Por Luciana Magalhães e Allison Lampert e Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) – Novos detalhes dos últimos minutos do avião da companhia aérea Voepass que caiu em agosto serão revelados nesta sexta-feira em relatório preliminar, quando os investigadores analisarão possíveis fatores que contribuíram para o acidente, como formação de gelo e manutenção de a aeronave.
O relatório do Centro de Investigação de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) deverá mostrar o histórico do voo ATR 72-500 que, no dia 9 de agosto, matou 62 pessoas ao cair em Vinhedo (SP), disseram especialistas do setor.
O relatório final da investigação sobre as causas da tragédia poderá ser divulgado um ano após a queda do avião, que saía do Paraná e tinha como destino Guarulhos (SP).
Especialistas citaram a formação de gelo nas asas da aeronave como um fator que pode ter contribuído para a queda do avião. Alertas de gelo foram emitidos naquele dia na região entre Paraná e São Paulo. Uma inspeção do equipamento de degelo da aeronave, realizada no dia 8 de agosto e vista pela Reuters, não mostrou problemas com o aparelho.
O Aviation Herald, meio de comunicação especializado em segurança da aviação, informou que o avião turboélice voltou a voar um mês antes do acidente, após sofrer danos na cauda – evento denominado “ataque de cauda” – em março.
O ATR-72 tem um histórico de casos em que os pilotos perderam o controle da aeronave devido ao gelo, incluindo um avião que entrou em “estol” (perda de sustentação) em 2016 na Noruega. Neste caso, o piloto conseguiu recuperar o controle do avião. Em 2010, gelo e erro do piloto causaram a queda do voo 883 da Aero Caribbean, resultando na morte de 68 pessoas em Cuba.
O gravador de dados de voo pode indicar se o sistema de degelo do avião estava ligado, disse Greg Feith, ex-investigador do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes que participou da investigação sobre a queda de um ATR-72 no estado dos EUA. Americano de Indiana em 1994.
O gravador também pode indicar a presença de alertas ligados à formação de gelo e velocidade que podem causar estol, disse Eder Luiz Oliveira, professor de manutenção de aeronaves na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
INVESTIGANDO CANCELAMENTOS
Segundo dados da FlightAware, apenas dois dos 190 voos ATR 72 realizados no Brasil no dia 9 de agosto foram cancelados, ambos pela Voepass, quarta maior companhia aérea do país. Pelo menos 13 modelos diferentes da aeronave decolaram e pousaram na mesma região onde ocorreu o acidente.
Apesar do alerta de gelo, um piloto ATR da companhia aérea Azul (BVMF 🙂 afirmou que os capitães não foram avisados para evitar a região no dia 9 de agosto, mas tomaram precauções por conta própria.
Os modelos ATR geralmente possuem alças de borracha infláveis para quebrar o gelo acumulado nas asas.
As condições climáticas e do gelo devem ser discutidas em audiência em uma comissão do Congresso Nacional. Executivos de importantes companhias aéreas, pesquisadores e representantes da fabricante ATR, joint venture entre a europeia Airbus (EPA:) e a italiana Leonardo, estão convidados a participar.
“Em consulta investigativa da Câmara dos Deputados já estamos constatando que o congelamento é um problema para esta aeronave. Também vamos investigar quantos aviões passaram por esse trajeto e em quanto tempo”, afirmou o deputado federal Nelsinho Padovani (União-PR), um dos principais integrantes da comissão.
A Voepass afirmou, em comunicado, que os sistemas ATR 72-500 estão totalmente operacionais e também que a empresa segue todas as regulamentações do setor.
O Cenipa se recusou a comentar o caso antes da apresentação do relatório preliminar.
A queda do ATR em agosto chamou a atenção do mundo após os últimos momentos da aeronave — que, segundo imagens publicadas nas redes sociais, caiu praticamente na vertical em parafuso.
Três policiais que trabalharam na identificação dos corpos das vítimas deram informações sobre o que possivelmente aconteceu nos últimos momentos da fuga. Os passageiros abraçavam as pernas, como se estivessem se preparando para uma emergência. Uma mãe abraçou seu filho.
O avião caiu do céu sem qualquer movimento para frente, danificando levemente uma casa no condomínio onde caiu, disse Mauricio Freire, chefe do instituto de identificação de São Paulo, à Reuters.
“Foi a primeira vez que vi um acidente de avião como esse. Ele não escorregou, caiu ali, naquele lugar”, disse ela.
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