Com possibilidade de divisão entre os membros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide nesta quarta-feira (17) se mantém ou aumenta a taxa básica de juros, a Selic. A recente subida do dólar e o impacto da seca nos preços da energia e dos alimentos não deixaram claro se o conselho irá aumentar as taxas de juro básicas pela primeira vez em mais de dois anos.
No comunicado da última reunião, no final de julho, o Copom informou que o cenário econômico dentro e fora do Brasil exige cautela. De acordo com a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa básica deverá subir 0,25 ponto percentual nesta reunião e encerrar 2024 em 11,25% ao ano.
Nesta quarta-feira, ao final do dia, o Copom anunciará a decisão. A última elevação dos juros ocorreu em agosto de 2022, quando a taxa passou de 13,25% para 13,75% ao ano. Depois de passar um ano nesse patamar, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, no menor patamar desde fevereiro de 2022.
Inflação
Na ata da reunião mais recente, o Copom informou que avaliava aumento dos juros em função da valorização do dólar e do aumento dos gastos públicos. Os membros do colegiado afirmaram que o momento é “de ainda maior cautela e monitoramento diligente das condições de inflação”.
Segundo o último boletim Focus, a estimativa de inflação para 2024 passou de 4,22% há quatro semanas para 4,35%. Isso representa uma inflação cada vez mais próxima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3% para este ano, que poderá chegar a 4,5% devido ao intervalo de tolerância de 1,5 ponto.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial, ficou negativo em 0,02%, a primeira deflação desde junho de 2023. O alívio, porém, é temporário.
A inflação foi negativa em agosto devido à queda nos preços da energia, que subirá a partir de setembro devido à bandeira tarifária vermelha. Além disso, na semana passada, o ministro das Finanças, Fernando Haddad, admitiu que a seca prolongada terá impacto nos preços dos alimentos. Na altura, o ministro defendeu que o choque na oferta alimentar não deveria ser resolvido através de juros.
Nos últimos meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alimentos e serviços impulsionaram a inflação. Com isso, o IPCA acumula alta de 4,24% em 12 meses, dentro da meta para 2024, mas próximo do teto.
Taxa Selic
A taxa básica de juros é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para outras taxas da economia. A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – compra e venda de títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido em reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso impacta os preços porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Portanto, taxas mais elevadas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Com a redução da Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, incentivando a produção e o consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
O Copom se reúne a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
Meta
Para este ano, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 1,5% e o limite superior é de 4,5%. Para 2025 e 2026, as metas também são de 3% para ambos os anos, com o mesmo intervalo de tolerância.
No último Relatório de Inflação, divulgado no final de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA encerraria 2024 em 4%, mas a estimativa foi divulgada antes da alta do dólar e do impacto do período prolongado seca. O próximo relatório será divulgado no final de setembro.
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