O setor automotivo brasileiro está preocupado com o estoque de carros híbridos e elétricos chineses que existe no país. A avaliação é do presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio Leite. Em entrevista com Poder360declarou que a estratégia de trazer veículos para o território brasileiro era uma manobra para antecipar tarifas de importação e que esse movimento poderia trazer efeitos nocivos ao mercado.
Segundo a associação, o stock de veículos chineses ronda os 80 mil, além das importações que continuam a vir da Ásia. Um número elevado de automóveis pode desequilibrar o mercado interno de veículos novos e usados e até atrasar a chegada de novos modelos ao Brasil.
“O mercado não absorve a quantidade de veículos com essas novas tecnologias”, disse Márcio. “Quando você tem uma mudança de ano para ano, é complexo ficar com estoque alto de um ano para outro, isso geralmente não acontece. Claro que cada montadora tem sua estratégia, mas normalmente as montadoras reduzem o estoque no final do ano e quando você reduz os estoques é preciso entender o preço e como será o desempenho desses veículos no mercado. Há todo um equilíbrio que precisa ser observado.”
O governo federal decidiu no final do ano passado retomar o imposto de importação de veículos híbridos e elétricos a partir de janeiro de 2024. Para carros 100% elétricos, a cobrança começou em 10%, já está em 18% e chegará a 35% em julho de 2026 . Os híbridos (movidos a combustível e energia) pagarão taxas diferentes.
Para frear a chegada de ainda mais veículos importados ao país, a Anfavea tem defendido um crescimento mais rápido do imposto de importação. Como mostra o Poder360o desejo da associação é que a alíquota chegue imediatamente a 35%. O argumento é que com a entrada em operação das fábricas das montadoras chinesas no Brasil nos próximos meses (BYD (SZ:) na Bahia e GWM em São Paulo), o estoque atual já é mais que suficiente para abastecer o mercado antes dos produtos produzidos nacionalmente. os veículos se envolvem.
Em conversa com o Poder360Márcio afirmou que o crescimento nas vendas de veículos eletrificados já era esperado e que a infraestrutura necessária para tornar mais agradável o hábito de dirigir elétrico avançou. Porém, o executivo disse que o domínio dos carros elétricos não deve se aproximar do que acontece na Europa, já que o Brasil tem uma forte indústria de biocombustíveis, uma alternativa mais sustentável de descarbonização no cenário brasileiro.
“É uma infraestrutura que evoluiu junto com o mercado. Em geral tem sido estruturante, mas os biocombustíveis são uma força gigantesca. Ninguém tem uma rede de distribuição como a nossa e o país tem que olhar para o que sabe fazer bem”, declarou.
REFORMA TRIBUTÁRIA
Márcio afirmou que a transformação do cenário tributário do país será benéfica para a indústria automotiva. Na visão do executivo, a reforma vai barrar as exportações de veículos produzidos no Brasil, pois vai desonerar a tributação sobre a produção. “É preciso passar por esse processo e certamente teremos mais competitividade nas exportações porque essa proposta vai reduzir muito o resíduo tributário”, declarou.
Apesar de ver a reforma com bons olhos, a associação ainda trava uma guerra no Congresso Nacional para retirar os automóveis do imposto seletivo. Segundo a Anfavea, a inclusão da categoria nesta tributação afastará a população brasileira de veículos e tecnologias mais recentes que visam a descarbonização.
“Algumas questões ainda precisam ser esclarecidas, como a retirada do imposto seletivo do setor automotivo, porque vai na contramão do que buscamos, que é a aceleração da renovação da frota e a descarbonização do setor”, disse Márcio.
CRISE ENERGÉTICA
Sobre a grave seca que reduziu os reservatórios de água do país e provocou o acionamento de termelétricas para abastecer o país com energia elétrica mais cara, Márcio disse que ainda é cedo para avaliar se haverá aumento nos custos de produção ou um cenário pior como como falta de energia.
Porém, o executivo confirmou que o assunto está no radar da Anfavea e que é um tema que está sendo acompanhado. “Na nossa avaliação é muito cedo para dizer que haverá impacto na indústria automóvel e qual o efeito que terá no sistema de distribuição de energia, mas é um assunto que nos preocupa e que deve ser acompanhado de perto”.
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