A guerra jurídica pelo controle acionário da fábrica de celulose Eldorado, em Três Lagoas, viu desde a última sexta-feira duas novas e importantes batalhas entre a brasileira J&F e a indonésia Paper Excellence. Em ambos os casos, os irmãos Wesley e Joesley Batista saíram vitoriosos.
Mesmo assim, não há previsão para o fim dessa disputa e o início de investimentos de cerca de R$ 25 bilhões na expansão da indústria, anunciados em abril deste ano, durante visita do presidente Lula a Campo Grande.
Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, o presidente do tribunal arbitral da disputa bilionária, Juan Fernández-Armesto, renunciou nesta segunda-feira (23) ao cargo denunciando ameaças “diretas” e “graves” do governo Batista companhia dos irmãos. Outro árbitro responsável pela avaliação do litígio, Paulo Mota Pinto, também renunciou por avaliar que os limites para a viabilidade da arbitragem foram “amplamente ultrapassados”.
Antes disso, na última sexta-feira (20), o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) já havia suspendido a arbitragem, dando vitória à J&F. O juiz João Batista Silveira também deu sinal verde para que o banco Itaú, agente depositário da Eldorado, devolva à empresa a carteira acionária da empresa e o valor pago pela Paper Excellence na venda malsucedida.
Em setembro de 2017, a J&F vendeu a Eldorado para a Paper, empresa do indonésio Jackson Wijaya, por R$ 15 bilhões. O papel depositou cerca de R$ 3,7 bilhões, mas o negócio nunca foi concretizado.
E, com a disparada dos preços da celulose e as vitórias que os irmãos Batista alcançaram nas ações da Lava Jato, desistiram da venda, mas o Papel insiste em assumir o controle do setor.
AMEAÇAS
Em sua carta de demissão, segundo reportagem do jornal carioca, Fernández-Armesto cita declaração da defesa da J&F em que os advogados “lembram” que os árbitros estão sujeitos aos crimes de desobediência, prevaricação e abuso de autoridade e sustenta que o a conduta do tribunal arbitral, “na figura do seu presidente”, “viola a Lei do Abuso de Autoridade”, e argumenta que o sistema jurídico internacional não prevê um mecanismo de proteção aos árbitros.
Segundo o presidente do tribunal, a ofensiva da J&F começou depois de a arbitragem ter ganho o caso aos indonésios pelo controlo da Eldorado numa decisão parcial em Fevereiro de 2021, mas a nova ameaça “brutal” comprometeu a sua capacidade de arbitrar livremente no caso. A briga entre as empresas, que envolve uma disputa no valor de R$ 15 bilhões, acontece desde 2019.
J&F tenta anular o tribunal arbitral na Justiça. Fernández-Armesto liderou a arbitragem desde o início do litígio.
Em resposta à decisão do presidente do tribunal de renunciar, o árbitro Paulo Mota Pinto também apresentou uma carta de demissão criticando duramente a postura da J&F no caso.
“Existem limites à viabilidade da instituição da arbitragem, que no presente caso foram, no que diz respeito ao presente tribunal arbitral, largamente ultrapassados”, escreveu Mota Pinto.
“De qualquer forma, as ameaças dirigidas ao tribunal arbitral e o profundo respeito e total solidariedade devidos ao presidente do tribunal arbitral impedem-me de continuar a exercer as funções de árbitro no presente processo, funções para as quais entendo ter resta a partir de agora para poder.”
Mota Pinto foi chamado à arbitragem em agosto de 2021 após a demissão do jurista Anderson Schreiber, que havia sido indicado pela Paper Excellence e deixou o tribunal após uma série de acusações de parcialidade por parte da J&F.
Procurada pelo jornal O Globo, a J&F não comentou as baixas no tribunal arbitral.
Em comunicado, a Paper Excellence lamentou o episódio e acusou a rival de utilizar “ameaças criminais contra alguns dos árbitros mais reconhecidos a nível mundial, forçando a demissão destes profissionais altamente qualificados” e de desrespeitar contratos “e decisões que lhe sejam contrárias, agindo sem a devida seriedade e ética nas suas relações comerciais”.
Na prática, com as duas demissões, resta apenas um membro do tribunal arbitral, Luiz Henrique de Andrade Nassar, que assumiu em 2022 o lugar de José Emilio Nunes Pinto, que também deixou o tribunal arbitral após a empresa dos irmãos Batista questionar sua imparcialidade na o caso.
A suspensão da arbitragem pelo Tribunal e a renúncia de Fernández-Armesto e Mota Pinto representam um sério revés para a Paper Excellence na disputa com a J&F pela Eldorado.
Nota de Excelência em Papel na íntegra
Neste episódio mais lamentável, a J&F, mais uma vez, utilizou ameaças criminais contra alguns dos mais reconhecidos árbitros do mundo, forçando a demissão destes profissionais altamente qualificados que atuam nas principais disputas empresariais do mundo. Anteriormente, outros dois árbitros, inclusive aquele indicado pela própria J&F, também renunciaram após terem suas reputações atacadas sem qualquer fundamento real. Isso apenas confirma que a J&F desconsidera contratos e decisões que lhe são contrárias, agindo sem a devida seriedade e ética nas suas relações comerciais.
Desde 2017, a Paper Excellence está comprometida em resolver uma disputa comercial de forma transparente, com total respeito às leis e à justiça brasileira. Nesse período, obtivemos vitórias indiscutíveis com base no mérito, tanto na arbitragem quanto nas demais instâncias judiciais.
A J&F, ciente de que não tem chance de vencer legalmente a disputa, recorre a todos os tipos de dispositivos processuais morosos e enganosos para adiar a sua inevitável derrota. Essas ações não apenas questionam o devido processo legal, mas também prejudicam a imagem do Brasil no exterior e abalam a confiança dos investidores no país.
A Paper Excellence continua comprometida com a legalidade, a transparência e o fortalecimento do setor de celulose no Brasil. Continuamos confiantes de que a verdade prevalecerá e as instituições do país continuarão a garantir um ambiente de segurança jurídica e previsibilidade que caracteriza a história brasileira.
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