Campos Neto reitera que não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu nesta sexta-feira, 27, que todos os ciclos de quedas sustentadas dos juros no Brasil foram acompanhados de “choques positivos” na área fiscal. Acontecimentos como a aprovação do teto de gastos e do marco fiscal, disse ele, abriram espaço para trabalhar com uma taxa Selic mais baixa.

“Em todos os momentos da história recente do Brasil, poder baixar os juros e conviver com juros mais baixos está associado a um choque fiscal positivo. Não há harmonia monetária sem harmonia fiscal”, afirmou Campos Neto, em evento organizado pela 1618 Investimentos.

EUA

Campos Neto avaliou ainda que, apesar dos momentos de tensão do mercado em relação à economia norte-americana, os fundamentos dos Estados Unidos são bons.

A avaliação é que os Estados Unidos têm focado em investimentos para melhorar a produtividade. Se a aterrissagem da maior economia do mundo será suave ou não, considerou, dependerá da evolução da dívida.

Campos Neto destacou mais uma vez a falta de debate sobre ajuste fiscal nas eleições norte-americanas.

Os Estados Unidos, contudo, não estão sozinhos ao não prestarem a devida atenção aos riscos fiscais. “A preocupação a médio prazo é a grande dívida global e nenhum país fala em ajuste fiscal”, disse Campos Neto.

Ainda relativamente aos EUA, o presidente do Banco Central disse que as principais propostas dos candidatos Kamala Harris e Donald Trump são inflacionárias.

“Não há nenhum sinal de que os Estados Unidos queiram controlar ou fazer ajustes na política fiscal… Está a ficar claro a nível mundial que a dívida global e dos Estados Unidos é muito elevada”, disse o banqueiro central. Tanto a direita como a esquerda, destacou ele, mudaram o seu discurso para uma abordagem fiscal mais expansionista.

China

Campos Neto afirmou ainda que há uma grande rejeição ao novo modelo económico da China, baseado no aumento da oferta e das exportações. Ele observou que o novo modelo da China, fortemente baseado em automóveis e eletrificação, tem aumentado as restrições comerciais contra o país asiático “quase exponencialmente”.

Segundo Campos Neto, a barreira é elevada para os governos e bancos centrais resgatarem a economia global, dado o aumento de 25% na dívida global em dois terços durante a pandemia, quando o custo da dívida também triplicou. Fora isso, há volatilidade nos mercados devido ao receio muito forte de uma desaceleração mais forte nos Estados Unidos.

Nesta sexta, a imprensa pôde acompanhar remotamente o discurso do presidente do BC, mas a transmissão oscilou bastante. Parte da palestra não foi transmitida em tempo real devido a problemas técnicos.

A transmissão da palestra foi marcada por diversas falhas, que muitas vezes nos impediram de acompanhar integralmente o raciocínio do chefe do BC.