O auxílio à reconstrução de R$ 5,1 mil, disponibilizado pelo governo federal às famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, tem sido usado para reiniciar a rotina destruída pelas águas. Porém, muitas famílias ainda não acessaram o recurso por erros no cadastro, falta de envio de dados ou falta de informações.
Quando o dinheiro é acessado, ele é gasto na compra de imóveis e eletrodomésticos básicos, como cama, fogão e geladeira; para reforma e limpeza da residência e, em alguns casos, guardados para despesas futuras.
A moradora do bairro Sarandi, em Porto Alegre (RS), Lisiane Correia, está desempregada e voltou para casa na última sexta-feira (21), quase 50 dias após as enchentes. O auxílio foi usado para comprar um fogão e uma geladeira.
“Foi muito importante. Conseguimos comprar muitas bugigangas. [de segunda mão, usado], huh? Fogão, geladeira de tijolo, comprei uns paletes, tipo a gente não tem nem cama porque acabou tudo. Deixaremos o resto para fazer as reformas necessárias porque sem esse valor nem conseguiremos”, destacou.
Por outro lado, Lisiane acrescentou que o dinheiro é insuficiente para repor as perdas. A água atingiu o teto de sua casa e danificou todos os eletrodomésticos.
A moradora Ângela Márcia Dreissg Corino, 60 anos, tinha um pet shop nos fundos de sua casa. Ela ainda tenta limpar a casa antes de voltar, pois permanece na casa da sogra.
“O auxílio ajuda muito porque você compra uma geladeira ou outra coisa. Para minha irmã, que realmente perdeu tudo, é fundamental. Até consegui guardar alguns móveis e eletrodomésticos”, explicou Ângela.
Outra moradora de Sarandi, a aposentada Elione da Silva Canedo, de 59 anos, disse que o recurso é pouco comparado ao que aconteceu.
“Muito pouco. Preciso de dinheiro para pagar alguém para me ajudar na limpeza, gasto com gasolina, a caixa d’água está completamente contaminada e precisa ser trocada. Não há dinheiro”, reclamou ela.
A auxiliar de cozinha Suzete Santos de Lima, 40 anos, mora há 50 dias em um abrigo em Muçum (RS), município do Vale do Taquari. “Ajude a comprar os móveis que perdi. Preciso de uma máquina de lavar e uma televisão para as crianças. Não é muito, mas ajuda”, disse ela.
O pescador artesanal Luiz Antônio de Albuquerque, 53 anos, decidiu juntar o dinheiro para comprar algo que lhe dê renda.
“Muita gente reclama do valor, que não é compatível com o que perdeu, mas pelo menos é um recomeço. Quero comprar uma máquina de frango ou de sorvete para ter renda até recuperar meu barco”, disse ela.
Sem assistência
Embora o auxílio seja para todos os afetados, muitos moradores relatam que não conseguem obter o dinheiro. A Agência Brasil aderiu a um grupo de aplicativos de mensagens para atingidos das chamadas ilhas de Porto Alegre, comunidades às margens dos rios da cidade.
Esperar por ajuda é um dos principais temas de discussão.
“Fiz a inscrição no dia 22, enviaram no dia 29 e tem gente que se inscreveu depois e já recebeu”, diz um dos integrantes do grupo.
“É mesmo. Conheço alguém que fez no dia 05/06 e já ganhou, o meu está desde 28/05 e até agora nada”, reclama outro integrante.
É o caso da aposentada Maria Sirlei Vargas, de 64 anos, que vive com um salário mínimo na cidade de Roca Sales (RS), no Vale do Taquari. Ela perdeu a casa na correnteza.
“O meu ainda está em análise. A assistência ajudaria neste momento. Minha ideia era comprar uma cama com esse dinheiro e levar embora”, comentou.
Há também casos de quem não acessa por falta de informação. O trabalhador independente Salomão Bernardo dos Santos, 37 anos, vive num abrigo em Roca Sales desde as cheias de Maio, mas não consegue ter acesso a assistência.
“Você está com um celular na mão e não entende. É complicado para minha mãe também. Não podemos registrar. Mandam-nos entrar no site, mas não conseguimos”, lamentou.
Os municípios têm até esta terça-feira (25) para enviar os dados dos atingidos que têm direito ao auxílio. No total, 182 prefeituras com famílias afetadas ainda não enviaram as informações.
Prefeituras
As prefeituras dos municípios gaúchos deverão cadastrar os dados das famílias na página do Auxílio à Reconstrução. Após análise, o responsável familiar confirma a informação no mesmo site. O depósito na conta é feito pela Caixa.
As prefeituras explicam que muitas informações estão erradas ou duplicadas ou que outra pessoa da mesma família já recebeu o recurso. Além disso, os dados precisam ser confirmados pelos moradores.
O secretário de Planejamento de Eldorado do Sul (RS), Josimar Cardoso, disse que 13 mil casas do município foram danificadas e 10 mil pessoas já receberam o recurso. “Temos mais 1,3 mil pessoas já habilitadas e 17 mil em análise por possível fraude de endereço. Por isso está em análise”, explicou.
Nesta segunda-feira (23), a prefeitura de São Leopoldo manifestou preocupação com a baixa procura. “Até domingo (23), menos da metade das pessoas cujo cadastro foi indeferido por erros no preenchimento procuraram o serviço especial criado para correção e reenvio dos dados”, afirmou, em nota.
Os critérios que podem impedir uma pessoa de receber o recurso são: endereço fora da área georreferenciada; endereço não confirmado em bancos de dados governamentais; mais de uma família no mesmo endereço; família com membros comuns já atendidos; família com membro de outra família qualificada; família que pediu ajuda em mais de um município; CPF não regular; menores de 16 anos; e indícios de morte em bases governamentais, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Nesta semana, equipes do governo federal visitarão 30 municípios selecionados no Rio Grande do Sul onde há suspeita de que as famílias afetadas não estejam nas áreas consideradas pelos bancos de dados da União.
Negócios
O recurso de ajuda também ajudou o comércio ao colocar dinheiro em circulação. A proprietária de uma loja de roupas infantis em Muçum (RS), Simone Bao, 45 anos, comentou que o auxílio está ajudando. “Ajuda porque eles vão investir em alguma coisa, comprar um móvel, depois sobrar um pouco para comprar roupa, aí ajuda a nossa loja”, disse ela.
O prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB), avaliou que o recurso movimenta os municípios. “Esse dinheiro ajuda muito as famílias. Você pode comprar muitas coisas e isso ajuda o comércio local”, disse ele.
O prefeito de Muçum (RS), Mateus Trojan (MDB), avaliou que o auxílio tem efeito limitado. “Ajudou, mas não resolveu o problema, que é muito mais complexo porque há muitas indústrias, empresas e negócios que foram diretamente afetados e não conseguiram retomar as suas atividades”, considerou.
Números
O governo federal informou que 256,7 mil famílias de 115 cidades já foram aprovadas para receber o benefício, sendo que 208 mil encaminharam a confirmação dos dados. Entre os que confirmaram a informação, 202 mil já têm R$ 5,1 mil na conta, o que totaliza pouco mais de R$ 1 bilhão.
O governo federal espera atender 375 mil famílias no Rio Grande do Sul, representando R$ 1,9 bilhão em benefícios.
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