Após elevar a taxa Selic pela primeira vez no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central deve detalhar os motivos que o levaram a tomar essa decisão na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada nesta terça-feira. Terça-feira.
A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, subiu 0,25 ponto percentual na semana passada, passando de 10,50% para 10,75% ao ano. O BC também pode dar sinais sobre os próximos passos do ciclo de elevação dos juros.
A decisão de aumentar para 10,75% foi unânime no colegiado, hoje liderado pelo presidente Roberto Campos Neto. O movimento de aperto da Selic coincidiu com a primeira reunião após a nomeação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para a presidência do órgão no próximo ano —ele ainda será questionado e precisará ter seu nome aprovado pelo Senado.
Lacuna positiva
No comunicado sobre a decisão, o BC destacou que o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, aumento nas projeções de inflação e expectativas de inflação distantes da meta. Isso, segundo o Copom, exige “uma política monetária mais contracionista” – com Selic mais alta.
O hiato positivo indica que a economia está operando acima da sua capacidade, geralmente com plena utilização dos recursos (mão-de-obra e capital), o que pode gerar pressões inflacionárias.
O Copom não vê cenário de superaquecimento da economia desde junho de 2015. A revisão vem depois de outra surpresa com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 1,4% no segundo trimestre.
Para os economistas, esta foi uma das principais novidades na mensagem do BC e o vetor preponderante para o aumento da projeção da inflação. Portanto, espera-se que a ata forneça maiores esclarecimentos sobre a visão a respeito do hiato colegiado.
Projeção de inflação
A atual projeção de inflação do BC para o primeiro trimestre de 2026, período em que pretende alcançar convergência à meta, passou de 3,4% para 3,5% no último Copom, mesmo considerando uma trajetória de Selic, extraída do Boletim Focus, superior . A meta é de 3,0%, com faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Dado que foi um fator determinante, acho que valeria a pena o BC esclarecer mais o que está vendo em relação ao gap, para trazer mais cor, independente do número em si — disse a economista Andrea Damico, sócia-fundadora da a consultoria Buysidebrazil.
Os detalhes, em ata, das discussões do Copom da semana passada também podem dar indícios sobre o plano de voo do BC nas próximas reuniões. O conselho se reúne novamente em novembro.
No comunicado, o BC deixou claro que iniciou um ciclo de aumento dos juros, mas não quis se comprometer com o ritmo de aumento nem com a magnitude total do ajuste, deixando a porta aberta para novos aumentos.
“O ritmo dos futuros ajustamentos das taxas de juro e a magnitude total do ciclo que agora se inicia serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação para a meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, especialmente das componentes mais sensíveis à actividade económica e política política monetária, projeções de inflação, expectativas de inflação, hiato do produto e equilíbrio de riscos.”
A avaliação de parte do mercado financeiro é que a projeção de inflação em 3,5% e o tom duro do BC no comunicado já dariam espaço para um aumento maior da Selic, de 0,50 ponto percentual, em vez de 0,25pp. .
A aceleração do ritmo de aperto já é a expectativa majoritária do mercado para a próxima reunião. Dependendo da sinalização do BC na ata, a aposta também poderá ser ajustada pela magnitude total do aumento da taxa.
Consenso
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a decisão pelo 0,25 p.p. na semana passada pode ter sido por uma tentativa de buscar consenso entre os diretores do BC, o que deve ficar claro em ata. O colegiado tenta recuperar a credibilidade após a “cisão” no Copom em maio, que dividiu membros indicados por Lula e aqueles que já integravam a comissão no governo Jair Bolsonaro.
Na opinião de Andrea Damico, se o BC já discutiu um aumento de 0,50 p.p. na semana passada, as chances de aceleração do ritmo de alta em novembro aumentam ainda mais. Já espera um aumento dessa magnitude, para 11,25%, e que o ciclo total seja de 1,50pp, para 12%.
O ciclo total dependerá, na sua opinião, do comportamento da taxa de câmbio. O BC fez os cálculos para a inflação com dólar de R$ 5,60, mas o economista acredita que o vento externo, com a redução dos juros nos Estados Unidos, é favorável para a moeda brasileira, caso não haja novas surpresas negativas no política fiscal interna.
Por isso, ele também espera maiores detalhes do BC sobre o cenário internacional. No comunicado, mesmo com o início do ciclo de corte dos juros pelo Banco Central dos EUA, o Copom pouco mudou na avaliação do cenário externo, alterando a classificação de adverso para desafiador. Em relação às questões fiscais, o BC também manteve a avaliação de que a percepção do mercado sobre a política fiscal tem afetado os preços dos ativos.
— Não estou dizendo que a política fiscal estará resolvida ou em vias de melhoria. Mas, se houver contenção de danos, existe uma força externa gigante que pode ajudar a coisa real.
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