O dólar fechou em alta de 0,18% nesta sexta-feira (30), a R$ 5,632, após leilões no mercado de câmbio realizados pelo BC (Banco Central).
O dólar fechou em alta de 0,18% nesta sexta-feira (30), a R$ 5,632, após leilões no mercado de câmbio realizados pelo BC (Banco Central).
O dia foi de alta volatilidade para a moeda norte-americana, que mudou de sinal diversas vezes ao longo da tarde. Na máxima, chegou a R$ 5.691; no mínimo, R$ 5.575.
A última sessão do mês costuma apresentar instabilidade para a taxa de câmbio devido à formação da Ptax, taxa que serve de referência para liquidação de contratos futuros. Nesta sexta-feira, em especial, a maior parte das moedas globais ainda foram pressionadas pelos dados de inflação dos Estados Unidos.
A Bolsa fechou praticamente em estabilidade, com leve queda de 0,03%, aos 136.004 pontos, também em meio à expectativa de envio do Orçamento de 2025 ao Congresso Nacional.
O BC realizou leilões de dois dólares nesta sexta-feira. A primeira foi realizada entre as 9h30 e as 9h35, naquela que foi a segunda intervenção cambial desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a autoridade monetária, foi aceita no mercado spot uma proposta no valor total de US$ 1,5 bilhão.
A medida foi anunciada na noite desta quinta-feira, após o dólar fechar com forte alta de 1,18%, a R$ 5,621, e a Bolsa de Valores cair 0,95%, aos 136.041 pontos.
Ao operar no mercado à vista, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. O valor foi referenciado à alíquota Ptax.
Contudo, o primeiro leilão não foi suficiente para conter a alta da moeda, que avançou globalmente acompanhando os dados de inflação dos EUA medidos pelo PCE, o indicador de inflação preferido do Fed.
O índice de preços de despesas de consumo pessoal subiu 0,2% no mês passado, após um ganho de 0,1% em junho, de acordo com o relatório. Os economistas previam que a inflação do PCE aumentaria 0,2%. Nos 12 meses até julho, o índice de preços PCE subiu 2,5%, igualando o ganho de junho.
“O indicador reforçou a hipótese de que o Fed deveria reduzir os juros em 0,25 ponto, e não 0,50 ponto, na próxima reunião de política monetária, o que fortalece a moeda norte-americana”, afirma Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
O PCE foi divulgado às 9h30, e o primeiro leilão foi encerrado às 9h35. O dólar acelerou sua alta logo em seguida, subindo para 1,20% por volta das 10h.
À tarde, o BC realizou a segunda operação de injeção extra no mercado para conter a alta. A autoridade monetária vendeu 15,3 mil contratos de swap cambial tradicional – cerca de US$ 765 milhões – de um total de 30 mil contratos, ou US$ 1,5 bilhão.
A venda de swaps cambiais tem efeito equivalente à negociação de dólares no mercado futuro – o segmento mais líquido do Brasil e, em última instância, o que determina os preços no mercado à vista.
Na prática, os leilões visam estimular a circulação de dólares no país, seguindo a lei da oferta e da procura: quanto mais disponível, menor o preço.
Segundo Gabriel Meira, especialista em câmbio e sócio da Valor Investimentos, o BC trabalha com dados internos desconhecidos do mercado e pode ter percebido um fluxo atípico de compras de dólares nesta sexta-feira.
Foi o que disse Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento da XP Investimentos pela manhã. As operações, segundo ele, foram realizadas para reequilibrar o “fluxo atípico” de dólares em função de um índice de mercado.
Disse ainda que o município fará mais intervenções no câmbio se necessário, destacando que a moeda está flutuando e que as ações acontecem em momentos de disfuncionalidade do mercado.
A percepção de uma flexibilização gradual por parte das autoridades dos Estados Unidos agita os mercados desde quinta-feira, após a divulgação dos dados anualizados do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre.
A economia cresceu 3% no período analisado, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previram que não haveria revisão.
O valor acelerou face aos 1,4% registados no primeiro trimestre, dissipando ainda mais os receios de que estivesse em curso um abrandamento acentuado na maior economia do mundo.
A leitura é que a economia segue forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar leves sinais de arrefecimento, está mais resiliente do que se especulava no início do mês. Isto justificaria um corte menor, de 0,25 pontos, e não de 0,50 pontos, o que traria os investidores de volta aos ativos de maior risco com mais intensidade.
O dólar também se fortaleceu face a uma série de pares de moedas, na sequência do aumento dos rendimentos dos Treasuries, obrigações do Tesouro dos Estados Unidos, que precificaram uma queda mais gradual nas taxas de juro.
Internamente, o real ainda foi pressionado pela taxa de desemprego divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pela manhã.
Em mais um sinal de aquecimento no mercado de trabalho, a taxa de desemprego caiu para 6,8% no trimestre encerrado em julho, menor nível para esse período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
“Os números indicam um sobreaquecimento do mercado de trabalho interno e alimentam ainda mais os receios de que este fortalecimento adicional do emprego possa trazer novos distúrbios inflacionários”, afirma André Galhardo, consultor económico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.
Além disso, o BC também informou que o resultado fiscal do setor público surpreendeu negativamente em julho, com a dívida pública bruta em proporção ao PIB subindo para 78,5%, ante 77,8% no mês anterior. No mês, o déficit primário foi de R$ 21,348 bilhões, muito superior à expectativa de R$ 5 bilhões negativos dos economistas consultados pela Reuters.
Os investidores também aguardam o envio do projeto de lei orçamentária anual de 2025 ao Congresso Nacional nesta sexta-feira, de olho no risco fiscal.
“Embora o mercado de trabalho e o resultado fiscal do governo consolidado ‘exijam’, na visão do mercado, novos aumentos nas taxas de juros, os dados de agosto têm se mostrado relativamente benignos e podem levar o Copom a adotar uma postura mais parcimoniosa e manter o Taxa Selic inalterada na próxima reunião, em setembro”, afirma Galhardo.
No evento da XP, Roberto Campos Neto também abordou as expectativas sobre a taxa básica de juros do país, o que ajudou a reduzir a pressão sobre os ativos domésticos. Ele disse que, se e quando houver ajuste no ciclo de juros por parte do Copom, esse movimento será gradual.
*Informações da Folhapress
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