O Banco Central reforçou a mensagem sobre a condução das contas públicas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira. No documento, o BC classificou a política fiscal como expansionista e ressaltou que é importante conduzir a política monetária com uma política fiscal confiável, previsível e transparente. Apesar do tom mais pesado, o BC deixou claro que considera atualmente em seus cenários de inflação uma desaceleração do ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo, em linha com a trajetória traçada pelo governo.
A política fiscal está no foco dos especialistas do mercado financeiro e de contabilidade pública, que veem a baixa disposição do governo em cortar gastos, o que coloca em risco a sustentabilidade do quadro fiscal. Além disso, recentemente, algumas medidas adotadas levantaram um alerta sobre lacunas nas regras tributárias.
“Uma política fiscal credível, baseada em regras previsíveis e transparência nos seus resultados, aliada à prossecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o quadro fiscal nos próximos anos são elementos importantes para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prémios de risco sobre ativos financeiros, impactando consequentemente a política monetária.”
A ata traz detalhes sobre a discussão do Copom na semana passada. Na ocasião, o conselho retomou o ciclo de aumento da taxa Selic, com alta de 0,25 ponto percentual, passando de 10,50% para 10,75% ao ano.
Apesar de mais duro na política fiscal, o BC mostrou ter uma visão mais favorável do cenário externo, em meio ao início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. Na ata, o Copom destacou que o cenário externo continua desafiador, “mas parece mais benigno do que na reunião anterior”.
O painel, no entanto, destacou que “não existe nenhuma relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juro interna, nem entre a taxa de câmbio e a determinação interna da taxa de juro”.
No comunicado sobre a decisão, o BC destacou que o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, aumento nas projeções de inflação e expectativas de inflação distantes da meta. Isso, segundo o Copom, exige “uma política monetária mais contracionista” – com Selic mais alta.
O hiato positivo indica que a economia está operando acima da sua capacidade, geralmente com plena utilização dos recursos (mão-de-obra e capital), o que pode gerar pressões inflacionárias.
O Copom não vê cenário de superaquecimento da economia desde junho de 2015. A revisão vem depois de outra surpresa com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 1,4% no segundo trimestre.
Para os economistas, esta foi uma das principais novidades na mensagem do BC e o vetor preponderante para o aumento da projeção da inflação.
A atual projeção de inflação do BC para o primeiro trimestre de 2026, período em que pretende alcançar convergência à meta, passou de 3,4% para 3,5% no último Copom, mesmo considerando uma trajetória de Selic, extraída do Boletim Focus, superior . A meta é de 3,0%, com faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Sobre os próximos passos, o BC deixou claro que iniciou um ciclo de aumento dos juros, mas não quis se comprometer com o ritmo de aumento nem com a magnitude total do ajuste, deixando a porta aberta para novos aumentos.
“O ritmo dos futuros ajustamentos das taxas de juro e a magnitude total do ciclo que agora se inicia serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação para a meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, especialmente das componentes mais sensíveis à actividade económica e política política monetária, projeções de inflação, expectativas de inflação, hiato do produto e equilíbrio de riscos.”
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