O dólar fechou com forte queda de 1,34% nesta terça-feira (24), a R$ 5.460, impulsionado pelo maior pacote de estímulo econômico anunciado na China desde a pandemia.
No cenário doméstico, destaques foram a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e discursos do presidente da autoridade, Roberto Campos Neto, em evento em São Paulo.
A bolsa subiu 1,21%, aos 132.155 pontos, impulsionada também pela forte alta das ações da Vale.
A China anunciou um conjunto de medidas para tirar a economia do seu actual estado deflacionário e voltar a atingir a meta de crescimento do governo.
O presidente do Banco Central Chinês, Pan Gongsheng, disse que reduzirá a quantidade de dinheiro que os bancos mantêm em reserva para injetar estímulo na economia.
Isso virá de um corte na taxa de compulsório – percentual arrecadado pelos Bancos Centrais de cada depósito feito pelos clientes de um banco – em 0,5 ponto, o que liberará cerca de 1 trilhão de yuans (R$ 790 bilhões) para novos empréstimos.
Dependendo da situação de liquidez do mercado no final deste ano, a taxa de reservas obrigatórias poderá sofrer uma nova redução entre 0,25 e 0,5 pontos percentuais, disse Pan.
O Banco Central Chinês também reduzirá algumas taxas de juro para injetar mais recursos na economia e reduzir os custos dos empréstimos. Foram também anunciadas medidas que visam impulsionar a compra de ações e o setor imobiliário.
Embora o governo não tenha divulgado quando as medidas entrarão em vigor, a medida marca a mais recente tentativa das autoridades de restaurar a confiança na segunda maior economia do mundo, depois de uma série de dados decepcionantes terem levantado preocupações sobre uma desaceleração estrutural prolongada.
O pacote levou a uma melhoria na percepção global do consumo da China, maior importador de matérias-primas do planeta, impulsionando ativos em diversos mercados, incluindo ações e moedas de países com relações comerciais profundas com o gigante asiático – como Brasil e outros exportadores de commodities de mercados emergentes.
O minério de ferro registrou a maior alta diária em um ano, de 4,64%, cotado a US$ 99,38 por tonelada. Na bolsa brasileira, a Vale disparou 4,88% em resposta. A CSN ainda ganhou 9,38%, seguida pela Usiminas (7,67%).
“O pacote da China surpreendeu todo o mercado. O país é um grande consumidor de commodities, e o Brasil tem, entre seus principais produtos exportados, justamente commodities, como minério de ferro e petróleo”, afirma Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investments.
Os ativos brasileiros ainda ganharam impulso com a divulgação da ata da última reunião do Copom, realizada na última quarta-feira (18).
Ao decidir por unanimidade elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o comitê optou por não dar indicações sobre os próximos passos da política monetária do país diante de um conjunto de incertezas no horizonte.
O painel considera que o aumento das projeções de inflação no médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador e que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica dificulta o processo de convergência da inflação à meta.
A meta perseguida pelo BC é de 3%, com faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isto significa que o objetivo é considerado alcançado se oscilar entre 1,5% (mínimo) e 4,5% (teto).
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2026 é de 3,5% (era 3,4% em julho). Esse é o prazo acertado hoje pelo BC para a convergência do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Além disso, a ata trouxe uma avaliação um pouco mais dura da política fiscal, classificada pelo BC como expansionista. No entanto, disse ter incorporado nos seus cenários uma desaceleração da taxa de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
“Uma política fiscal credível, baseada em regras previsíveis e transparência nos seus resultados, aliada à prossecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o quadro fiscal nos próximos anos são elementos importantes para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prémios de risco sobre ativos financeiros, impactando consequentemente a política monetária”, afirmam os diretores no documento.
Falando durante evento no Banco Safra esta manhã, Roberto Campos Neto reforçou a pontuação da ata sobre gastos públicos.
Sua percepção é que o governo Lula (PT) terá que conter gastos para se adequar às metas fiscais dos próximos anos. “O próprio quadro força uma redução nas despesas fiscais. Quanto [será cortado] Não arriscamos colocar, mas entendemos que haverá desaceleração nos gastos. E isso já está nas nossas projeções”, disse ela.
Na análise da equipe macroeconômica do Itaú, a ata do comitê “deixou clara a mensagem de coesão entre os membros do comitê em relação ao início gradual do ciclo de aperto e demais aspectos do cenário” e que a meta de inflação de 3% será integralmente perseguida, “indicando que não há inclinação para utilização das faixas de tolerância”.
A previsão do banco é que o próximo movimento do Copom seja de alta de 0,50 ponto percentual.
Os mercados agora mantêm a agenda da semana no radar, com dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos esperados para quarta e sexta-feira, respectivamente.
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