A mensagem mais dura do Banco Central sobre política fiscal, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), foi recebida pela equipe econômica como um endosso aos planos dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
As equipes dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet têm defendido uma agenda de revisão e contenção estrutural dos gastos públicos, mas enfrentam ventos contrários da ala política do governo.
No documento divulgado nesta terça-feira explicando a decisão de elevar os juros para 10,75% ao ano, o BC avançou seu alerta sobre a política fiscal em relação às comunicações anteriores. O Copom classificou a política fiscal como expansionista e ressaltou que uma política fiscal confiável, previsível e transparente é importante para impulsionar as taxas de juros.
Apesar do tom mais pesado, o BC deixou claro que considera atualmente em seus cenários de inflação uma desaceleração do ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo, em linha com a trajetória traçada pela equipe econômica.
“Uma política fiscal credível, baseada em regras previsíveis e transparência nos seus resultados, aliada à prossecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o quadro fiscal nos próximos anos são elementos importantes para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prémios de risco sobre ativos financeiros, impactando consequentemente a política monetária.”
Dentro do próprio BC, há indícios de que a intenção pode ter sido “apoiar” a agenda da equipe econômica quanto à necessidade de medidas que reforcem o compromisso com o quadro fiscal, e não uma cobrança.
Em evento na manhã desta terça-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, avaliou que o mercado está mais apreensivo com a trajetória da dívida e, mais recentemente, com a transparência dos números das contas públicas. Mas considerou que o movimento de reação na curva de juros futura parecia “exagerado”, especialmente considerando a dificuldade que outros países enfrentam na contenção fiscal.
— Nossa percepção é que parece um exagero diante do ocorrido. Não é nossa função julgar os preços de mercado, mas sim compreender que informações os preços de mercado possuem que podemos utilizar na nossa função de reação.
A manifestação do BC ocorre em um momento de crescente mau humor no mercado financeiro em relação à gestão das contas públicas. A avaliação mostra a baixa disponibilidade do governo para cortar despesas, o que coloca em risco a sustentabilidade do quadro fiscal e da dívida pública. Além disso, recentemente, algumas medidas adotadas levantaram um alerta sobre lacunas nas regras tributárias.
Houve críticas do mercado, por exemplo, em relação à liberação de R$ 1,7 bilhão do Orçamento, mesmo num contexto de aumento de despesas.
Com a previsão de aumento da receita, o governo desfinanciou R$ 3,8 bilhões, embora tenha aumentado o bloqueio, devido ao crescimento das despesas obrigatórias, em R$ 2,1 bilhões. No total, o congelamento orçamentário caiu de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões.
Considerando os R$ 40,5 bilhões em créditos extraordinários que estão fora da contabilização da meta, a projeção para o resultado primário é de R$ 68,8 bilhões.
Descontadas essas despesas, principalmente relacionadas ao combate aos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, a projeção é de R$ 28,3 bilhões, ainda muito próximo do limite inferior da meta, de R$ 28,8 bilhões.
Membros da equipe econômica argumentam, porém, que não têm poder para manter o contingenciamento caso as previsões indiquem resultado primário dentro da meta, por imposição do orçamento.
Sobre os créditos extraordinários, afirmam que só poderão ser cancelados no final do ano, o que deverá acontecer, por exemplo, com o valor de R$ 7,5 bilhões destinado à compra de arroz, cujo leilão foi cancelado.
Outro fator que causa desconforto no mercado é a proposta de reformulação do auxílio ao gás, que permite que o programa seja financiado fora do Orçamento.
Somam-se a isso as preocupações com a velocidade de crescimento das despesas obrigatórias.
Entre os auxiliares de Haddad, há reconhecimento da necessidade de fazer cortes estruturais nas despesas para manter o quadro fiscal de pé, especialmente a partir de 2027.
Nesse ano, a previsão é de redução dos gastos com investimentos e manutenção do setor público a níveis insustentáveis, devido ao crescimento dos gastos obrigatórios.
Por isso, Finanças e Planejamento tentam montar um discurso em defesa do corte de despesas consideradas ineficientes para que dêem lugar a outras despesas. É uma forma de manter o quadro em pé e remover o risco fiscal do horizonte.
Como mostrou O Globo, o governo estuda implementar políticas mais eficientes para o BPC, seguro-desemprego e abono salarial.
Na avaliação dos assessores, é preciso convencer a ala política do governo e do Congresso da necessidade de avançar nessa agenda. E o custo do adiamento de medidas ou mudanças é maior.
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