A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) apresentou nesta quinta-feira, 12, um mapeamento dos processos judiciais abertos contra empresas brasileiras entre 2020 e 2023, apontando dados que buscam embasar o que o setor define como “contencioso predatório”. No período, o volume de ações cresceu, em média, 60% ao ano.
O estudo sugere que as estratégias empresariais por parte de escritórios e advogados que apoiam este aumento violam as normas legais. Cerca de 10% dos 400 mil processos analisados foram movidos por 20 advogados ou escritórios. Segundo dados da associação, o Brasil foi responsável por 98,5% de todas as ações judiciais contra companhias aéreas no mundo.
A presidente da Abear, Jurema Monteiro, define a situação como “alarmante”, reforçando a denúncia de que os custos da judicialização são um dos gargalos que afetam as empresas. “Precisamos de uma abordagem integrada para garantir que o crescimento do sector não seja comprometido por práticas predatórias e desproporcionais”, disse ela.
Segundo Abear, há indícios de uma estrutura que utiliza ferramentas de marketing digital para captar consumidores de forma irregular, além de envolver a compra de créditos legais e o comércio ilícito de vouchers de viagem. Os custos com litígios, principalmente por atrasos de voos, somam em média R$ 1 bilhão por ano.
A etapa de contato com passageiros iria contra os objetivos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que retirou 65 plataformas especializadas em ações judiciais contra empresas. “Mas o fato é que quando você tira um, ele renasce em outro endereço, com outro CNPJ e nome”, disse Monteiro.
Abear considera que a concentração de ações não reflete a qualidade e pontualidade das operações. Segundo dados de 2023 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), 85% dos voos chegaram no horário e 3% foram cancelados.
“Esse é, de fato, um movimento incentivado. Todo consumidor tem o direito de entrar com ações judiciais, mas o que vemos hoje é algo desproporcional, que atinge não só as empresas, mas também os consumidores, porque os custos são repassados ao passageiro” , disse Monteiro.
Medições
Na avaliação de Abear, a situação precisa da soma de diferentes frentes para ser superada. Com o Poder Judiciário e Legislativo, são esperadas definições quanto ao entendimento do dano moral presumido. Na forma atual, o cliente não é obrigado a demonstrar quais danos foram sofridos além do material – a perda de uma reunião de negócios, por exemplo.
“O simples atraso de um voo já pressupõe que o passageiro tenha sido prejudicado e necessita de indenização além do custo do serviço e de algo maior relacionado ao dano moral que sofreu vinculado àquela viagem”, afirmou Monteiro. Assim, enquanto o valor médio dos ingressos fica próximo de R$ 670, a remuneração ultrapassa os R$ 6 mil.
A partir do mapeamento de escritórios e advogados que concentram os casos, as companhias aéreas suspenderam o uso de vouchers que eram oferecidos para negociações e acabaram vendidos em mercados paralelos.
Ainda via Legislativo, Abear diz esperar mudanças para estabelecer o conceito de pretensão resistida, que consiste em incentivar soluções extrajudiciais. O governo oferece a opção de mediação de conflitos por meio do consumer.gov desde 2019, mas a opção ainda é pouco procurada.
Representantes das principais empresas brasileiras se reuniram, há um mês, com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A reunião, como mostra o Transmissão (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), teve como principal pauta a solicitação do setor para identificar soluções para o volume de litígios.
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