discute (…), por exemplo, a impossibilidade de fraudes com foco em despesas de aluguel, pois isso chamaria a atenção da auditoria”, afirma o MPF.
Pressão para mudar números
A investigação mostra que havia um arquivo que “trouxe comparações de números de resultados anteriores e expectativas de mercado em alguns itens de maior foco nos balanços das empresas, como receita bruta, margem bruta” e lucro líquido. Tabela destacada pela investigação mostra informações de instituições de análise, como BTG Pactual e Morgan Stanley.
“Em vermelho, foram destacados resultados que ficaram abaixo das expectativas do mercado. E, em verde, aquelas que estavam em linha ou superavam. Com as comparações em mãos, os gestores pressionaram pela adulteração dos números que seriam divulgados ao mercado, aproximando-os das expectativas do mercado. Os funcionários afirmaram em sua petição que, a pedido dos gestores, os números reais foram aumentados artificialmente, não só para ficarem próximos do orçamento interno, mas também condizentes com as previsões do mercado”, informou o MPF.
O MPF recuperou uma série de mensagens trocadas por executivos da empresa que sustentavam suspeitas de fraude contábil. Num dos diálogos captados, os diretores da empresa discutem, segundo os investigadores, um plano de ação para “lidar com a fraude na transição”. Segundo o MPF, o diálogo deixa claro que o “buraco bilionário nas contas da empresa foi omitido do mercado”.
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