A seca e as chuvas irregulares tiveram forte impacto na agricultura de Mato Grosso do Sul. Projeção feita pela reportagem do Correio do Estado, orientada por dados disponibilizados pelo relatório do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS) e por consultoria técnica de agentes do setor, aponta perdas de mais de R$ 10,3 bilhões no ano 2023/ Safra 2024.
Dados divulgados ontem pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), mostram que apenas a segunda safra de milho sofreu redução de 40,52% em relação à anterior. No ciclo 2022/2023, a produção de milho foi de 14,220 milhões de toneladas no MS. Na safra 2023/2024, a produção foi de 8,457 milhões de toneladas – 5,763 milhões de toneladas a menos.
Um saco de milho de 60 kg foi vendido ontem pelo preço médio de R$ 51,19. Considerando que 5,763 milhões de toneladas equivalem a 96,050 milhões de sacas, o prejuízo estimado é de R$ 4,9 bilhões.
A área produzida de milho atingiu 2,102 milhões de hectares, queda de 10,7% em relação aos 2,355 milhões de hectares colhidos no ciclo anterior. A produtividade média no ciclo atual foi de 67,05 sacas por hectare, uma redução de 33,37% (33,59 sacas a menos) em relação ao ano anterior, quando foram colhidas 100,64 sacas/ha.
“Mais de 50 cidades do MS produziram abaixo da média. A situação dos produtores rurais, que já não era das melhores com a primeira safra 2023/2024, piorou com a colheita do milho. Muitos agricultores solicitaram a renegociação de dívidas com os bancos para que pudessem ter fôlego para a primeira safra 2024/2025”, afirma o presidente da Aprosoja-MS, Jorge Michelc.
As baixas precipitações entre janeiro e julho resultaram em redução significativa do potencial produtivo, afetando os períodos fenológicos mais suscetíveis ao estresse hídrico.
“A produtividade média de 67,05 sc/ha impacta diretamente o fluxo de caixa dos produtores, dificultando o investimento em suas propriedades e a manutenção da sustentabilidade no cultivo. Ao comparar os dados do custo de produção, que é de 122 sc/ha para cobrir todas as despesas, fica claro que o produtor que começou a plantar milho como abertura para a área de soja está completamente descapitalizado”, finaliza Michelc.
SOJA
Como já mencionado por Correio Estadual Em maio deste ano, a colheita de soja 2023/2024 já havia sido prejudicada por condições climáticas adversas. Dados consolidados divulgados pela Aprosoja-MS mostraram que o Estado passou de uma produção recorde de 15,007 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 12,347 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2023/2024 – uma redução de 2,660 milhões de toneladas.
O preço médio da saca de soja de 60 kg foi vendido ao preço médio de R$ 123,75 no período de fechamento da colheita, considerando que 2,660 milhões de toneladas equivalem a 44,333 milhões de sacas de soja. Levando em conta o preço médio da saca, os produtores de MS perdem um faturamento de cerca de R$ 5,4 bilhões.
Somando a primeira e a segunda safra 2023/2024, é possível afirmar que os produtores rurais de Mato Grosso do Sul deixarão de faturar R$ 10,3 bilhões com a agricultura no ciclo.
O coordenador técnico da Aprosoja-MS, Gabriel Balta, avalia que as duas últimas safras foram desafiadoras para os produtores rurais, devido às condições climáticas: “O cultivo da soja e do milho no Estado está se tornando cada vez mais desafiador, e o cenário atual não é para amadores.”
PRÓXIMO CICLO
Conforme já noticiado na 14ª edição do Correio do Estado, mesmo com um cenário climático desafiador, Mato Grosso do Sul planeja mais uma super colheita de soja.
Dados divulgados pela Aprosoja-MS indicam que a safra 2024/2025 terá aumento de 13,2% na produção e poderá colher a segunda maior safra da história, com 13,9 milhões de toneladas.
O plantio de soja foi liberado a partir do dia 16. A Aprosoja-MS explica que a área destinada ao cultivo da oleaginosa será de 4,5 milhões de hectares, um aumento de 6,8% em relação à safra 2023/2024, quando foram destinados 4,2 milhões de hectares no Estado. A produtividade estimada é de 51,7 sacas por hectare, aumento de 5,9% em relação ao ciclo anterior.
Para o chefe da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, a projeção da colheita pode ficar abaixo do esperado.
“Essa projeção de 4,5 milhões de hectares é baseada no ritmo de crescimento dos últimos anos, mas não temos perspectiva de repetir esse desempenho no curto prazo. Então, o cenário que olhamos e vamos acompanhar daqui para frente é se a previsão vai se confirmar”, esclareceu.
Ele destaca ainda que a colheita será repleta de inúmeros desafios: “Há realmente um conjunto de fatores de risco para a próxima colheita. Vamos acompanhar esse número junto à Aprosoja-MS para ver se caminha para um crescimento ou para uma certa estabilidade”.
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