Segundo pesquisador da Embrapa, os próximos ciclos produtivos também podem ser comprometidos
O avanço das queimadas no território mato-grossense já causou impacto bilionário no setor produtivo. Estimativas da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul) indicam que as queimadas em áreas destinadas à agricultura já geraram prejuízos de R$ 1,2 bilhão entre janeiro e o início deste mês.
Segundo a federação, a conjectura baseia-se no mapeamento dos focos de calor, revelando os valores médios da receita bruta de produção por hectare.
“O impacto econômico estimado das queimadas em áreas destinadas à agricultura no Estado é de cerca de R$ 1,2 bilhão, considerando a estimativa em relação ao mapeamento das fontes de calor entre junho e início de setembro, sem considerar as perdas em infraestrutura”, destaca o Departamento Técnico do Sistema Famasul.
Fortemente afetado pelas mudanças climáticas registradas nos últimos anos, que contribuíram principalmente para uma grave seca que resultou no aumento dos focos de incêndio, o Estado vem enfrentando desafios na manutenção de suas principais atividades, como pecuária de corte, processamento de cana-de-açúcar – açúcar para a produção de açúcar e etanol e o beneficiamento do eucalipto para produção de celulose.
FOCOS
De janeiro até agora, foram registrados quase 185 mil incêndios em todo o país, sendo 11 mil distribuídos em diferentes regiões do MS, especialmente na região do Pantanal.
Dimensionar as perdas causadas pela crise em curso é um desafio, segundo analistas, pois seus efeitos ainda não são totalmente conhecidos. Segundo o economista-chefe da consultoria MB Associados, em entrevista à Folha de São Paulo, ele destaca que o mundo precisa de ações mais concretas para evitar cenários catastróficos nos próximos anos.
“A questão climática que afecta a agricultura é a maior preocupação [econômica]. Exigirá projetos de irrigação e seguros. E o seguro rural é relativamente pouco desenvolvido no Brasil”, diz ela.
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Melo Barbosa, acrescenta que o MS vem enfrentando muitos problemas no interior, com destaque para a região do Pantanal.
“Tivemos relatos de incêndios próximos a estradas importantes, criando perigo real para os carros que trafegam nessas regiões. Como resultado dos incêndios, o Estado está ameaçado pela contaminação do ar e das águas pluviais, o que deverá afetar a economia. É um desastre, as perdas econômicas são incalculáveis e estão impactando tanto a fauna e a flora quanto a produção agrícola e industrial do Estado”, comenta.
No cálculo anual, entre os dez estados brasileiros com maior número de incêndios registrados pelo Banco de Dados de Incêndios (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Mato Grosso lidera o ranking, com 28.796 incêndios. Em seguida vêm Pará (22.076), Amazonas (16.305), Mato Grosso do Sul (10.286), Tocantins (9.162), Maranhão (8.300), Rondônia (7.161), Minas Gerais (6.191), São Paulo (5.700) e Roraima (4.672). ).
IMPACTO
Os danos já causados ao solo tornam mais graves os efeitos das queimadas na futura produção agrícola do Estado. Segundo a pesquisadora Michely Tomazi, da Embrapa Agropecuária Oeste, o acúmulo de palha na superfície do solo é muito importante, não só durante o ciclo, mas no longo prazo que o solo acumula material que mantém a atividade biológica.
“Quando ocorrem incêndios, tudo se perde na parte mais superficial do solo, afetando diretamente a biota do solo, que é muito importante na ciclagem de nutrientes e outros processos”, detalha e acrescenta.
“Os incêndios afetam diretamente a qualidade do solo e impactam o futuro ciclo produtivo. A recuperação disso vai depender de como for feito o próximo manejo, após o incêndio”, destaca o pesquisador.
Para a pecuária, Michely afirma que as áreas de pastagem terão rebrota, porém, com grande perda do material que protegia a camada superficial do solo.
“Para quem vai plantar logo após a queima, é importante plantar uma cultura de ciclo rápido, para criar cobertura morta e proteger o solo, reduzindo a perda de água por evaporação, aquecimento excessivo do solo, evitando erosão e maiores perdas”, alerta. . Michelle.
62,8%
Nos primeiros três dias deste mês, o país registou 12.252 incêndios, um aumento de 62,8% face ao mesmo período de agosto.
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