Sem o impacto da antecipação do décimo terceiro pagamento para aposentados e pensionistas, as contas do Governo Central (Tesouro Nacional, Seguridade Social e Banco Central) fecharam julho com déficit primário de R$ 9,283 bilhões. O valor representa uma queda real (depois da inflação) de -75,3% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Apesar da queda, o resultado foi pior do que o esperado pelas instituições financeiras. Segundo pesquisa Prisma Fiscal, divulgada mensalmente pelo Ministério da Fazenda, analistas de mercado esperavam resultado negativo de R$ 7,3 bilhões em julho.
Nos primeiros sete meses do ano, o Governo Central registrou déficit primário de R$ 77,858 bilhões. Em valores corrigidos pela inflação, o valor é 5,2% inferior ao mesmo período do ano passado, quando houve déficit primário de R$ 79,154 bilhões.
O resultado primário representa a diferença entre receitas e despesas, desconsiderando o pagamento de juros da dívida pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano e o novo marco fiscal estabelecem uma meta de déficit primário zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) para cima ou para baixo, para o Governo Central.
Ao final de julho, o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas projetava um déficit primário de R$ 28,8 bilhões para o Governo Central, equivalente a um resultado negativo de 0,1% do PIB. O valor equivale exatamente à margem de tolerância ao déficit de 0,25 ponto percentual do PIB.
Mesmo com receita recorde neste ano, o governo congelou R$ 15 bilhões do Orçamento. Dos R$ 15 bilhões congelados, R$ 11,2 bilhões foram bloqueados para não ultrapassar o limite de gastos do novo marco fiscal e R$ 3,8 bilhões foram contingenciados (cortados temporariamente) para não ultrapassar a margem de tolerância das regras fiscais.
Receitas
Na comparação com julho do ano passado, as receitas subiram, mas as despesas despencaram devido à diferença no décimo terceiro calendário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). No mês passado, a receita líquida cresceu 14,5% em valores nominais. Descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o aumento chega a 9,5%. No mesmo período, as despesas totais caíram 1,8% em valores nominais e 6% descontada a inflação.
O déficit primário ocorreu apesar da receita federal recorde em julho. Se considerarmos apenas as receitas administradas (relacionadas ao pagamento de impostos), houve um aumento de 15,5% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, já descontada a inflação.
Os principais destaques foram o aumento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), causado pelo aumento dos lucros das grandes empresas; a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), decorrente da recuperação dos impostos sobre combustíveis e da recuperação da economia; e o aumento da arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte, devido à tributação sobre fundos exclusivos, que entrou em vigor no final do ano passado.
As receitas não administradas pela Receita Federal caíram 5,8% após a inflação em relação a julho do ano passado. As maiores quedas foram causadas por concessões e permissões e dividendos de empresas estatais, cujos pagamentos não ocorreram em julho. O aumento de R$ 318,3 milhões em royalties, decorrente da valorização do petróleo no mercado internacional, evitou uma queda maior.
Despesas
Quanto aos gastos, o principal fator para a queda mensal foram os gastos com a Previdência Social, que caíram R$ 21,2 bilhões após a inflação, principalmente devido à diferença nos calendários de décimo terceiro pagamento da Previdência Social. No ano passado, o adiamento foi feito de maio para julho. Este ano, aconteceu de abril a junho.
Impulsionados pelo novo Bolsa Família, os gastos com despesas obrigatórias de controle de fluxo (que inclui programas sociais) subiram R$ 4,12 bilhões acima da inflação em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Também aumentaram os gastos com créditos extraordinários para o Rio Grande do Sul (+R$ 2,81 bilhões) e R$ 6,9 bilhões para saúde.
Os gastos com servidores federais aumentaram R$ 3,06 bilhões (+1,5%), descontada a inflação dos primeiros sete meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento foi compensado pelo pagamento de precatórios no início do ano, que reduziu o pagamento de sentenças judiciais em 36,2%, descontada a inflação.
Quanto aos investimentos (obras públicas e compras de equipamentos), o total nos sete primeiros meses do ano somou R$ 44,068 bilhões. O valor representa um aumento de 43,7% acima do IPCA em relação ao mesmo período de 2023. Nos últimos meses, essa despesa tem alternado entre períodos de crescimento e queda, descontada a inflação. O Tesouro atribui a volatilidade ao ritmo variável no fluxo das obras públicas.
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