Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do DI fecharam em alta pela terceira sessão consecutiva desta quinta-feira, principalmente entre os contratos mais longos, refletindo a continuidade do mal-estar do mercado em relação à área fiscal, em um novo dia de críticas do presidente Lula ao Banco Central, que por sua vez atualizou as projeções e indicou que o aumento da Selic não está em seu cenário base.
No final da tarde desta sexta-feira, a taxa DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – terminou praticamente estável, em 10,615%, ante 10,62% do reajuste anterior.
A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,305%, ante 11,265% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,71%, ante 11,65%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 12,25%, ante 12,199%, e o contrato de janeiro de 2033 foi de 12,27%, ante 12,207%.
A nova alta dos DI nesta quinta-feira ocorreu apesar de, no exterior, os rendimentos do Tesouro terem ficado em níveis confortáveis, com leve queda durante grande parte do dia.
No início do dia, o BC divulgou seu Relatório de Inflação, que atualizou algumas projeções econômicas e abordou assuntos específicos ligados à política monetária.
Entre os destaques, o BC elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 de 1,9% para 2,3% – ainda abaixo dos 2,5% estimados pelo Ministério da Fazenda. Além disso, o défice da conta corrente estimado para 2024 foi alterado de 48 mil milhões para 53 mil milhões de dólares e reduziu a projecção de Investimentos Directos no País (PDI) de 70 mil milhões para 65 mil milhões de dólares.
No final da manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Econômica do município, Diogo Guillen, deram entrevista coletiva em São Paulo. Nele, Campos Neto destacou que a alta da Selic, hoje em 10,50% ao ano, não está no cenário base do BC.
“Em relação ao aumento dos juros não é o nosso cenário base, entendemos que a linguagem adotada é compatível com não termos dado ‘guidance’ para o futuro neste momento”, disse.
Campos Neto afirmou ainda que a mais recente desvalorização do real – que o colocou acima de 5,50 reais – está em linha com o aumento dos prêmios de risco no Brasil. Ao mesmo tempo, destacou que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva impactaram negativamente o mercado, aumentando os prêmios de risco.
“O que foi mostrado no passado recente – não é minha opinião, é uma observação – quando olhamos os movimentos do mercado em tempo real com os pronunciamentos, você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado”, disse Campos Neto, ao ser questionado se as recentes declarações do presidente sobre política fiscal dificultam o trabalho do BC.
No mercado, a avaliação foi de que tanto o Relatório de Inflação quanto a entrevista de Campos Neto não alteraram a percepção atual do mercado sobre a política monetária.
“Não vi nenhum barulho que pudesse causar estresse. Então, a alta das taxas (dos DIs) hoje é muito mais baseada na percepção de risco, de que não há compromisso do governo em relação às contingências de gastos”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano. “Há muitas dúvidas em relação ao fiscal”, acrescentou.
Nesse cenário, a taxa DI de janeiro de 2027, um dos contratos de maior liquidez, atingiu pico de 11,815% às 12h23 – horário em que Campos Neto ainda dava entrevista -, uma alta de 17 pontos-base.
Em discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, também no início da tarde, Lula negou que sua entrevista de quarta-feira ao portal UOL tenha enfatizado ativos, especificamente o dólar.
“Quem apostar no fortalecimento do dólar frente ao real vai perder a cara”, disse o presidente. “Quem apostar em derivativos vai perder dinheiro neste país”.
À tarde, em entrevista à rádio Itatiaia, Lula afirmou que não tem pressa em indicar o substituto de Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no final do ano. O presidente também criticou mais uma vez a manutenção da Selic pelo BC em 10,50%.
Perto do fechamento, a precificação da curva de juros indicava 79% de chance de manutenção da taxa básica Selic em 10,50% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em julho. Houve mais 21% de probabilidade precificada no sentido de o colegiado conseguir aumentar a Selic em 25 pontos-base. Na quarta-feira, os percentuais eram de 83% e 17%, respectivamente.
A curva precifica a alta da Selic em 2025 – apesar de Campos Neto ter reiterado que o aumento da taxa básica não está no cenário base da instituição.
Durante a tarde, o Ministério do Trabalho e Emprego informou que o Brasil abriu 131.811 vagas formais de emprego em maio, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foi o menor saldo mensal do ano e o menor de maio desde 2020. Os números não tiveram grandes efeitos na curva.
Às 16h41, o – referência global para decisões de investimentos – caía 2 pontos-base, para 4,292%.
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